Gestão hospitalar e Inovação: HCFMUSP navega entre legado e avanços tecnológicos

A gestão do HCFMUSP sob a liderança de Antonio Pereira representa um exemplo de como tradição e inovação podem coexistir para promover a transformação do sistema de saúde

Equilibrar tradição e modernidade na área da Saúde é um dos maiores desafios enfrentados pelas instituições hospitalares hoje. Em um setor que carrega décadas de práticas consolidadas e onde a qualidade no atendimento depende de protocolos estabelecidos, a inovação precisa ser cuidadosamente integrada para não comprometer a segurança dos pacientes.

No entanto, à medida que a tecnologia avança, surge a necessidade de renovar processos e adotar soluções digitais que transformem a gestão e a prática clínica. Esse equilíbrio entre a preservação de legados e a busca por inovação é essencial para garantir que o sistema de saúde continue a evoluir, oferecendo cuidados mais eficientes e acessíveis, sem perder de vista a excelência que a tradição traz.

Com mais de oito décadas de história, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP) se consolidou em tratamento, ensino e pesquisa médica, sendo um pilar essencial no atendimento à saúde no Brasil.

Em meio a esse legado, a instituição enfrenta o desafio constante de evoluir e adaptar-se às rápidas transformações tecnológicas e às novas demandas da sociedade.

HCFMUSP
Antonio Pereira, superintendente do HCFMUSP

À frente dessa transformação, Antonio Pereira, mais conhecido como Tom Zé, superintendente do HCFMUSP, tem liderado uma estratégia de gestão focada em inovação e digitalização, ao mesmo tempo em que preserva o compromisso da instituição com a qualidade no atendimento e com o ensino.

“A tradição e a estrutura do HCFMUSP não são barreiras para a inovação; pelo contrário, nosso conhecimento em saúde fornece a base sólida para testar e validar novas tecnologias”, afirma o gestor.

Gerir uma instituição com o porte do HCFMUSP, que atende milhares de pacientes diariamente em diversas especialidades médicas, exige uma combinação delicada entre respeito à tradição e ousadia para inovar. Para Antonio Pereira, a gestão estratégica é o principal fator de sucesso. “A saúde não tem preço, mas tem custo; por isso apostamos em otimizar todos os investimentos”, diz ele.

Essa premissa reflete a necessidade de equilibrar a excelência no atendimento com a sustentabilidade financeira, uma preocupação crescente em instituições públicas como o HC, que lidam com o subfinanciamento do Sistema Único de Saúde (SUS).

A inovação dentro de uma instituição de saúde tão complexa não pode ser implementada de maneira indiscriminada. “Na saúde, não podemos arriscar e apostar todas as nossas fichas em uma única inovação. Precisamos primeiro testar localmente e acompanhar, por meio de dados, se estas novas tecnologias têm impacto positivo na jornada do paciente”, explica Tom Zé.

Nesse sentido, o HC estabeleceu o Núcleo de Inovação Tecnológica (InovaHC) e a Diretoria de Saúde Digital, com o objetivo de fomentar a inovação de forma colaborativa, unindo startups, pesquisadores, profissionais de saúde e empresas parceiras. Essas iniciativas têm permitido ao hospital explorar novas tecnologias e processos que melhoram o atendimento, ao mesmo tempo que mantêm os padrões tradicionais de qualidade.

Iniciativas em Saúde Digital: O futuro do atendimento

Um dos maiores projetos de inovação em andamento no HCFMUSP é a expansão da saúde digital. Com a inauguração do Centro Líder de Inovação em Saúde Digital do Estado de São Paulo, o hospital reforça seu compromisso com a modernização do sistema de saúde, contribuindo não apenas para o atendimento hospitalar, mas também para a criação de políticas públicas sustentáveis.

“Nossa visão para o futuro é transformar a saúde do Estado por meio da expansão da saúde digital, fortalecendo a rede de cuidados e contribuindo para políticas públicas inovadoras”, explica Antonio Pereira.

Entre as iniciativas digitais do hospital, destaca-se o projeto TeleAPS, que busca promover a atenção primária por meio de teleconsultas. A ideia é prevenir a progressão de doenças, facilitar diagnósticos rápidos e reduzir o tempo de espera nas unidades básicas de saúde (UBSs).

A primeira fase do projeto já alcançou 82% de resolutividade, ou seja, a maioria dos pacientes teve seu problema resolvido sem a necessidade de encaminhamento para especialistas. “Ao reduzir o tempo de espera, conseguimos tratar doenças em seus estágios iniciais, evitando a sobrecarga dos equipamentos de alta complexidade do hospital”, explica Pereira.

Outra iniciativa de destaque é o projeto TeleSAP, que oferece atendimento médico para detentos em unidades prisionais. “Ao oferecer atendimento médico de qualidade e acessível, o programa contribui para a promoção da dignidade e do tratamento humanizado aos detentos, além de reduzir a necessidade de deslocamentos para unidades de saúde, o que aumenta a segurança e diminui custos”, detalha o superintendente. A meta é expandir o TeleSAP para 52 unidades prisionais até 2026, beneficiando milhares de detentos.

Esses projetos demonstram o impacto positivo da digitalização na democratização do acesso à saúde, especialmente em áreas mais vulneráveis e com pouca cobertura médica. Além disso, a adoção de tecnologias como teleconsultas e monitoramento remoto têm se mostrado eficazes para aliviar a pressão sobre hospitais de alta complexidade, como o HC.

