“Os desafios do ensino da telemedicina”, por Giovanni Guido Cerri, presidente do InRad

A pandemia de covid-19 acelerou o uso da telemedicina no Brasil. Mas a experiência de fazer consultas remotas, entre outros procedimentos, não é algo que já esteja integrado aos currículos de formação dos profissionais de saúde do país. Essa é uma das reflexões abordadas no relatório “Diálogos Brasil – Reino Unido em Saúde Digital: Desafios e Oportunidades em Telessaúde”, resultado de uma colaboração entre o Ministério do Comércio Internacional do Reino Unido e o Instituto Coalizão Saúde do Brasil (ICOS), com o objetivo de contextualizar a assistência em saúde e seus principais obstáculos e desafios para os próximos anos.

O atendimento presencial e o remoto têm suas particularidades e estas têm de ser ensinadas a esses profissionais – tanto os futuros quanto os que estão hoje em atividade. Um exemplo é o curso Saúde Digital: do conceito à aplicabilidade oferecido atualmente pela Escola de Educação Permanente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) a todos os colaboradores do complexo. Essa capacitação faz parte do Programa de Saúde Digital, uma das inúmeras bem-sucedidas ações apresentadas no relatório.

Muitos profissionais sabem da relevância da saúde digital – da qual a telemedicina é, na verdade, um dos componentes –, mas não se sentem habilitados para utilizá-la. Não se trata de simplesmente estar diante de uma webcam, um smartphone ou outro dispositivo para uma espécie de videoconferência com o paciente. A saúde vai incorporar tecnologias que permitirão fazer exames de imagem, transmitir e armazenar dados, ministrar cursos e fazer a gestão de sistemas de saúde, seja no âmbito público ou privado.

Neste cenário, o ensino da medicina terá de se tornar ainda mais multidisciplinar. Será preciso uma inserção – cuja profundidade ainda está por ser determinada – no universo de temas da tecnologia, seja na área de softwares, seja na de hardwares. Ter noções de estruturas de bancos de dados, linguagens de programação e funcionamento dos equipamentos deve se tornar mais familiar aos profissionais da saúde. 

Mas o aspecto tecnológico, embora o mais evidente, não é o único a ser levado em conta. O arcabouço legal para a prática da telemedicina está sendo discutido e criado paralelamente. A LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais) e o Marco Civil da Internet também vão fazer parte do repertório dos profissionais de saúde, assim como padrões de boas práticas e fiscalização efetiva. Os currículos de formação terão de incorporar isso – e essa inserção, embora não deva ser feita às pressas, também não pode tardar.

Outro desafio à frente é o próprio paciente: para que a saúde digital se torne presente e se consolide, ela precisa ser adotada pelo público. Ensinar a população a procurar os meios digitais para marcar consultas e fazer exames levará tempo, e serão necessárias campanhas e acompanhamento. E para que seja abraçada, de fato, a telemedicina tem de proporcionar uma jornada ágil. Mais um motivo para que os profissionais de saúde sejam capacitados com essas novas habilidades.

Os avanços na medicina impulsionados pela pandemia devem acelerar ainda mais daqui em diante. A digitalização de atendimentos, consultas, acompanhamentos, mesmo tratamentos, gestão de dados e de sistemas – tudo isso torna a prática médica mais eficiente, rápida e acessível. A formação de médicos, enfermeiros e demais profissionais da área da saúde também terá de se adaptar à nova realidade. O maior beneficiado será o paciente – mas todos os participantes do setor terão a ganhar.

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