Por Ogari de Castro Pacheco
Nunca pensei em influenciar alguém. Nem mesmo meus filhos. Mas sempre pensei em deixar um legado para a humanidade na área da Saúde. É isso que venho fazendo nesses mais de 60 anos como médico. Sinto o mesmo entusiasmo de quando comecei. Pela vida, pela ciência e pela medicina. Minha missão nessa vida é encontrar soluções que aumentem o acesso das pessoas à Saúde.
Nasci em São Paulo, no bairro da Luz, na Vila Sá Barbosa, até hoje uma parte da São Paulo antiga perdida no tempo. Era um garoto curioso, que jogava bola de meia com o mesmo entusiasmo que ia à escola devorar livros, ávido por conhecimento. Meu pai era professor de educação física e, minha mãe, funcionária pública. Passei boa parte da infância rodando por cidades do interior de São Paulo, enquanto meus pais buscavam uma vida melhor. Mas a origem simples de minha família nunca me desmotivou a lutar por meus sonhos.
No fim do segundo grau, optei pela ciência. Decidi estudar Medicina e tive a felicidade de passar para a Universidade de São Paulo, uma das melhores do planeta e campo fértil de cientistas absolutamente entusiasmados com o que fazem. Lá, tive a oportunidade de aprender com algumas das mentes mais brilhantes das ciências brasileiras.
Não escolhi a medicina para ganhar dinheiro. Logo depois da residência, mudei-me para Itapira, no interior de São Paulo, para trabalhar em uma clínica médica com um amigo na parte da manhã e em uma clínica psiquiátrica na parte da tarde. Apesar de ter me especializado em cirurgia do aparelho digestivo, me sentia um clínico geral, apto a cuidar realmente da saúde integral dos meus pacientes.
Logo, com um grupo de amigos, fundei a Clínica de Repouso Cristália. E foi lá que comecei a liderar um time para a produção dos medicamentos psiquiátricos que meus pacientes mais necessitavam. Sempre fui movido pela curiosidade e coisas novas, inexistentes. Da produção de medicamentos psiquiátricos veio o desejo de pesquisar e produzir anestésicos e narcoanalgésicos. Eu não queria só comprar máquinas e equipamentos novos, queria investir especialmente em pesquisa, desenvolvimento e Inovação ao lado de alguns dos maiores cientistas e universidades brasileiros.
A nosso modo e com muito orgulho, temos ajudado a mudar a história da Saúde em nosso país. Um dos meus maiores orgulhos não é apenas o imenso portfólio do Cristália, com mais de 350 medicamentos em cerca de 500 apresentações, mas as inovações que criamos ao longo do caminho. Iniciamos a produção de Insumos Farmacêuticos Ativos há 41 anos e hoje produzimos mais de metade dos IFAs que necessitamos para nossos próprios medicamentos, enquanto o País ainda importa 90%. Inovações em biotecnologia e a conquista de 128 patentes são outras materializações dos investimentos em ciência e tecnologia que fizemos incessantemente nos últimos 52 anos.
E o que vem por aí? Se as autoridades do País permitirem, em breve teremos produtos inéditos no Brasil e no mundo. Sim, inéditos no mundo, como é o caso de um produto que têm a propriedade de regenerar uma lesão na medula-espinhal, vacinas para quem quer parar de fumar, de usar drogas como crack, cocaína e alguns opioides, e até uma medicação injetável que tira a pessoa da overdose dessas substâncias.
Digo que, se as autoridades do país permitirem, porque todas essas novas drogas já estão prontas, mas não posso iniciar os estudos em humanos, pois como elas não existem no mundo, não tem como compará-las. E muitos não acreditam que nós brasileiros somos capazes de produzi-los.
Com muito entusiasmo também assumi uma cadeira como suplente no Senado, para o exercício de 2019 a 2027, onde trabalho com projetos na área da saúde.
Ao olhar para trás, percebo que não perdi o entusiasmo pela medicina e pela ciência. Perdi força física, mas o entusiasmo em deixar um legado cresce a cada dia.
Se tivesse a oportunidade de escolher novamente uma profissão, faria tudo exatamente igual. Seria médico, me formaria na USP, investiria em um pequeno laboratório que em alguns anos se tornaria um gigante farmacêutico, farmoquímico e de biotecnologia. É a vida que escolhi. E o entusiasmo é o combustível que sempre me fez ir para frente, acreditando na ciência acima de tudo. Afinal, como disse o célebre cientista planetário e astrônomo Carl Sagan, “em algum lugar, alguma coisa incrível está esperando para ser descoberta.”