A tarefa de resumir em um texto curto a experiência vivida em uma semana de SXSW é desafiadora. À primeira vista, parece quase impossível colocar em algumas poucas linhas, uma visão razoável do que vi, ouvi e senti por ali.
Primeiramente, fiquei surpreso com o tamanho do evento, sua organização e o nível de engajamento das pessoas. Todo mundo envolvido, a cidade ligada em 220V, com as pessoas correndo de um lado para o outro, curiosas e atentas a todas as possibilidades de adquirir novos conhecimentos.
Pela minha atividade, foquei muito na trilha de saúde, mas uma conclusão trouxe como certeza, para uma possível volta no ano que vem: é importante ver tudo! Ali, nos deparamos com questionamentos sobre comportamento, tendências de tecnologia e visões de mundo que se conectam de alguma forma, em algum momento do tempo. É importante beber um pouco em cada fonte.
Vimos muita coisa que fala diretamente com o nosso mercado, de forma bem objetiva, e que nos impuseram infindáveis conversas em cafés, almoços e jantares. Muitas discussões em painéis validaram percepções e estratégias que já adotamos por aqui. Ressalto a seguir alguns dos principais pontos absorvidos, alguns repetidamente discutidos em vários painéis:
– Personalização da saúde: é imprescindível pensar em como engajar as pessoas usando suas características e comportamentos. Isso puxou várias conversas e trouxe impressões interessantes, como a de que estamos caminhando para um mundo onde os dados vêm de toda parte, especialmente de gadgets que são lançados em ritmo frenético. Mas precisamos dar um passo atrás e pensar no indivíduo como um todo. Seu ambiente familiar, de trabalho, local onde mora, renda etc.
– Data Science, Machine Learning e Inteligência Artificial: percebemos claramente que ninguém ainda tem uma fórmula de sucesso garantido, que gere impactos sistêmicos ou em escala, na saúde. Mas vai acontecer. A grande coisa é fazer de forma simples e crescer. É inevitável utilizarmos essas novas tecnologias para que consigamos dar escala a ações personalizadas.
– Design: está em tudo e por toda parte. Precisamos entender, aprender como aplicar cada vez mais design em nossas soluções. O design thinking vai tomando conta das mais diversas áreas, segmentos e aplicações.
– Engajamento: pacientes, médicos e cuidadores precisam ser engajados e precisamos explorar as novas possibilidades, conjugando design, Machine Learning e IA para falarmos no tom de voz correto, com as mensagens certas, no momento adequado, com cada pessoa.
– Privacidade de dados: a linha aqui foi, essencialmente, no caminho do empoderamento das pessoas sobre seus dados. Discutiu-se muito como a experiência do usuário tem que mudar, de forma que tenham total controle sobre quais dados estão sendo capturados, qual o destino que esperam para esses dados, o que desejam, ou não, compartilhar. Enfim, precisamos pensar em como acabar com aqueles “termos e condições de uso” que ninguém lê, e focar em uma experiência mais fluida, clara e transparente.
– Wearables, devices e real world data: temos um longo caminho a percorrer, mas os wearables, principalmente, já estão começando a abrir um novo horizonte para mudanças sistêmicas em saúde (como contribuir para medição de valor e resultado de terapias) e na indústria farmacêutica (no desenvolvimento de medicamentos).
– Saúde centrada no paciente: Essa esteve em praticamente todas as sessões. Precisamos sair de um modelo centrado em doença para um modelo centrado em saúde. E isso só vai acontecer se pensarmos no paciente, de forma ampla. Precisamos entender mais sobre as pessoas e seu comportamento de consumo (tanto em saúde como em outros aspectos de sua vida). Como tomam suas decisões? Onde vivem? Com quem? Como se alimentam? Essa era uma bela discussão. Antes de pensarmos em genômica, já temos muito espaço para evoluir olhando para o “CEP” de uma pessoa, como disse Thomas Goetz, um mestre em saúde pública, empreendedor e ex-editor executivo da Wired, em uma das sessões que vi sobre design em saúde.
Enfim, essas são algumas impressões que pude trazer e mais claramente se mostraram fortes para determinar tendências para o nosso mercado. Mas cada uma delas acaba puxando outras, que trazem outras. Para engajar os pacientes, é preciso engajar, conjuntamente, toda a cadeia de saúde – operadoras, indústria farmacêutica, distribuidoras, classe médica e pontos de venda – neste futuro que, a bem da verdade, já começou. Cenas dos próximos capítulos…
*Este artigo foi escrito por Paulo Magalhães, VP da Funcional Health Tech