Referências: Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil
(*) todos os gráficos e tabelas são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil e do Material Didático dos Cursos da Jornada da Gestão em Saúde
A figura ilustra 2 coisas:
- Primeiro, o cenário que reveste a sustentabilidade de uma operadora de planos de saúde … dados extraídos do web site da ANS;
- Segundo, a honra de mais uma vez poder ter ministrado duas disciplinas na Pós-graduação do Einstein no Rio de Janeiro – sexta: Sustentabilidade Financeira em Serviços de Saúde, e sábado: Gestão de Riscos e Sinistros em Saúde – agora no modelo híbrido com parte dos alunos em sala e parte pela Internet – que como sempre me obrigo a agradecer as Profas. Glauce Roseane de Almeida Brito, Deise de Carvalho e Marcela Marrach Coutinho pela oportunidade … muito obrigado !
O gráfico e as aulas têm um relacionamento íntimo … e fico muito agradecido porque, além de estarem no DNA da minha área de atuação no mercado, posso discutir com um grupo de profissionais diferenciados, em uma instituição de ilibada reputação:
- Desde o ano passado estive postando sobre a previsão de que 2020 seria o melhor ano da história das operadoras, mas que o pós pandemia seria “amargo”;
- Exige habilidade e conhecimento em gestão tanto dos que atuam em fontes pagadoras (operadoras de planos de saúde, secretarias de saúde …), como dos que atuam em serviços de saúde (hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, ambulatórios), como dos que atuam no fornecimento de insumos (medicamentos, materiais …).
A pandemia nem acabou e:
- O SUS “está meio perdido” em meio à politização que “arrebenta” a gestão técnica do orçamento … não gastou nem mesmo o que gastou nos anos anteriores da pandemia durante a pandemia, gastou dinheiro em ações sem comprovação científica, aumentou as filas agora gigantes (ex: mamografia) … mas vamos deixar o SUS para outra postagem;
- Algumas operadoras se prepararam … e 2021 não está sendo ruim ainda … e estão se preparando para que 2022 seja menos ruim do que o destino que lhe espera;
- Outras operadoras, como a da tabela acima, já passam por uma situação preocupante !
Veja que esta operadora teve um “resultado operacional positivo” quase 5 vezes maior em 2020 comparado a 2019 … mas até o meio de 2021 já tem “resultado operacional negativo” quase 6 vezes maior do que o “lucro” de 2020 !!
Primeiro é necessário contextualizar:
- Os dados fornecidos pelas operadoras para a ANS podem ser ajustados até o final o exercício;
- Esta operadora não declara despesas de comercialização, embora não seja uma autogestão … “meio estranho”;
- No primeiro semestre de 2021 são poucos os reajustes de preços praticados pelas operadoras. Embora estejamos “banidos” de reajustes nos planos individuais, nos coletivos o reajuste é livremente negociado, e no geral quase 80 % dos beneficiários são de planos coletivos.
Mesmo com estes vieses, a tabela que representa um caso real, de uma operadora específica é emblemática:
- Percebemos que houve aumento de volume de beneficiários maior em 2021, do que no ano anterior … cresceu o número de beneficiários durante a pandemia;
- A despesa assistencial cresceu 17,8 % em 2021, enquanto a receita cresceu apenas 6,4 %
- Outras despesas operacionais que representavam 10,3 % em 2019, passou a ser 20,6 % em 2021.
São indicadores que “desenham” um, ou a combinação de mais de um, dos cenários abaixo:
- Redução do preço dos planos em 2021, que só pode ser explicado se a proporção de beneficiários de planos individuais desta operadora for muito maior que a dos beneficiários de planos coletivos;
- Quantidade de pacientes graves COVID-19 desproporcionalmente grande em relação ao total da carteira;
- Afrouxamento no controle dos custos, uma vez que a situação em 2020 era mais confortável que nos anos anteriores;
- Aumento no valor médio dos tratamentos devido às condições dos pacientes, que pode ser explicada pelo adiamento de tratamentos eletivos em 2020.
