Garantir a segurança na prescrição dos medicamentos e também na administração é uma preocupação cada vez mais crescente nas instituições de saúde. E dentro desse contexto as farmácias clínicas e os profissionais que atuam nessa área têm emergido como peças importantes na busca para melhorar a qualidade da saúde e alcançar a efetividade clínica.
Protocolos, regulamentações e ações que visam garantir a segurança nessa etapa tão crucial do tratamento estão sendo cada vez mais priorizados e implementados nos hospitais. O tema “segurança na prescrição e administração de medicamentos” tem sido muito discutido ganhado repercussão também aqui no Brasil.
A farmácia hospitalar ou farmácia clínica vem passando por mudanças significativas nos últimos anos, porém como tudo na saúde, coexistem diversas realidades no Brasil. Vemos desde farmácias extremamente modernas, prestando toda a gama de serviços, até o outro extremo, com hospitais com a ausência de farmacêutico.
Imagine um hospital com 200 pacientes internados, cada um com uma prescrição, que preveja a administração de 10 medicamentos por dia. Ou seja, são cerca de duas mil prescrições diárias, no mínimo. Supondo que o objetivo seja revisar 80% das suas prescrições diárias. Quantas pessoas dedicadas seriam necessárias? Indo mais a fundo, e a complexidade disso? Imagine olhar para cada uma dessas duas mil prescrições diárias e analisar aspectos como: dose, apresentação, concentração, via de administração, posologia, diluente, velocidade de infusão, tempo de infusão, indicação, contraindicação, duplicidade terapêutica, interação medicamento-medicamento e medicamento-alimento, possíveis alergias e por aí vai. Isso porque estamos sendo modestos com relação à quantidade de prescrições e variáveis, dependendo do número de leitos da instituição e de sua complexidade.
O desafio, porém, vai além do fato de que a maioria dos hospitais dispõe de equipes pequenas para essa função. Existe uma segunda questão importante: a atualização do conteúdo de referência e a facilidade e a agilidade com que essas informações podem ser acessadas. Um acervo de livros, por questões práticas bastante óbvias, não seria a solução mais plausível nesse ambiente crítico e que exige agilidade e precisão, ao mesmo tempo. E o argumento de que os profissionais não possuem dúvidas não se sustenta. As dúvidas clínicas, sobre a melhor terapia, sobre a forma mais adequada para administrar surgem a todo tempo, independente da especialidade e dos anos de experiência. Cabe ao profissional que está à frente do cuidado ao paciente saber se ele segue prestando os cuidados mesmo com estas dúvidas. Na prática, com muita frequência, até mesmo pela urgência, muitas das decisões são tomadas por cultura, empirismo, pré-conceitos e não com base em conhecimentos, em evidências.
Nesse sentido, os recursos de suporte à decisão são importantes aliados, sustentando a participação do farmacêutico no cuidado do paciente, de forma colaborativa com o médico e melhorando a eficiência e os resultados do uso de medicamentos. Eles auxiliam na prescrição, sugerindo doses e alertando sobre possíveis interações, tudo com o intuito de otimizar o tratamento e aumentar ainda mais a segurança do paciente.
Em suma, levando em consideração o elevado volume de prescrições que ocorrem dentro das instituições, sem o apoio efetivo da tecnologia e dos recursos de suporte à decisão medicamentosa, fica bastante difícil perseguir o objetivo de se atingir 100% de avaliação das prescrições. Quanto mais bem informados e amparados pela tecnologia estiverem os profissionais da saúde mais sucesso e segurança na prescrição, avaliação, dispensação e administração de medicamentos o ecossistema de saúde terá.
- artigo escrito por Nayara Gerez, enfermeira formada pela USC e Kent State University/ USA, mestre em ciências da saúde pela UNIFESP e atualmente Customer Sucess Specialist da Wolters Kluwer Health.