“A solução para a saúde sempre esteve nas mãos da ciência”, defende a presidente-executiva da Interfarma

À HCM, Elizabeth de Carvalhaes fala sobre a atuação das farmacêuticas em meio a pandemia da Covid-19, os impasses políticos e o papel da Interfarma na ampliação do acesso à saúde 

A longo dos últimos dois séculos, a humanidade tem se beneficiado de importantes inovações da medicina e dos medicamentos. Cada uma destas inovações foi trilhada a partir do campo da pesquisa, trazendo a ciência como base para a evolução na qualidade de vida do ser humano.

Essa relevância ganhou novos holofotes em 2020 com a pandemia do novo coronavírus, que acelerou uma corrida mundial pelo desenvolvimento de soluções para o combate da doença, principalmente pela Indústria Farmacêutica.

Um dos players que ingressou nesse debate foi a Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), a fim de promover a interação e o estreitamento das relações com os diversos agentes da Saúde.

Para a Healthcare Management, a presidente da Associação, Elizabeth de Carvalhaes, fala sobre a atuação da Interfarma em meio a uma pandemia, as barreiras de gêneros enfrentadas e a expectativa de um melhor cenário no país.

União do segmento

Enfrentando o momento mais delicado de sua gestão na Associação, Elizabeth ressalta que o setor da Indústria Farmacêutica precisou se adaptar muito rápido, encarando diversos desafios na tentativa de frear a pandemia.

“O segmento enfrentou o custo de produção, alta do dólar, indisponibilidades logísticas para manter toda a cadeia produtiva eficaz e apta para atender toda a demanda. Alguns medicamentos, por exemplo, passaram a ser consumidos em quantidades bem maiores que o habitual, como é o caso dos relaxantes musculares e analgésicos.”

Nadando contra a maré, Elizabeth explica que as indústrias farmacêuticas associadas à Interfarma continuaram trabalhando ativamente, tanto para garantir o abastecimento de medicamentos quanto em parcerias e diálogos constantes com o Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a segurança e bem-estar dos brasileiros.

“Laboratórios, embora concorrentes, se uniram na busca de uma solução, assim como startups e Institutos de pesquisas também colaboraram para desenvolver uma resposta eficaz e rápida.”

Esse movimento, segundo a executiva, não é de hoje. “Toda indústria farmacêutica sempre assumiu um compromisso com a saúde da sociedade e busca constante por tecnologias e inovações para beneficiar os pacientes, pois a solução para a saúde esteve sempre nas mãos da ciência.”

Inserção ao debate político

A Interfarma tem participado ativamente de diversas discussões no âmbito político dentro do setor farmacêutico. A ADI 5529, por exemplo, que examina a inconstitucionalidade do artigo 40, parágrafo único, da Lei de Propriedade Industrial, foi uma delas.

O artigo em questão foi colocado na lei para compensar atrasos do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) na concessão de patentes e proteger inventores de todos os setores econômicos.

Ou seja, garante um prazo mínimo – de dez anos – para o inventor usufruir de sua patente. “Isso é o que garante o incentivo e investimento de pesquisas e desenvolvimentos de novas tecnologias aqui no Brasil. Com um prazo mais curto de vigência das patentes, fará com que os agentes econômicos não tenham incentivos para buscar novas soluções. No caso dos estrangeiros, eles não terão incentivos para trazer seus produtos para o mercado nacional.”

As consequências, segundo Elizabeth, serão desenvolvimento menor do que esperado (menor produtividade agrícola e industrial) e menos produtos avançados para a população (incluindo tecnologias em telecomunicações e medicamentos capazes de tratar patologias como câncer, doenças raras, cardiovasculares, etc.).

Atuação na prática

A presidente da Interfarma explica que a Associação vem focando na ampliação do acesso à saúde. “O SUS é o maior e mais importante cliente dos nossos laboratórios associados. Com pesados investimentos, eles se esforçam na busca da cura, da longevidade, e qualidade de vida do paciente.”

Para auxiliar na democratização da Saúde, a Interfarma buscou parcerias na área de vacinas, no compartilhamento de tecnologias com laboratórios públicos e na incorporação de tecnologia de última geração para terapias complexas. Prova disso está em um dos projetos da Associação, o “Movimento Esquadrão da Vacina”, campanha de abrangência nacional para conscientizar a população da importância da vacinação.

“Realizamos essa ação junto à CUFA (Central Única de Favelas) e com apoio da SBMF (Sociedade Brasileira de Medicina Farmacêutica), porque temos observado a queda da cobertura vacinal contra diversas patologias há algum tempo. Doenças que estavam sob controle voltaram a fazer parte do nosso dia a dia, como o sarampo, por exemplo.”

Para Elizabeth, a base da ação se dá na disseminação do conhecimento aos cidadãos sobre quais vacinas estão disponíveis do SUS e quando elas devem ser aplicadas. “Queremos combater conteúdos mentirosos sobre as vacinas, mais conhecida como “Fake News”.

Além disso, a presidente ressalta que a Interfarma está se preparando para apresentar um plano ao governo para mudar a situação atual. “Nele inclui ampliar pontos de vacinação e melhorar a capacidade dos técnicos nas UBSs”, explica.

Questão de gênero

“Sou a primeira mulher a ocupar o cargo presidente na Interfarma. Na minha vida profissional, tive alguns percalços. Os desafios foram inúmeros. Em uma das minhas experiências, fui ao Iraque para participar de negociações para a indústria de bens de consumo e tive que me sentar na fileira de trás por ser mulher. Muitas vezes em reuniões puramente masculinas fui vista como a pessoa responsável apenas pela ata da reunião.”

Porém, Elizabeth afirma que os desafios não impactaram sua carreira. “Em nenhum momento deixei que eles afetassem o meu desenvolvimento profissional. Mas a minha experiência não é a regra. Muitas mulheres não conseguem se desenvolver plenamente profissionalmente porque ainda não estamos adaptados aos múltiplos papéis que uma mulher desempenha na sociedade.”

Unindo suas experiências e vontade de fazer diferente, a executiva trouxe para dentro da Interfarma debates importantes sobre representatividade de raça, da comunidade LGBTQIA + e toda a diversidade como um todo.

“O último Relatório de Sustentabilidade da Interfarma trouxe números interessantes sobre a presença feminina no setor e mostra que a indústria farmacêutica investe no desenvolvimento de seus funcionários e busca diminuir as desigualdades, entre elas, a de gênero.”

Entre 2017 e 2019, por exemplo, o Relatório apontou um crescimento significativo na presença feminina nos quadros de liderança das empresas (considerado a partir do nível de coordenação). Elas representavam apenas 23% em 2017, contra 53% em 2019. Esse crescimento também foi visto no quadro geral de funcionários. Em 2019, 51% dos colaboradores das associadas da Interfarma eram mulheres, contra 43% em 2017.

“Hoje, há grandes líderes femininas no comando de importantes empresas, outras conduzindo nações ou comandando áreas de pesquisa científica na saúde, agricultura, academia e em diversos outros setores. Tenho convicção de que essa participação das mulheres em diretorias, presidências e outros cargos de liderança, vai aumentar cada vez mais e isso só trará benefícios para a sociedade.”

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