Durante a Hospitalar 2025 — a maior feira de saúde da América Latina —, a ABIMED promoveu um debate exclusivo sobre o acesso à saúde digital no Brasil.
O painel, intitulado “Revolução Digital: como transpor barreiras para o acesso” reuniu representantes do Ministério da Saúde, do Governo do Estado de São Paulo e da iniciativa privada para compartilhar experiências, desafios e avanços no processo de transformação digital do setor.
Confira a seguir os principais pontos destacados pelos participantes:
Ministério da Saúde: foco na integração e qualificação das equipes
Representando a secretária de informação e saúde digital do Ministério da Saúde, Ana Estela Haddad, a médica Marianne Pinotti, consultora da secretária de inovação digital do Ministério de Saúde, apresentou as principais ações do governo federal para estruturar a saúde digital no país.
Segundo ela, o foco está na qualificação das equipes locais para o uso de ferramentas digitais, como o Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC) e o ConecteSUS.
Marianne destacou que atualmente 90% das unidades básicas de saúde já possuem o PEC implementado, com cerca de 180 mil profissionais capacitados para operar o sistema.
Além disso, reforçou o compromisso do Ministério com o fortalecimento da Estratégia de Saúde Digital, que visa a integração das diversas iniciativas em curso, ampliando o acesso e a qualidade da assistência.
A diretora enfatizou que, apesar dos avanços, o Brasil ainda enfrenta desafios importantes, como a necessidade de maior conectividade em regiões remotas e o desenvolvimento de indicadores robustos para monitorar a efetividade das ações digitais.
Governo de São Paulo: superação de sistemas legados e expansão da teleassistência
A assessora técnica da Secretária Estadual de Saúde do Estado de São Paulo, Roberta Rúbia, compartilhou a complexidade da realidade paulista, com seus 645 municípios e uma estrutura fragmentada.
Segundo ela, ao assumir a gestão em 2023, encontraram 89 sistemas legados que não se comunicavam, o que dificultava a entrega de um atendimento estruturado e seguro.
Para superar esse cenário, São Paulo iniciou um amplo mapeamento da rede e implementou o Programa de Desenvolvimento, Pesquisa e Inovação (PDI) em parceria com o Hospital das Clínicas. Paralelamente, aderiu ao Programa SUS Digital, conseguindo a participação de todos os municípios do estado.
Um dos destaques foi a modelagem da assistência digital em 30 unidades básicas de saúde espalhadas por diversas regiões, funcionando como polos multiplicadores de conhecimento.
Até o momento, já foram realizados mais de 35 mil atendimentos nesse modelo.
A assessora também ressaltou o trabalho realizado nas unidades prisionais, superando barreiras de conectividade e implementando prontuários eletrônicos gratuitos, em parceria com o Ministério da Saúde.
Outro avanço importante foi a criação do AME Digital, que oferece atendimento especializado em 14 especialidades de forma remota, sempre mediante regulação, respeitando os critérios de fila e tempo de espera.
“Com essas iniciativas, São Paulo conseguiu, por exemplo, reduzir em 10% a mortalidade em hospitais e aumentar em 22% a eficiência no uso de leitos, sem ampliar fisicamente a estrutura hospitalar”, informou.
Por fim, a representante destacou a disponibilização de informações de saúde diretamente na palma da mão do paciente, por meio dos serviços oferecidos nos postos Poupatempo, integrando dados sobre filas de transplantes e oncologia com total transparência.
Iniciativa privada: interoperabilidade e maturidade digital como pilares
Luis Arnoldo Haertel, MD, head of product da Phillips, destacou o papel do setor como intermediário na validação prática de soluções digitais.
Segundo ele, o foco está em condensar projetos em casos menores, testá-los e oferecer retornos objetivos ao governo e à indústria sobre sua eficácia.
Um dos exemplos mencionados foi o projeto Open Care, que visa promover a interoperabilidade entre sistemas de saúde públicos e privados.
A iniciativa busca integrar dados de forma segura, superando a fragmentação atual e garantindo que as informações do paciente estejam disponíveis em qualquer ponto da rede de atendimento.
Ele ressaltou que a maturidade digital no setor de saúde brasileiro avançou significativamente, com maior integração entre os entes federativos e maior consciência, por parte da iniciativa privada, da necessidade de participar ativamente desse processo.
Outro ponto importante foi a adoção de tecnologias já existentes para viabilizar a integração de dados, como o uso de estruturas de segurança do setor bancário para armazenar e compartilhar informações de saúde com confiabilidade e proteção.
O representante reforçou que o Brasil nunca esteve tão próximo de consolidar a saúde digital como realidade acessível a todos, mas alertou para a necessidade de comunicar essas inovações de forma clara para a população, a fim de que entendam os benefícios e confiem na jornada digital.
Conclusão: um ecossistema cada vez mais integrado
O debate promovido pela ABIMED na Hospitalar 2025 mostrou que, embora ainda existam desafios importantes — como a superação de sistemas legados, a ampliação da conectividade e o desenvolvimento de modelos sustentáveis de financiamento —, o Brasil avança de forma consistente na construção de um ecossistema de saúde digital mais integrado, eficiente e centrado no paciente.
A troca de experiências entre governo federal, estados e iniciativa privada foi unânime em apontar que a transformação digital na saúde é um caminho sem volta, que exige cooperação, inovação e foco na melhoria do acesso e da qualidade da assistência.