Esta operadora vai se reequilibrar novamente somente quando puder renegociar o valor dos planos coletivos com base na sinistralidade de 2021, que cresceu 17,8 % em relação a 2020:
- Perceba que a despesa assistencial veio caindo proporcionalmente ano a ano … inclusive na pandemia;
- Em 2019 representava 73,3 % da despesa total … em 2021 representa 68,7 % da despesa total !
O conjunto dos indicadores sintetiza o alerta que todos fazíamos … que as operadoras que não se preparassem para o pós pandemia teriam dificuldades até poder restabelecer o equilíbrio dos anos anteriores !!
Veja outro gráfico emblemático:
- Ele representa o percentual de operadoras de planos de saúde cujo resultado operacional é negativo (prejuízo), ao compararmos todas as receitas com todas as despesas, em 2019, 2020 e 2021;
- Como 2020 foi um ano muito bom, o % de operadoras com prejuízo caiu pela metade;
- Mas 2021 já mistura pandemia com pós pandemia … e indicador já voltou ao mesmo patamar dos “anos pré pandemia” apenas no primeiro semestre do ano;
- Tudo leva a crer que o % de 2021 aumentará no segundo semestre … o gestor da operadora ainda tem praticamente 3 meses para se preocupar … e o ano de 2022 para se preocupar muito mais !
Conforme demonstram os gráficos, a pandemia não alterou a dinâmica do “negócio operadora de planos de saúde” !
O gráfico da esquerda demonstra que:
- Operar planos de saúde é um negócio lucrativo, mesmo para pequenas operadoras, uma vez que mesmo com uma carteira de até 50.000 beneficiários, cerca de 65 % delas têm lucro;
- E conforme o porte vai crescendo, o % de operadoras que granjeiam lucro vai subindo … até chegar quase em 90 % delas quando falamos das de mais de 500.000 beneficiários.
O gráfico da direita demonstra que:
- O % de operadoras menores vai diminuindo ano a ano, e consequentemente 0 % das maiores acaba ficando maior;
- Mas uma parte das de até de 50.000 beneficiários que “sumiu” da faixa, foram operadoras que passaram a ter mais de 50.000 … nestes casos elas “não sumiram” … muito pelo contrário: cresceram;
- Ou seja, existe “a aglutinação da grande comprando a pequena”, o que faz o percentual de pequenas diminuir … mas também existe o movimento de crescimento da pequena que vai fazendo com que ela diminua a faixa anterior e aumente a faixa seguinte.
Veja esta outra tabela:
- Outra operadora da mesma modalidade “daquela lá em cima”;
- Com número menor de beneficiários que a lá de cima, é bom ressaltar;
- E resultado muito melhor !
- Não é uma questão de tamanho … de modalidade … o que se põe aqui em discussão é “gestão” !
Bem … os números continuam sendo revelados:
- Cabe ao gestor estar atento e se preparar para um pós pandemia que sabemos que será ruim … mas …
- Ou o gestor fica atento a mudança, mitiga o reflexo e posiciona sua operadora “para figurar” nas barras do gráfico das que dão lucro;
- Ou o gestor espera o tempo passar achando que o pós pandemia será igual ao pré pandemia … e pode ter os números do seu balanço como demonstra a tabela lá em cima !
Porque 2022 projeta ser um dos melhores anos da história dos serviços de saúde … muita produção para “pôr em dia” tudo que era eletivo e ficou represado.
É hora de fazer tudo … tudo … tudo … que é possível, legal e ético para conter os custos … porque o alinhamento da receita com a sinistralidade … esta … só no segundo semestre de 2022 !!
E vamos lembrar que muito pode ser feito para conter os custos sem prejudicar o beneficiário … isso é o desafio e a obrigação do gestor que atua na área da saúde … privada e pública, diga-se de passagem !!!
Sempre se preocupou com custo … então agora é hora de se preocupar ainda mais !!!!
Não sabe como fazer isso de forma organizada … metódica … peça ajuda … não tenha vergonha … vergonha é ter que explicar o prejuízo que poderia ter sido evitado … acredite nisso !!!!!
Enio Jorge Salu tem especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas. É professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta. Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unime. Também é CEO da Escepti Consultoria e Treinamento e já foi gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado.