O sistema de saúde no Brasil foi organizado com base na cultura do acesso ao médico especialista. No entanto, observa-se uma significativa demanda pelo resgate da imagem simbólica do médico de família, o profissional mais indicado para fazer o manejo básico da maioria das necessidades de preservação da saúde.
Para traduzir essa discussão em prática, a Qualicorp criou o QualiViva, programa-piloto com foco em atenção primária à saúde (APS), que tem o médico generalista como porta de entrada para o sistema de saúde. O projeto é realizado por meio de uma parceria entre a Qualicorp e a SulAmérica, para clientes a partir dos 65 anos e residentes em São Paulo (SP). A adesão ao QualiViva é voluntária e sem custo adicional à mensalidade do plano de saúde. Atualmente, fazem parte do programa mais de 800 idosos, que contam com acolhimento e suporte assistencial de uma equipe multidisciplinar.
O projeto tem como premissas a humanização e a prevenção, colocando o cliente em primeiro plano. O objetivo é migrar do atendimento episódico, reativo e fragmentado para um processo contínuo, proativo e integrado. E atuar com ênfase na preservação da autonomia do idoso, que tem um impacto significativo na prevenção de problemas de saúde, principalmente relacionados às doenças crônicas.
Ao acompanhar o público do QualiViva, a Qualicorp percebeu a necessidade de oferecer um acompanhamento médico mais próximo, integrado e multidisciplinar. Entre os resultados alcançados até aqui estão a redução do número de internações e também do tempo que estes usuários ficam internados, em comparação aos beneficiários que não participam do programa. Uma constatação inequívoca de que boa parte das internações de idosos são evitáveis.
Os usuários se mostraram muito receptivos em relação ao programa e ao modelo sugerido por meio dele. Além de muitos apresentarem melhora na saúde e na qualidade de vida, percebe-se que os pacientes estão mais sensíveis às orientações médicas e às mudanças de hábitos de saúde, além de se sentirem assistidos. Prova disso é que 78% dos clientes recomendam o QualiViva e o índice de permanência no programa é em torno de 90%.
O modelo mostra que os recursos financeiros estão sendo usados de forma mais assertiva. Evitar intervenções desnecessárias não é uma questão de economia. É uma questão de proteger a vida do paciente.
Outra importante premissa é que não se pode ter pressa na atenção primária. O QualiViva sugere usar o conhecimento científico de maneira inteligente e não de forma precipitada. Mas não dá para fazer isso sem que o médico especialista esteja articulado ao médico da atenção básica, que hoje em dia ainda são poucos. É necessário formar mais profissionais e valorizar os médicos generalistas que já existem para conquistar a confiança e o engajamento do consumidor.
É essencial, também, o trabalho integrado de uma equipe multidisciplinar, com a participação ativa de profissionais que trabalhem de forma complementar, incluindo médicos, enfermeiros e farmacêuticos, por exemplo.
As empresas que atuam no setor de saúde suplementar, sejam operadoras, seguradoras de saúde ou administradoras de benefícios, reconhecem a importância de adotar a Atenção Primária à Saúde como premissa. Prova disso é que há outros importantes programas bem-sucedidos disponíveis, promovidos por algumas dessas companhias com foco na APS. Além disso, o próprio QualiViva está disponível para ser desenvolvido em parceria com outras operadoras de saúde.
*artigo escrito por Celso Visconti Evangelista é formado em medicina pela Universidade de São Paulo (USP), com especialização em Medicina Preventiva. Atualmente é superintendente-médico da Qualicorp e responsável técnico pelo QualiViva, programa de atenção à saúde.