Inovações que impactam a sustentabilidade financeira

Em um momento em que a sustentabilidade financeira é um dos maiores desafios para o setor de saúde, o HCFMUSP também tem focado suas iniciativas digitais como uma forma de otimizar os custos operacionais. Um exemplo é o projeto TeleUTI, que surgiu durante a pandemia da Covid-19, em 2020.

O projeto utiliza a teleinterconsulta – discussões de casos entre especialistas – para melhorar a qualidade do tratamento de pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). A expectativa é que o maior giro de leitos nas UTIs, facilitado por esse projeto, resulte em uma economia de até R$ 76 milhões, já que evita a necessidade de construção de novos leitos.

Outro projeto inovador que combina tecnologia e sustentabilidade é o OpenCare 5G, desenvolvido pelo InovaHC. Vencedor do Prêmio ABDI ANATEL, o projeto permite a realização de exames de ultrassom à distância em comunidades desassistidas, como aldeias indígenas, utilizando a tecnologia 5G.

“Com a telemedicina, estamos oferecendo acesso a exames de ultrassom em locais que, de outra forma, não teriam acesso a esse tipo de diagnóstico. É uma inovação que não só melhora o cuidado, mas também otimiza o uso de recursos”, ressalta Antonio Pereira.

Essas iniciativas refletem a estratégia do hospital de utilizar a inovação digital para garantir a eficiência operacional e a sustentabilidade financeira, um desafio central para todas as instituições de saúde, especialmente aquelas que, como o HCFMUSP, operam dentro do SUS.

Colaboração e integração: A chave para o sucesso

Para Antonio Pereira, o sucesso de uma gestão hospitalar inovadora depende da colaboração entre os diversos agentes do sistema de Saúde. “Como gestor de saúde, acredito que o individualismo não tem espaço neste setor. Vidas estão em jogo, e a colaboração entre diversos atores é fundamental para garantir um atendimento de qualidade e salvar vidas”, enfatiza.

Esse espírito colaborativo é materializado no trabalho desenvolvido pelo InovaHC, que conecta startups, pesquisadores e profissionais de saúde para criar soluções inovadoras.

Uma das maiores forças do HCFMUSP é a integração entre ensino, pesquisa e assistência, o que permite que novas tecnologias e processos sejam testados, validados e aplicados em larga escala.

“Nossa ambição não é ser líder em saúde digital de forma isolada; queremos promover uma cultura de inovação que vá além das paredes dos hospitais”, destaca o superintendente.

Ao promover parcerias com outras instituições, como a Beneficência Portuguesa e o Sírio-Libanês, o HC busca ampliar o impacto de suas inovações, criando uma rede colaborativa que impulsiona a transformação digital na saúde em todo o país.

Desafios e oportunidades para 2024/2025

Apesar dos avanços tecnológicos, o superintendente do HCFMUSP sabe que os próximos anos trarão desafios significativos para a gestão hospitalar. O aumento dos custos operacionais, a escassez de profissionais qualificados e a resistência a mudanças são alguns dos principais obstáculos.

No entanto, ele enxerga a saúde digital como uma solução promissora para enfrentar esses desafios, especialmente no cuidado à população idosa, que demandará mais atenção com o envelhecimento da população.

As metas do hospital para 2024/2025 estão alinhadas com essa visão. Um dos projetos mais ambiciosos é o Opencare, que integra tecnologias como Blockchain e Inteligência Artificial para melhorar a interoperabilidade de dados e otimizar a jornada do paciente.

“Nosso objetivo é utilizar melhor os dados para melhorar a qualidade no atendimento dos pacientes e dar maior sustentabilidade ao setor de saúde público e privado”, explica Antonio Pereira.

Além disso, o hospital pretende expandir ainda mais seus projetos de telemedicina e digitalização, reforçando o compromisso com o acesso universal à saúde. Com uma estrutura sólida e uma visão estratégica clara, o HCFMUSP está preparado para enfrentar os desafios do futuro e continuar sendo um modelo de excelência em saúde no Brasil.

Para Antonio Pereira, manter-se atualizado e motivado em um setor tão desafiador como o da saúde está diretamente ligado ao impacto positivo que seu trabalho pode gerar. “Minha maior motivação é o impacto positivo que minha liderança pode ter na vida dos pacientes. Liderar na área da saúde vai além de gerir cifras e indicadores; tem uma consequência direta e significativa na vida das pessoas”, afirma.

A atualização constante é fundamental para enfrentar os desafios de um setor tão dinâmico. Ele revela que acompanha de perto as publicações de consultorias renomadas como Deloitte, McKinsey & Company, BCG e EY, e participa ativamente de congressos e workshops do setor. Além disso, mantém uma rotina de proximidade com as equipes do HCFMUSP.

“Também transito muito pelos prédios e faço contato com as equipes, pois não há melhor fonte de informação do nosso complexo que os próprios colaboradores, que estão à frente no atendimento ao paciente. A todos, agradeço muito”, destaca. Essa combinação de estudo contínuo e escuta ativa das equipes é o que, segundo ele, lhe permite liderar uma instituição com excelência e foco constante em inovação e cuidado.

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