Na série “Realizadores que Influenciam”, a arquiteta e empresária Paula Fiorentini, da Paula Fiorentini Healthcare Design, fala sobre assédio moral, a perda de seu pai e seu legado para o setor
Gratidão e renovação. É com essas palavras que Paula Fiorentini define a sua carreira, honrando o seu passado, agradecendo pelos ensinamentos deixados pelo seu pai, mas deixando claro que ela é uma profissional diferente e merece seu espaço no mercado.
Paula é a diretora do escritório fundado por seu pai, Domingos Fiorentini. “Comecei a trabalhar com meu pai aos 13 anos e segui assim por anos, inclusive na época da faculdade. Estudava arquitetura de manhã, trabalhava durante a tarde, e fazia administração hospitalar a noite.”
A empresária acredita que muitas pessoas acham que ela só chegou onde está por ser filha do dono, mas as coisas não são bem assim. “Meu pai sempre foi muito rigoroso e eu tinha que trabalhar para conseguir tudo por mérito próprio.”
Uma das pessoas que compartilhava desse pensamento foi o ex-sócio de seu pai, que a fez passar por momentos difíceis. “Minha presença o incomodava muito e ele se sentia ameaçado, então aproveitava toda a chance para me humilhar e até assediar moralmente. Quando meu pai descobriu, rompeu a sociedade.”
Sobre esse momento difícil, Paula tenta aprender com o que aconteceu. “Sinto até orgulho de ter aguentado essa situação, pois tenho certeza de que isso me deixou mais forte e me deixou preparada para muitas batalhas que enfrentei.”
Uma perda difícil
O momento mais marcante de Paula Fiorentini foi o falecimento de seu pai, que representou uma grande perda e mudança em sua vida. “Eu não fiquei apenas sem meu pai, mas também sem meu grande tutor e sem a pessoa que me fez escolher essa profissão. Entrar no escritório depois e assumir o lugar que era dele foi muito difícil.”
Mas a arquiteta acredita que tudo valeu a pena. “Cerca de uma semana antes de seu falecimento, meu pai me olhou nos olhos e disse que eu estava pronta. Isso me atingiu de uma forma diferente, porque eu senti que respondi à expectativa de alguém exigente e com um critério muito alto.”
Ter foco nos objetivos está no sangue da família Fiorentini. “Eu e meu pai compartilhamos da mesma garra e perfeccionismo. Sou detalhista como ele era e jamais vou me contentar com pouco. Se posso ter o melhor, vou querer que seja assim.”
No entanto, a arquiteta percebe muitas diferenças entre as duas personalidades, fator que reflete na gestão do escritório. “Meu pai era meu herói, mas consigo ver pontos a melhorar em mim. Ele era bem pessimista e eu sou o oposto; ele esperava os projetos chegarem em suas mãos, mas eu vou atrás e batalho para estar entre os grandes.”
Essas diferenças também se mostram na forma com que idealizavam seus projetos. “Meu pai era médico e arquiteto, então seus projetos são voltados para o médico. A minha formação é em arquitetura e gestão hospitalar, e isso faz com que os meus desenhos sejam mais voltados para modelos operacionais, gerenciais e multidisciplinares.”
Consolidação da marca
Após o falecimento de Domingos Fiorentini, em 2014, Paula dedicou todos os seus esforços em solidificar a marca Fiorentini como uma presença forte e diferenciada no mercado. “Foi um longo trabalho de transformar uma marca que antes tinha como símbolo um senhor de idade e, agora, está associada à uma diretoria feminina e jovem.”
Isso fez com que o escritório Fiorentini Arquitetura Hospitalar fosse renomeado para Paula Fiorentini Healthcare Design. Com especialidade em construções de grande porte, a empresária acredita que os atuais clientes exigem segurança, qualidade projetual e economia em qualquer demanda.
Esses pontos são fundamentais para Paula, uma vez que a arquiteta acredita que “o propósito de qualquer construção hospitalar deve ser reduzir os custos e trazer viabilidade econômica”.
Ainda assim, Paula acredita que muitos fatores precisam mudar na mentalidade dos gestores. “Eu vejo muita gente falando sobre ter o paciente no centro e acham que ter um hospital lindo, com ambientação adequada e estética agradável já faz isso. A minha opinião é outra. A sala de espera pode ser bonita, mas a demora é um desrespeito aos meus outros compromissos, por exemplo.”
A questão da demora no atendimento é um ponto fundamental a ser melhorado para chegar em um estado ideal de atendimento na Saúde, segundo a gestora. “Eu sonho com o dia em que irei marcar um exame e, se houver algum atraso ou imprevisto, receber uma notificação e a remarcação para uma nova data. Precisamos da tecnologia e rapidez para melhorar todos os aspectos do atendimento.”
Ao analisar esses pontos e perceber a necessidade de melhora que o setor possui, Paula se sente ainda mais motivada. “O que brilha aos meus olhos não são os contratos financeiros, mas contribuir com os hospitais e ver que nossa área ainda é carente e sedenta por informações.”
Planos para o Futuro
Para os próximos anos, Paula tem um objetivo claro em sua mente: desacelerar. “Preciso muito puxar o freio, porque é um ritmo de vida muito puxado atualmente. Mesmo tendo uma equipe, eu participo do desenvolvimento de todos os projetos e demandas, então é um alto volume de tarefas.”
E completa: “Não quero morrer estressada, nova e trabalhando. Quero capacitar as pessoas do escritório para passar o bastão para quem me fortalece.”
Sobre o legado que gostaria de deixar para o setor da saúde, Paula enfatiza sua personalidade e a qualidade dos serviços. “Quero ser lembrada como uma mulher forte e empoderada intelectualmente, com pulso firme e que sabia o que estava fazendo. E quero que os projetos do escritório sejam reconhecidos como soluções econômicas inteligentes, de CAPEX e OPEX muito bem investido, para atingirem o principal objetivo dos hospitais.”