A saúde pública no Brasil parece estar em estágio terminal. Não é novidade para ninguém que faltam recursos, médicos e equipamentos para atender aos mais de 200 milhões de brasileiros que dependem do SUS. Há muitas entidades com ótimos profissionais, com departamentos bem estruturados e com pesquisas avançadas na área, mas estas não são suficientes para atender a demanda atual.
Esta demanda está diferente daquela de 30 anos atrás, quando o Sistema Único de Saúde foi criado. A população aumentou, envelheceu e novas doenças surgiram. Todo o cenário mudou, menos um ponto importante: o investimento na saúde.
Há mais de 15 anos sem atualização, a tabela SUS não é mais referência para a remuneração de procedimentos. E os recursos federal, estaduais e municipais enviados as unidades de saúde não são suficientes para tirar as instituições do “risco de morte”.
É triste ver pessoas morrendo por não ter chegado à consulta médica ou ao tratamento adequado devido as longas filas. É vergonhoso perder uma vida que poderia ter sido salva se houvesse agilidade no atendimento. Nós não podemos deixar que vidas se tornem apenas números, estatísticas.
É por isso que as entidades filantrópicas travam longas batalhas por mais recursos. Em 2016, vencemos uma destas lutas no estado de São Paulo, com a criação do Programa SUStentáveis, um socorro pontual as dificuldades financeiras provocadas pela defasagem na tabela SUS.
Em resumo, o estado de São Paulo determinava metas para as instituições cadastradas no programa, considerando etapas para se alcançar o melhor e mais ágil restabelecimento dos pacientes. E, de acordo com o cumprimento desses requisitos, o hospital recebia uma bonificação na remuneração.
A solução, que parecia paliativa na época, se tornou estratégica e os recursos advindos do programa são, hoje, fundamentais para a sobrevivência de diversas instituições de saúde. O SUStentáveis fez as entidades do estado evoluírem, em qualidade e atendimento.
Cinco anos depois do início deste programa, reforço mais uma vez, o País evoluiu, os custos aumentaram e são necessários mais recursos. Por isso, para que o projeto continue gerando resultados positivos, as entidades agora lutam pelo aumento de 0,6% ao orçamento da saúde para o exercício de 2020.
Outra luta paralela a este aumento é a ampliação do programa a novas entidades. Ainda há diversos hospitais, em diferentes regiões do estado de São Paulo que necessitam urgentemente desta ajuda.
Em novembro, a Fehosp organizará a segunda edição do Fórum SUStentáveis, no qual promoverá debates sobre o setor filantrópico de saúde e apresentação de cases que relatam a evolução dos hospitais alcançada pelo programa. Esta será também uma oportunidade de incentivar o estado a ampliar o projeto e a disponibilizar mais verbas aos hospitais que já fazem parte do SUStentáveis.
Este é o momento de ressaltar que a saúde não é estática e nem feita de matemática. O setor está em constante mudança e exige a atualização de recursos. Cada paciente recebido em uma instituição de saúde tem consigo uma história, uma família e amigos que anseiam por sua melhora. Em muitos casos, perder esta vida traz consequências irreparáveis para aqueles que estavam o seu redor.
Ninguém é imortal, claro. O sofrimento e a morte fazem parte da vida, mas estes devem chegar no momento certo e não se adiantar por conta da falta de atendimento, de recursos ou medicamentos. Por isso, não desistimos e continuaremos sempre lutando por mais recursos.
Este artigo, redigido por Edson Rogatti, diretor-presidente da Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Estado de São Paulo (FEHOSP) e presidente da Confederação das Santas Casas e Entidades Filantrópicas (CMB), foi publicado originalmente na edição 62 da revista Healthcare Management.