A Oncoclínicas, rede com cerca da 60 clínicas controlada pela gestora de private equity do Goldman Sachs, vai investir US$ 50 milhões (quase R$ 200 milhões) em pesquisa para tratamento do câncer entre este ano e 2022. A rede também tem como sócios o fundo Victoria e médicos que ajudaram a fundar a companhia.
A maior parte dos recursos para pesquisa vem de capital próprio da gestora do Goldman Sachs. O Valor apurou que há três anos a Oncoclínicas já havia recebido cerca de R$ 500 milhões de investidores, cujos recursos são administrados pela gestora.
O investimento a ser feito, que equivale a R$ 40 milhões por ano, em média, até 2022, é considerado um projeto importante para os padrões brasileiros. O A.C. Camargo Câncer Center e o Hospital de Amor, atual denominação do Hospital do Câncer de Barretos , investiram R$ 17 milhões e R$ 12 milhões, respectivamente, em pesquisas no ano passado.
“Para cada R$ 1 investido em pesquisa, temos um retorno de R$ 1,7. Esse retorno vem na forma de novos investimentos e tratamentos médicos eficazes”, diz Rui Reis, diretor executivo de pesquisa do Hospital de Amor. No ranking mundial de pesquisa científica de 2018, feito pelo instituto americano Scimago, o Hospital de Amor foi considerado a instituição com maior conhecimento em pesquisa oncológica no Brasil.
Na Oncoclínicas, os estudos serão liderados por Carlos Gil, oncologista com passagens pela Rede D’Or e pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), órgão ligado ao Ministério da Saúde. O médico pretende criar, em cinco anos, um amplo banco de dados com o perfil epidemiológico dos pacientes da Oncoclínicas. A rede realiza 20 mil novas consultas oncológicas por ano, com pacientes de 11 Estados do país. É um volume maior que o realizado no Inca, que atende pacientes da rede pública, segundo Gil.
Com essas informações, a indústria farmacêutica pode, por exemplo, desenvolver medicamentosde acordo com o perfil genético de determinado grupo de pessoas.
A ideia é que, no futuro, outros hospitais, laboratórios, empresas farmacêuticas e a rede pública de saúde também possam inserir informações nesse banco e usar os dados disponíveis para desenvolver medicamentos e ajudar os médicos a adotarem os tratamentos mais adequados.
O trabalho de pesquisa da Oncoclínicas vai envolver testes de novos medicamentos em pacientes que não estiverem respondendo bem a outros tratamentos. Também será feita a relação entre o custo financeiro e a eficácia dos tratamentos.
Gil avalia que a genômica, ramo da medicina que estuda as características genéticas das pessoas, é o caminho mais eficaz para os tratamentos de câncer. Mas, antes disso, é preciso traçar o perfil epidemiológico da população brasileira. “Hoje, nossa base são os pacientes caucasianos, ou seja, americanos e europeus. Mas, o câncer de colo de útero tem maior incidência no Brasil”, afirma o oncologista.
Outro ponto destacado pelo médico é que o Brasil não tem uma política definida sobre pesquisa de tratamento do câncer, com estudos feitos de forma descentralizada por diferentes instituições. Gil defende para o país um modelo que seja um misto da linha de pesquisa japonesa, mais focada na predisposição genética da população local para o câncer, e do modelo europeu, que dá muita importância ao controle de custos. A terceira linha de pesquisa oncológica existente no mundo é a americana, com foco na busca de novas tecnologias.
O presidente da Oncoclínicas, Luiz Natel, considera a linha de pesquisa defendida por Gil a mais adequada para controlar os custos da saúde. “No Brasil, a maioria das pessoas descobre o câncer numa fase mais avançada, cujo custo é muito maior. O caminho é a prevenção e a medicina personalizada [genética]”, disse Natel. No Brasil, o número de atendimentos oncológicos cresce entre 20% e 30% ao ano.
A receita líquida da rede Oncoclínicas aumentou 33% para, R$ 792 milhões, no ano passado quando comparado com 2016. A rede conseguiu reverter o prejuízo de R$ 921 mil apurado em 2016, chegando a um lucro líquido de R$ 35,2 milhões.
Fonte: Valor Online