Hospital Moinhos de Vento aposta em projeto para garantir o bom andamento da desospitalização

Nem sempre o melhor lugar para o paciente estar é dentro de um hospital. A cultura, muito prevalente no Brasil, de que a internação hospitalar é a solução ideal para um tratamento médico completo vem sendo amplamente questionada, já que, dependendo do caso, pode não ser a opção mais indicada para a recuperação do paciente.

É aí que entra a chamada desospitalização, a continuidade do cuidado em domicílio. Atento às necessidades do paciente, o Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, criou o Time de Planejamento de Alta a fim de garantir o bom andamento dessa transição. A instituição também desenvolveu uma ferramenta em seu sistema de informação que permite que o médico acione essa equipe no momento em que achar necessário, solicitando ajuda em processos que possam proporcionar a alta hospitalar mais segura ou até mesmo antecipá-la.

O Time é formado por uma assistente social e duas médicas e conta com suporte da Gerência de Enfermagem e Gerencia de Operações. O grupo ajuda a identificar pacientes com risco de longa permanência na unidade e trabalha a situação com as equipes médicas, pacientes e suas famílias. A ferramenta online foi incorporada ao projeto há cerca de um ano e vem auxiliando na comunicação entre os setores envolvidos.

“Esse sistema permite ao médico solicitar uma avaliação nossa do paciente a qualquer momento que ele julgar necessário ao longo da internação. Se ele, por exemplo, identifica pacientes em risco social, com alguma dificuldade familiar ou necessidade de suporte domiciliar maior do que a prevista pela família após a alta, é possível acionar o sistema para pedir o auxílio do nosso grupo”, explica a médica do hospital, Lisangela Conte Preissler. Segundo ela, outro trabalho preventivo que envolve visita a setores do hospital e seus pacientes, os rounds multidisciplinares, também tem ajudado a identificar situações que, por vezes, as equipes e as próprias famílias ainda não perceberam.

Rotineiramente o Time de Planejamento de Alta recebe uma planilha com as solicitações de pacientes a serem avaliados, que então recebem a visita da assistente social do projeto a fim de entender as questões e tomar as decisões pertinentes com a equipe médica e de enfermagem.

“Nessa visita, conseguimos ter um panorama do que o paciente e sua família vão precisar para ter uma alta segura. Percebemos que as famílias carecem de alguém que lhes dê um norte sobre como se organizar para receber o paciente de volta em casa, desde a necessidade de aluguel de uma cama hospitalar, de uma dieta específica, encaminhamento de documentos para a solicitação de benefícios sociais, entre outras coisas. O paciente interna e, quando sai, não sabe que terá demandas diferentes das que tinha antes de entrar no hospital. E é aí que entra nossa ajuda”, ressalta a assistente social do Moinhos de Vento, Juliana Oss.

Taxas de sucesso

Desde abril de 2017, quando o projeto foi implementado, o hospital viu as taxas de tempo médio de permanência dos pacientes nas unidades de internação caírem. No ano passado, a média era de 10 dias; de janeiro a março deste ano este tempo foi reduzido para 8,5 dias.

“Com a implantação do projeto, temos evoluído muito, com melhora dos desfechos relacionados a tempo de permanência e giro do leito. Muitas vezes as intervenções necessárias são simples, como ajudar a localizar familiares que não estão presentes, providenciar questões de suporte como nutrição parenteral, uso da sonda, orientar a família sobre os caminhos para encontrar aportes como cama hospitalar, andador e fisioterapia. Temos uma interface grande com empresas de home care, por exemplo, que nos ajudam nessa questão de suporte”, esclarece Lisangela.

Para a gerente de Enfermagem do hospital, Rubia Maestri, a alta precoce é possível a partir de uma organização da equipe multidisciplinar, que busca alinhar todas as necessidades do paciente e da família na transição para o domicílio. “Orientá-los durante a internação a respeito de todos os cuidados que serão necessários em casa evita que no dia da alta ainda existam dúvidas e, por conta disso, a saída tenha que ser postergada”.

Grupos de apoio a familiares e cuidadores

Ainda visando a melhoria das atividades envolvidas no processo de desospitalização, o Moinhos de Vento criou grupos que reúnem as famílias e os cuidadores dos pacientes para abordar temas específicos a fim de prepará-los para o pós-alta.

“O hospital desenvolveu essa rede para orientar e tranquilizar pacientes e suas famílias e mostrar que eles não estão sozinhos, que podem contar com o suporte da equipe neste momento de alta. Existem grupos multidisciplinares que apoiam em temas específicos como grupos de orientações de dieta enteral com atividades práticas e grupo de orientação para ostomizados, ensinando a forma correta de manuseio da bolsa coletora”, conta Juliana Oss.

De acordo com Rubia Maestri, a iniciativa está totalmente conectada aos padrões de acreditação que a unidade vem cumprindo desde 2002. O Padrão ACC.4 do último manual para hospitais da Joint Commission International, instituição responsável pela acreditação da unidade, cita a necessidade de o hospital começar a planejar as necessidades continuadas dos pacientes após a alta, quando necessárias, o mais cedo possível, incluindo seus familiares no processo.

“A acreditação nos mostra a necessidade de o paciente ter um plano de cuidado individualizado desde o início e nos dá ferramentas de educação robustas onde cada profissional vai registrando informações sobre o paciente durante toda a internação. Estarmos nessa jornada de acreditação há tanto tempo facilitou termos todas essas ferramentas e estrutura assistencial organizadas para implementar esse outro passo que foi a ferramenta para o controle do tempo de permanência”, explica a gerente de Enfermagem, que também faz parte do comitê de acreditação da instituição.

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