A Fiocruz passa a integrar um grupo de mais 70 cientistas e instituições de 30 países em uma coalizão internacional para enfrentar a epidemia de Covid-19 em países de média e baixa renda. Lançada nesta quinta-feira (2/4), a iniciativa, batizada de Coalizão de Pesquisa Clínica de Covid-19, visa acelerar a pesquisa sobre o novo coronavírus nas áreas em que o vírus pode ocasionar estragos em sistemas de saúde já frágeis e causar maior impacto à saúde de populações vulneráveis.
Compartilhamento de dados e acesso equitativo a medicamentos, tratamentos e vacinas são os valores que guiam a coalizão. “Estes são os mesmos valores que guiam a Fiocruz, com uma visão de ciência aberta e saúde pública”, destacou a presidente da Fundação, Nísia Trindade Lima, ao demonstrar a importância da coalizão que tem entre seus objetivos gerar maior mobilização para garantir preços acessíveis.
Para os membros da coalizão, a resposta global à pandemia tem sido encorajadora. Novos e importantes financiamentos estão surgindo quase diariamente. Porém, se ambientes com recursos limitados e populações vulneráveis não fizerem parte dos planos globais de avaliar a segurança e a eficácia de novas ferramentas de diagnóstico, medicamentos, vacinas e intervenções não médicas, milhões de pessoas poderão ter acesso negado a todas estas tecnologias.
Em comentário publicado no The Lancet, os participantes argumentam que a colaboração e a coordenação internacional de pesquisa são urgentes para incluir a experiência e necessidades de países latino-americanos, africanos, do leste europeu e certos países asiáticos e assim responder efetivamente à pandemia crescente e acelerar a pesquisa adaptada para configurações com recursos limitados.
A Fiocruz foi convidada para integrar a coalizão pela Iniciativa para Medicamentos para Doenças Negligencias (DNDi). A Fundação já lidera no Brasil uma importante resposta de pesquisa à Covid-19, o estudo Solidariedade, lançado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A participação do Brasil é importante, pois são poucos os ensaios clínicos para Covid-19 planejados em países país de baixa e média renda.
“Nós temos uma história na área de pesquisa e também na produção de medicamentos e vacinas. Uma iniciativa como esta deve potencializar o desenvolvimento de um complexo industrial da saúde no Brasil. É importante lembrar que o [Sistema Único de Saúde] SUS envolve não só a produção, mas também o desenvolvimento científico e tecnológico”, afirma a presidente da Fiocruz.
Com a nova iniciativa, os conhecimentos técnicos e capacidades geradas a partir dos ensaios clínicos serão compartilhados com os todos participantes, que podem estabelecer parcerias e estender estes estudos a outros países na sua respectiva região ou nas demais. Outros membros da coalizão podem apoiar oferecendo conhecimento técnico, financiamento, materiais e outros insumos para garantir que a pesquisa seja realizada o mais rápido possível.
A coalização reúne um conjunto sem precedentes de especialistas em saúde, incluindo cientistas, médicos, institutos de pesquisa do setor público, ministérios da saúde, academia, organizações sem fins lucrativos de pesquisa e desenvolvimento, ONGs, organizações internacionais e financiadores, todos comprometidos em encontrar soluções para o Covid-19 em ambientes com recursos escassos. Entre os eles institutos de pesquisa do setor público da África e da América Latina, como o Instituto Nacional de Pesquisa Biomédica (República Democrática do Congo), o Instituto Nacional de Saúde da Colômbia, Instituto de Saúde Ifakara (Tanzânia) e o Instituto de Pesquisa Médica do Quênia (Kemri). Outras instituições ainda podem vir a se unir.
A ação coordenada fará com que todos os dados de todas as regiões possam ser coletados de maneira semelhante, reunidos e compartilhados em tempo real. Isto ajudará os países e a OMS a tomar decisões rápidas sobre políticas e práticas e baseadas em evidências científicas.
“Celebramos o lançamento desta coalizão, que tira proveito da experiência multinacional e multidisciplinar existente na execução de ensaios clínicos em ambientes com poucos recursos, e ajudará a OMS em seu papel de coordenadora na resposta global ao Covid-19”, disse a cientista chefe da Organização Mundial da Saúde, Soumya Swaminathan, “Embora o epicentro esteja hoje em outro lugar, precisamos nos preparar agora para as consequências dessa pandemia em ambientes com menos recursos ou podemos perder muito mais vidas”.