Chief Spiritual Officer – um novo executivo para tempos de transformação

Chief Spiritual Officer – um novo executivo para tempos de transformação

Ela pode até parecer filosófica, mas a necessidade pela busca de essência e coerência vem pedindo uma nova figura profissional: a do CSOou Chief Spiritual Officer (chefe executivo espiritual) – aquele que garante a preservação do espírito da empresa e de seu conjunto visão, missão e valores.

Muitas empresas nascem com um forte propósito, com uma essência definida por seu criador ou fundadores. Com o passar do tempo a salvaguarda desse centro pode se perder por inúmeros fatores: crescimento desorganizado/acelerado, mudança de visão, perda de uma liderança relevante, fusão com outras empresas, alargamento de seu escopo ou de seus produtos/serviços, pressão de um mercado voraz, entre outros fatores geradores de miopia, ou do distanciamento da essência original.

O primeiro estudioso que desenvolveu esse conceito no Brasil é Iradj Eghrari, carioca filho de iranianos, consultor, palestrante, escritor, “coach” nas áreas de “compliance”, ética, direitos e valores humanos.

Para Iradj o CSO é “aquele que preserva os princípios que garantem que a empresa não se perderá por conta de demandas do mercado, desejos pessoais ou do ego de seus gestores. Toda a empresa quando criada nasce com uma visão, missão e valores definidos por seu fundador. Esses pilares devem se manter presentes na alma do negócio e consequentemente, serem de conhecimento de seus colaboradores.”

Segundo ele o CSO não precisa necessariamente ser um acionista, fundador ou colaborador da empresa. Seu perfil, no entanto, é de alguém mais sênior uma pessoa com certa bagagem e integridade pessoal, alguém com uma ampla visão de mundo e compreensão da realidade. O CSO tem que ser um guardião dinâmico dos valores da organização, pois sabe que todas elas passam por transformações, muitas vezes impactando sua cultura. É alguém focado em promover a integridade coletiva como seu maior patrimônio. O CSO é aquele que tem a percepção da alma da empresa ou da ‘espiritualidade corporativa’ desde uma percepção mais ampliada.

É natural que a área de vendas queira vender, a produção queira produzir, e a área de compras queira atender às múltiplas demandas, mas é exatamente essa percepção compartimentada da empresa que leva, muitas vezes, à sua derrocada. Quando cada área quer fazer sua parte em detrimento das outras, perde-se a coesão, o senso de missão e sua capacidade de ver projetada sua visão no futuro, seus valores se deterioram e ela deixa de ser uma empresa que serve à sociedade.

O que mais vemos no mercado são empresas que perdem a sua razão de ser, pois se entregam de modo selvagem ao mercado. Muitos dos que agem assim tendem a não sobreviver. Pode parecer retórica, mas não é: o lucro é apenas uma decorrência da operação salutar da empresa. O CSO zela para que sua organização não caia nessa armadilha.

O propósito é revelado quando a empresa sabe aonde quer chegar, com que valores quer chegar, e como pretende servir seus clientes e a sociedade como um todo. O propósito parte do conjunto visão-missão-valores, sua busca está conectada com aquele que é o seu mercado, pois a razão de existir das corporações deixou de ser simplesmente a de produzir bens ou serviços, mas sim servir. A mudança de verbo foi fundamental. A empresa passa a perceber o seu cliente como destinatário final, pois é a ele que ela serve, seja produzindo bens ou ofertando serviços. O espírito da empresa não pode ser apenas vender, produzir ou ofertar serviços a qualquer custo. Ela tem que estar realmente alinhada aos anseios, desejos e necessidades do seu cliente. Só assim as duas almas estarão em real conexão. O papel do CSO também é o de perceber se o espírito da empresa está conectado ao espírito de seu mercado consumidor.

Como uma empresa que esteja buscando estruturar sua essência deve agir?

Falando sobre a verdade, como base ou raiz de todas as virtudes humanas. Ela é a rainha de todas as virtudes, pois como podemos conceber cooperação, honestidade, competência, etc, se não houver verdade. Em uma empresa não é diferente, se ela pretende buscar sua essência, tem primeiramente que aprimorar os mecanismos em que a verdade seja valorizada, estabelecendo assim uma cultura de transparência.

O segundo elemento fundamental é retomar a linha de tempo da organização, recordando sua visão, missão e valores, reconstituindo sua história ao mesmo tempo em que se percebe onde ela se encontra agora. E por fim, ganhar a confiança de seus colaboradores para que sintam-se como partícipes do processo desse encontro com a essência.

Iradj define as três características das empresas abertas à desenvolver os conceitos do CSO:

  1. A liderança da empresa deve estar aberta à crítica e bem pacificada com questões relativas ao ego de seus dirigentes.
  2. A empresa deve estar aberta a revisitar os seus valores e processos e relembrar seus colaboradores de qual o seu propósito e a razão da sua existência.
  3. A empresa deve praticar a qualidade da veracidade, buscar a devida transparência de acordo com cada nível hierárquico. E ser uma empresa sem segredos internos.

 

** Baseado em texto publicado da revista Exame de 2018 de Danilo España e Luah Galvão, e vídeo  “The Journey of my CSO” de May McCarthy

*** Artigo escrito por Marcos Barello Gallo, CEO da Multimax Healthcare Marketing

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