Uma instituição de saúde com sustentabilidade em seu DNA. Localizado em Porto Alegre (RS), o Hospital Moinhos de Vento possui mais de 90 anos de história, mas a relação com os princípios sustentáveis existe muito antes de sua inauguração, em 1927. Para se ter uma ideia, o Hospital foi implantado em um terreno com um parque vegetal. A área verde foi preservada e adaptada para as instalações do Complexo.
O superintendente administrativo do Moinhos de Vento, Evandro Moraes, revela uma história sobre esta área verde. “Durante a construção, no início do século passado, a obra foi suspensa em função da Primeira Guerra Mundial. Então, para não desmobilizar os colaboradores, foi construído um bosque, o qual nós temos até hoje. Comentamos que o bosque acabou nascendo antes do próprio hospital. Essa relação com a natureza, com a sustentabilidade, é algo muito presente em nossa trajetória”.
O Hospital está inserido em uma região central da cidade de Porto Alegre e, neste cenário, o bosque acaba se tornando um “pulmão verde” para as residências e comércios que estão em sua volta. Além disso, esta área verde, que conta hoje com mais de 700 árvores, tem grande importância na atuação do Moinhos de Ventos, servindo como um espaço de experiências para os pacientes, que são conduzidos pelos departamentos de Enfermagem e Fisioterapia.
Sempre atento às questões sustentáveis, o Hospital conta hoje com uma área de Gestão Ambiental totalmente estruturada e responsável pelo desenvolvimento verde da Instituição. A exemplo da atuação deste departamento está o projeto de implantação de um sistema para reaproveitamento de resíduos, iniciado no final de 2015.
Iniciativa inédita no país, o projeto contemplou a inauguração de uma Central de Transformação de Resíduos, em março de 2017. Na unidade ocorrem a coleta, a triagem e o tratamento do que foi descartado. O resíduo passa a ter um destino ambientalmente correto, socialmente justo e economicamente viável.
“Essa relação com a natureza, com a sua sustentabilidade, é algo muito presente em nossa trajetória”, Evandro Moares, superintendente administrativo do Moinhos de Vento.
“Nosso planejamento sempre foi baseado na redução do encaminhamento dos resíduos gerados para aterro sanitário e, como consequência, o melhor manejo destes resíduos internamente, transformando-os em matéria-prima e fazendo com que grande parte destes resíduos retornem para cadeia produtiva após serem transformados na indústria em insumos, como sacos de lixo, papel higiênico, adubo orgânico entre outros”, explica Rogério Almeida da Silva, responsável pela área de Gestão Ambiental do Hospital Moinhos de Vento.
Implantação
Antes da implantação do sistema para reaproveitamento de resíduos, o Moinhos de Vento já adotava uma prática usual no segmento, encaminhando tudo para aterros sanitários. Hoje, as 2 mil toneladas anuais de resíduos gerados no Hospital passaram a ser tratadas e reaproveitadas em subprodutos na própria Instituição.
A aplicação deste sistema foi possível, pois a área de Gestão Ambiental, liderada pelo gestor Rogério Almeida da Silva, identificou a possibilidade de realização da triagem do material com potencial de reciclagem, dos restos alimentares destinados para a compostagem e ainda a esterilização de resíduos infectantes – tudo no próprio Hospital. “O método de implantação do projeto foi estruturado por nosso escritório de projetos administrativo, utilizando as melhores ferramentas existentes hoje para planejamento estratégico”, acrescenta.
Para montar a estrutura, foram adotados sistemas existentes e consolidados em outros mercados. Na construção da unidade, que recebeu o maquinário para as diferentes etapas do processo, foi investido R$ 1,5 milhão. A nova unidade aprimorou a distribuição logística e os fluxos internos, facilitando os acessos e simplificando a movimentação. A Central também abriu vagas diretas de emprego.
“Quanto a infraestrutura, ganhamos nova área de quase 300m², que nos proporcionou realizar a transformação de parte dos resíduos gerados, reduzindo o volume dos resíduos a serem acondicionados. Não se trata de reaproveitamento de resíduos, e sim da transformação destes em matéria-prima, entregando para reciclagem e retornando para a instituição como insumo”, explica Silva.
