Se o HC fosse um filho para Jacson Barros, já estaria apto a cuidar de si mesmo há algum tempo. Há 29 anos fazendo parte da família do Hospital das Clínicas de São Paulo, e CIO do maior centro médico da América Latina desde 2011, o engenheiro de formação admite que terá saudades do dia a dia do gigante HCFMUSP.
Agora, à frente do Departamento de Informática do SUS, o DATASUS, o objetivo após tantos anos de dedicação ao cuidado é fazer ainda mais diferença na saúde pública. A surpresa do convite inesperado não abalou a certeza de que a decisão era a certa a se tomar. “Fiquei muito contente pelo reconhecimento, mas assustado pela responsabilidade, pela magnitude do cargo dentro de um setor tão importante e polêmico no nosso país.”
Know-how
As soluções criadas por Barros levaram o HC a novos patamares: através de sistemas de informatização e convergência de informações, e unificação de vocabulário e processos. “Com o apoio da administração, conseguimos montar painéis estratégicos para a tomada de decisões corporativas e solucionar questões simples, como saber o número de leitos ocupados em tempo real.”
Novos desafios
No SUS, os desafios podem ser diferentes, mas o segredo ainda é o mesmo: modernização. “Quanto mais tecnologia disponível, maior a chance de sermos capazes de ajudar na prestação de serviços. O grande desafio é fazer isso dentro do possível. Como? Automatizando processos, melhorando os prontuários eletrônicos, convergindo dados e gerando indicadores.”
“O DATASUS precisa entender que ele é um prestador de serviços, entender as regras do Ministério, e estar sim próximo a seus usuários.”
Soluções
Pode parecer complexo, mas o novo diretor acredita que é possível reaproveitar todos os sistemas já existentes nos hospitais de todo o Brasil e reuni-los em um único banco de dados. “Não há como resolver 100% dos problemas, mas pequenas ações podem ajudar muito não só à Saúde, mas toda a cadeia.” Para isso, Barros acredita que seja necessário entender os extremos do país.
Dois pesos, uma medida
“Temos lugares com hospitais super qualificados, e temos lugares afastados que não têm sequer internet. A ideia, ao pensar em soluções, é equilibrar estes dois pontos” explica. Esta certamente não é, afirma, uma tarefa trivial; mas tampouco é impossível. “Tecnologias e recursos são realidades, é tudo uma questão de foco.”
Foi com essa perspectiva em mente que, em fevereiro deste ano, o então CIO do HC, no exercício de papel de membro da câmara técnica do Conselho Federal de Medicina, auxiliou na resolução acerca do exercício da telemedicina, em trâmite desde 2002. Nestes 17 anos, entende que muito se cresceu em relação à tecnologia e recursos que, antes, seriam impensáveis; uma verdadeira explosão digital, que a medicina não vinha acompanhando.
“Saber que há pessoas, amigos e profissionais que se espelham em você é uma grande responsabilidade.”
Tecnologia aliada
“Isso é o mínimo que podemos fazer para atender aos anseios atuais de toda a classe da saúde e alinhar com as tendências tecnológicas.” O mestre em ciências médicas acredita, no entanto, que este é apenas o primeiro passo de muitos outros que, com o tempo, se tornarão tão inevitáveis quanto este. “Poderia ser melhor? Tudo sempre poderia ser melhor! Mas com certeza novas ideias virão. O que eu entendo é que essa portaria vai impulsionar a discussão…”
Sobre a família e o dia a dia de tantos anos que ficam para trás, Jacson não nega que sentirá saudades, mas ressalta que nunca sabemos o que esperar do futuro. “Estou apenas emprestado do HC ao Ministério da Saúde.” Nesse meio tempo, admite que gostaria de ser lembrado como alguém perseverante, que sempre colocou as necessidades do Hospital à frente das suas próprias. Agora, rodeado por colegas ilustres, o diretor aceita, grato, a incubência de ajudar a definir os rumos da Saúde no país.
O Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde foi criado em 1991 a partir da criação da Funasa – Fundação Nacional de Saúde. Desde então, provê aos órgãos do SUS sistemas de informação e suporte de informática, necessários no processo de planejamento, operação e controle. Mais de 200 sistemas, que auxiliam diretamente o Ministério da Saúde no processo de construção e fortalecimento do SUS, foram desenvolvidos no decorrer desses 25 anos.