“Geopolítica Mundial e a Saúde no Brasil e na Suíça”, por Ricardo Brito, CMO da Biomecanica e Grupo Bioscience

Ao longo da história mundial, graças aos estudos geopolíticos e ao entendimento do pensamento e movimento de cada país, conflitos puderam ser entendidos e esclarecidos.

Dentro desse espectro, o papel da Suíça é estratégico. Dada a quantidade de entidades mundiais sediadas no país, tais como: OMS, ONU, OTAN e OMC, por exemplo; além do seu posicionamento neutro perante os principais conflitos da história; a relevância politica da Suíça como um país mediador mundial é notória. O fato é que haverão sempre  disputas ideológicas, territoriais, políticas, econômicas e comerciais no mundo. As organizações entre os países garantem que estas sejam tratadas em clima de paz.

Isso porque, nunca o mundo foi tão globalizado. O globalismo, termo polissêmico de vários significados e aplicações, tem um papel fundamental no aspecto transacional e tecnológico das diferentes nações, pois viabiliza atividades econômicas em escala mundial como: telecomunicações, transportes, saúde, investimentos e, as atividades empresariais.

E este mundo globalizado, integrado e de certa forma, com grande parte dos conflitos mediados, graças ao fator inesperado do (COVID-19), foi impactado. Além da economia mundial ter sofrido com as mudanças exigidas dessa pandemia global, a saúde tornou-se como nunca, o centro das atenções.

O fato é que as relações internacionais, a partir dessa década, serão intensas, com países estruturando blocos comerciais rentáveis, de modo a garantir a perpetuidade de suas empresas e negócios, e também a defesa das suas moedas, empregos, fronteiras e interesses. Os blocos econômicos defendem basicamente a zona livre comercio, a união aduaneira, a  econômica e monetária, o mercado comum e a zona de preferência tarifária. Sem dúvidas, nos blocos econômicos como BRICS, UE, NAFTA, APEC, ASEAN, MCCA, MERCOSUL e RCEP, veremos grandes disputas na agregação de países, para garantir mais prosperidade e lucro.

A globalização não exclui as ideologias particulares dos países e seus modelos culturais e políticos (tribalistas, colonialistas, regionalistas, nacionalistas ou imperialistas). Isso permitiu temporalmente que escolas médicas, com novos conteúdos, procedimentos e guidelines fossem desenvolvidos, de modo a viabilizar e minimizar os impactos na saúde. Entretanto, se antes mesmo do (COVID-19) não havia um equilíbrio entre as nações, do custo e investimento em saúde, durante a pandemia essa distância foi intensificada. Essa disparidade gerou reflexões importantes, como o entendimento do que é a saúde e a responsabilidade de cada país, seja o atendimento público ou privado, tanto nos âmbitos locais, (inter)nacionais.

Sim. A globalização generalizou.

Apesar de não ser homogênea, o sistema capitalista e suas práticas de acumular, por vezes desconsidera os acontecimentos básicos das relações internacionais. Vale uma reflexão.

Tão discutido e analisado no último ano, o mercado de saúde passa de trilhões de dólares ao ano e deve continuar crescendo ao redor de 15% ao ano, e no caso do Brasil, representará mais de 10% do PIB nacional.
Infelizmente, a ausência de liderança do Brasil no cenário da geopolítica mundial; um país que estava desempenhando um papel relevante na saúde internacional; é lamentável. O país que foi sempre referência em diversos programas de saúde pública, está sendo ridicularizado e hostilizado, principalmente aqui na Europa, graças a seu posicionamento frente à pandemia.

Existe um desalinhamento de opiniões entre os governantes dos países mais importantes do mundo, em relação ao que está sendo feito no Brasil e em outros países emergentes. Entendo, que posicionar-se como negacionista perante a COVID-19 expôs ainda mais toda a fragilidade do nosso sistema de saúde pública. Instalou-se no país uma crise maior do que a própria pandemia, escancarando a disputa econômica e diplomática, comandada por políticos de pouquíssimos resultados. A união ideológica aos EUA, país que teve uma péssima postura inicial, mas infindável capacidade financeira de conter a crise epidemiológica e econômica, teve como consequência para o Brasil a permissão (consentida) de uma quantidade impensável de óbitos.

Vale um adendo de que os EUA não têm sido, ultimamente, um bom exemplo a ser seguido no gerenciamento de saúde e política mundial. O último grande feito dos EUA na gestão internacional de saúde aconteceu entre 2014 e 2015, com o então presidente Barack Obama, durante a crise do Ebola. Assumindo a responsabilidade de resolução do problema, ele enviou ao redor de 3 mil marines para a África ocidental, assumiu totalmente a liderança nas Nações Unidas e criou a primeira missão da ONU de natureza sanitária, lançando a agenda da Segurança da Saúde Global. Atualmente, a fim de comparação da postura do país, a grande última decisão tomada por ele foi a cessão do pagamento do financiamento da OMS.

Minha crença é de que, com a vacinação avançando no mundo, devemos ter uma década de franca recuperação mundial. De maneira mais lenta nos países emergentes, a retomada das bolsas de valores e o aumento da demanda por energia fóssil ou limpa, as moedas fortes como o Dólar, Euro e o Franco Suíço, deverão retroceder a patamares mais equilibrados e realistas, e os PIBs projetados, subirão.

A perspectiva mundial da saúde e de como iremos fazer a gestão da saúde, não será a mesma após a COVID-19.  A saúde tornou-se protagonista internacional e nunca vimos tanta cooperação técnica na busca do desenvolvimento de uma vacina.

A redução gradual do isolamento pela flexibilização da abertura do comércio e a retomada do turismo, ainda que não seja no volume anterior à pandemia, propiciará a recuperação da economia e deverá gradualmente, gerar números melhores do que aqueles antes da crise.

A Suíça, apesar de ter comprado as vacinas tardiamente, conforme o ponto de vista da própria população, já possui o volume necessário para atender todos seus residentes com as duas doses. O país iniciou sua vacinação em dezembro de 2020 e em ritmo lento, está vacinando todas as pessoas, independentemente da idade. De forma organizada e com uma grande estrutura, com três marcas aprovadas pela SwissMedic (Moderna, Pfizer e Astra Zeneca), a campanha de vacinação está prevista para finalizar até o final do verão europeu (agosto).
Enquanto isso, infelizmente, o Brasil patina. Qual marca comprar? Como a ANVISA irá liberar? Como ser prioridade na entrega das doses?

O país provavelmente passará o ano de 2021 na luta diária de vacinar toda a sua população. Projeções estimam que mais de 600.000 brasileiros perderão suas vidas pela falta de planejamento e pelas incansáveis e intermináveis disputas políticas. A controvérsia entre comprar vacinas e fabricar vacinas já criou e ainda deverá criar muitas confusões. Para piorar, fabricamos a vacina, mas não de forma independente. Aguardamos pacientemente noticias da China (país polêmico, com regime ditatorial e que provavelmente omitiu informações no início do surto epidêmico), mas que até hoje, não nos oferece um diagnóstico confiável e transparente do que aconteceu e acontece por lá.

Mesmo em meio a tantas dificuldades, o Brasil tem suas forças. Um gigante capaz de se recuperar, um gerador de recursos, um influenciador dos países emergentes.

Em uma década pautada pela escassez de recursos naturais, crises econômicas, controles de migrações e guerras civis, o Brasil revela potenciais que chamam a atenção do mundo, e que deveriam ser o centro das notícias. Através de uma política estruturada, somos capazes de estreitar as alianças estratégicas e nos posicionarmos em mercados cada vez mais estratégicos.

Naturalmente pelo meu posicionamento geográfico, diariamente, enxergo o potencial que existe nessas alianças estratégicas que por alguma razão não conseguem prosperar: o que seria possível realizar se a Suíça olhasse com mais atenção para um país como o Brasil e as oportunidades abertas em um país emergente, e se Brasil alinhasse-se com  a Suíça que respira tecnologia e inovação e tem tantos canais de acessibilidade?

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