Sobre o processo de implantação, o responsável pela área de Gestão Ambiental do Hospital explica que entre os desafios destaca-se o de “convencer as pessoas e os órgãos públicos de que este projeto se tratava de responsabilidade plena por todo o gerenciamento de resíduos internamente, e que se tratava de implantação de tecnologias até então novas para instituições de saúde, utilizando métodos industriais de processamento de resíduos”.
Segundo Silva, essas dificuldades foram superadas à medida em que todos foram participando do projeto e vendo que os benefícios eram muito maiores do que o método convencional de destinação de resíduos.
“Essa preocupação e compromisso com a sustentabilidade ambiental do nosso meio remete ao Hospital Moinhos de Vento a assumir em seus projetos, para o próximo ano, a certificação do hospital na norma ISO 14001. Isso nos estabelecerá na vanguarda de quem atua em benefício das novas gerações, ratificando assim nossa missão, que é cuidar de vidas”, conclui o superintendente executivo.
A iniciativa já mostra vantagens para o ambiente. Papéis e papelões descartados são encaminhados para transformação em papel higiênico, que retorna para uso nas áreas administrativas e de circulação da instituição. Materiais plásticos regressam na forma de sacos de lixo. Recipientes pet são enviados a uma indústria que os transforma em vassouras.
“O método de implantação do projeto foi estruturado por nossos escritórios de projetos administrativos, utilizando as melhoras ferramentas existentes hoje para planejamento estratégico”, Rogério Almeida da Silva, responsável pela área de Gestão Ambiental do Hospital Moinhos de Vento.
Lenha ecológica e gás natural
Com o objetivo de descontaminar resíduos infectantes, foi implantada a autoclavagem, que eleva a temperatura acima de 130°C em um ambiente fechado. Depois de triturado e compactado, o material abastece um gaseificador que gera gás e aquece a água utilizada na Instituição.
“O resíduo infectante, por exemplo, passa pela autoclave e se torna totalmente descontaminado. Depois, ele é picado, reduzindo o seu volume. Após essa etapa, o resíduo passa por um processo de sinterização, em que ele é novamente comprimido e transformado em uma célula de resíduo, tornando-se praticamente uma barra. O pessoal até brinca que ele se torna uma lenha ecológica”, explica Evandro Moraes, superintendente administrativo do Moinhos.
Para a compostagem dos restos alimentares, encontrou-se a alternativa de transformação em adubo orgânico. O composto é utilizado na horta que abastece a Instituição com vegetais 100% orgânicos.
“Teremos também uma nova fase do projeto. Vamos transformar a célula de resíduo em gás, que será direcionado para aquecer a caldeira do hospital e reduzir o nosso consumo de gás natural, que é trazido da Bolívia”, revela Moras.
O projeto de gaseificação a partir da trituração e compactação dos resíduos infectantes recebeu, recentemente, da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), uma licença prévia para a implantação de uma planta piloto. O documento atesta a viabilidade do empreendimento que possui tecnologia inédita no Rio Grande do Sul.
De acordo com a licença, o empreendimento ocupa uma área interna do hospital de 73m². O equipamento de gaseificação permite reunir por dia 240 kg resíduos sólidos, aquecê-los e transformá-los em gás combustível.
Outros projetos sustentáveis
Segundo Rogério Almeida da Silva, responsável pela área de Gestão Ambiental do Hospital Moinhos de Vento, a Instituição também tem investido e utilizado outras soluções que atendem aos quesitos de sustentabilidade. O edifício-garagem, por exemplo, teve redução média de 23.000 kWh/mês após ter suas lâmpadas fluorescentes substituídas por LED. Essa ação diminuiu em R$ 14 mil o custo mensal com luz.
Foi instalado também no Moinhos um dispositivo que reduz e estabiliza o fluxo de água e gera economia no consumo. Todos os 2.200 pontos – como torneiras, duchas higiênicas e chuveiros – têm estabilizadores de vazão. Com o equipamento, o jato é direcionado, controlando o fluxo em até 50% em determinados pontos.
“Realizamos também laudo fitossanitário de todos os vegetais existentes no Hospital, identificando o estado de saúde de todas as árvores acima de dois metros de altura, totalizando 759 árvores em todo o complexo hospitalar. Este laudo também reforça quais os tipos de intervenções que devemos adotar visando a preservação ambiental”, acrescenta.
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