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A pedra angular na reforma da saúde mental

A saúde mental não discrimina. Segundo a OMS, uma a cada oito pessoas convive com alguma desordem mental.

A título de exemplo, no Brasil, 68% dos trabalhadores estão ansiosos, 78% estressados e 58% deprimidos, apenas para citar os transtornos mentais mais prevalentes.

Lembrando que a saúde mental transita numa “linha” imaginária com experiências que variam do ótimo estado geral a situações debilitantes e de extremo sofrimento, como não considerar a questão dos leitos psiquiátricos?

E como não pensar no assunto frente a um aumento de 68% nos afastamentos médicos por transtornos mentais em 2024, quando em comparação a 2023?

São 470.000 afastamentos em um ano, com média de 3 meses de duração ao custo de 3 bilhões de reais aos cofres públicos.

No mundo, as perdas de produtividade associada à saúde mental e seus custos indiretos à sociedade, ultrapassam de longe os custos totais com saúde.

No mundo, a saúde mental lidera no quesito de anos de incapacidade e, mesmo assim, em média, países costumam destinar menos de 2% da verba da saúde para a mesma, deixando-a severamente mal servida, repleta de falhas e desequilíbrios em informação, pesquisa, governança, recursos e serviços.

O foco está em outras patologias. As questões que determinam a saúde mental são multifatoriais.

Portanto, as intervenções para a promoção e proteção da mesma, necessariamente também precisam transitar em múltiplos setores.

E é essencial dispor de serviços dedicados aos cuidados em nível secundário, os hospitais, sem os quais, todo o investimento destinado à atenção primária, provavelmente não será sustentável (Lancet 2007).

Leitos hospitalares para pacientes psiquiátricos são indispensáveis, especialmente porque os serviços de atenção primária (ambulatórios e psicoterapia) não apresentam condições ideais para lidar com casos agudos, complexos e graves, que em algum momento vão possuir indicação para internação.

Seja ela de curta ou média permanência.

Tal fato provavelmente justifica o aumento de 19% na disponibilidade de leitos psiquiátricos no setor privado nos últimos 10 anos, ao mesmo tempo em que nos deixa perplexos frente ao drástico fechamento de 53% (13.000) deles no sistema único de saúde no mesmo período.

No universo de números, a realidade no que diz respeito aos transtornos psiquiátricos e no quanto isso tudo foi impactado pela pandemia da covid-19, torna-se urgente que passemos a olhar a questão de frente.

Promover SM para todos, proteger aqueles que se encontram em risco (eventualmente de vida), proporcionar o cuidado clínico/hospitalar quando necessário e devolver essas pessoas para o convívio social o mais breve possível, sempre tendo em mente a gama de serviços de apoio necessários para suportar a desospitalização, é dever de toda a sociedade.

 

*Por Paulo Miki Junior, Diretor Presidente do Hospital São Marcos 

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