“Pandemia acelerou crescimento das startups no país”, por Lucas Gerard, CFO da ViBe Saúde

O mercado digital no Brasil cresceu de forma impressionante durante a pandemia. A migração de várias atividades para o modelo remoto, com a disseminação de aplicativos e plataformas digitais para todo tipo de serviço, aqueceu o setor de tecnologia no país, com destaque para as startups.

Pesquisas indicam que abrimos uma startup por dia em 2020, tendência que deve se manter também neste ano. Os dados mais recentes, de 2020, indicam que há mais de 13 mil empresas desse tipo no país, número que é vinte vezes maior do que há dez anos. São evidências de que o Brasil entrou definitivamente na revolução das startups.

Esse crescimento se reflete nos dados sobre financiamento. Só nos primeiros meses de 2021, aportes recebidos por startups já superaram os valores do ano passado inteiro. Foram US$ 5,2 bilhões investidos no primeiro semestre, quase o triplo dos valores registrados para o mesmo período em 2020. Esses investimentos estão direcionados principalmente às fintechs (bancos e corretoras digitais), às retailtechs (startups de varejo) e, em terceiro lugar, às healthtechs (empresas da área de medicina digital) – neste caso, especificamente, porque tecnologias relacionadas à saúde foram impulsionadas, adotadas e aceitas mais rapidamente no último ano a partir da nossa nova realidade.

O Brasil, no entanto, não é um caso isolado. No primeiro semestre deste ano, mais de US$ 280 bilhões foram investidos em startups globalmente, um recorde mundial. O crescimento foi de 60% em relação ao semestre anterior. Cresceram também os chamados “unicórnios”, startups que alcançam valor de mercado acima de US$ 1 bilhão. Foram 250 novos unicórnios em todo o mundo no primeiro semestre deste ano – a título de comparação, durante o ano passado inteiro cerca de 160 empresas chegaram a esse status.

A maré é favorável para os empreendedores digitais. Se o Brasil quiser aproveitar ao máximo essa janela de oportunidade, é preciso continuar fortalecendo os mecanismos de financiamento desse mercado. Do lado do investidor, o interesse nessa modalidade (venture capital) é crescente. Os fundos perceberam esse apetite, promovendo reinvenções utilizando plataformas digitais. Os gestores, que são especializados em buscar oportunidades de grande potencial, assumem níveis de risco x retorno mais elevados, que devem ser traduzidos nos fatores de risco dos próprios fundos.

Outra vertical ganhando espaço no país são os investidores-anjo que, especialmente por meio de redes de ex-alunos (alumni) das principais faculdades do Brasil, realizam aportes em empresas em estágio inicial. São em geral profissionais experimentados em diversos mercados, dispostos a viabilizar startups que atuam nos mais variados setores. Um exemplo prático desse tipo de atuação está no último ranking de investimentos levantado pelo portal Sling Hub, no qual a GVAngels aparece empatada na 3ª posição em número de aportes para o mês de junho deste ano.

Particularmente, faço parte do GVAngels e é fato que a rede traz oportunidades, sempre com discussões muito enriquecedoras. A tendência é positiva, mas por se tratar de investimento direto nas companhias, essa prática requer ainda mais atenção e cuidados, principalmente na seleção de ativos e na análise do portfólio de investimento – é importante diversificar, escolhendo setores e empresas que tragam maior conforto, mas também dedicar um percentual da carteira a essa classe de ativo. Vale lembrar que o investimento em empresas no exterior (que também é meu caso) – em países como Estados Unidos, Índia e Israel -, é imprescindível e necessário a avaliação de riscos e de estruturas das operações.

Para continuar participando dessa verdadeira revolução digital encabeçada pelas startups ainda há caminhos que o país precisa explorar, mas a rota está traçada. O investidor brasileiro está expandindo sua carteira e ter opções é sempre bom. Somente vale lembrar que, por se tratar de investimento de altíssimo risco, o campo das startups ainda demanda cautela. Caso exista conforto para entrar nesse mundo, é essencial trabalhar a diversificação e alocar capital de maneira estratégica, sempre visando o longo prazo.

**Artigo escrito por Lucas Gerard, Chief Financial Officer (CFO) da ViBe Saúde.

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