Abramed aposta em recuperação da confiança no país em 2020

Medicina diagnóstica deve continuar a evoluir e investir em inovação

Após uma das maiores crises da história do Brasil, em 2019 o país experimentou um período de inflação sob controle. Porém, ainda há desconfiança acerca do ritmo de crescimento, mesmo diante de uma retomada lenta e gradual da atividade econômica. Para a saúde suplementar, até agora não foi possível falar em recuperação, já que não se conseguiu reintegrar os mais de 3 milhões de beneficiários perdidos desde 2014. Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o setor totalizou 47.255.912 usuários de planos de assistência médica em todo o Brasil, mostrando que houve discreto aumento de 0,15% no número de beneficiários até outubro de 2019 (último dado divulgado pelo órgão regulador), quando comparado com o mesmo período de 2018.

A recuperação real da saúde suplementar só deve vir com o aumento do emprego formal, já que os planos coletivos empresariais representam quase 70% da contratação de assistência médica privada no país, segundo a ANS, o que torna o setor refém tanto da retomada do emprego formal quanto do rendimento real do brasileiro. Nos dois casos a retomada é lenta, pois os números oficiais do governo mostram também que até outubro de 2019 foram criados 841.589 empregos com carteira assinada, aumento de 6,45% frente ao mesmo período de 2018, quando foram abertas 790.579 vagas formais. Mas ainda não foi o suficiente para a retomada da economia.

Para a diretora-executiva da Abramed (Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica), Priscilla Franklim Martins, sobre a necessidade de confiança em 2019 se pode dizer que a crise impulsionou a aproximação entre prestadores de serviços, operadoras de planos de saúde, gestores e lideranças do setor. “Isso proporcionou a chance de atores da saúde repensarem o sistema: pilotos com diferentes modelos de remuneração; qualidade para adicionar valor ao paciente, com desfecho adequado; interoperabilidade que garante racionalização com maior cuidado horizontal, e outros que estão por vir”, explica.

O mercado de medicina diagnóstica, segundo Priscilla, continuou a evoluir e inova a cada ano, e o avanço de tecnologias permite que os exames de diagnóstico – clínicos ou de imagem – sejam realizados em grande escala, em menor tempo, com melhor qualidade e precisão. “O segmento movimenta entre R﹩ 42 bilhões e R﹩ 43,7 bilhões por ano bem como se destaca na saúde, tornando-se atrativo para a realização de investimentos considerando os diversos fatores socioeconômicos, demográficos e epidemiológicos que favorecem o crescimento e o desenvolvimento do setor no Brasil”, afirma.

Além disso, a área diagnóstica foi responsável pela manutenção de 253,5 mil postos de trabalho em 2018, o que representa 11,5% dos empregos vinculados à área da saúde, segundo dados do Painel Abramed 2019 – O DNA do Diagnóstico, publicação da Abramed que consolida dados do setor de medicina diagnóstica.

“E as tendências apontam para um cenário de fortalecimento e desenvolvimento cada vez maior nos próximos anos, com o surgimento de healthtechs focadas em soluções nos diversos segmentos que permeiam os cuidados do paciente”, destaca Priscilla.

Expansão e mudanças
Como o segmento manteve o ritmo de expansão mesmo diante da perda de dinamismo da atividade econômica e do arrefecimento do mercado de trabalho, para 2020 a perspectiva é de mudança, mesmo que lenta, com crescimento econômico e maior empregabilidade. Para Priscilla, com menos pessoas dependendo do SUS, a rede privada de serviços, de planos de saúde pode se organizar melhor. “Esse é um ponto positivo para o Brasil. Mas ainda há a necessidade de avanços estruturais. O país está atrasado quando se fala em incorporação tecnológica e uso de procedimentos de alta tecnologia”, ressalva, lembrando que o primeiro passo deve ser em infraestrutura, para que as inovações possam chegar à ponta, com acesso fácil, no desfecho do paciente, que deve estar no centro dessas decisões.

Outra melhoria importante – e necessária -, na opinião da diretora-executiva da Abramed, é a mudança de foco da assistência, que deve passar a priorizar a promoção de saúde e prevenção de doenças em vez de o tratamento. Desde 2004, a ANS tem estimulado as operadoras à incorporação progressiva de ações promotoras de saúde e prevenção de riscos e doenças, por meio de programas que reúnem estratégias e iniciativas cujos objetivos envolvem a melhoria da qualidade de vida dos beneficiários. Assim, pretende-se uma alteração no papel dos atores da saúde suplementar na qual as operadoras se tornam gestoras de saúde.

Paralelamente a isso, é preciso garantir o investimento em pesquisa, desenvolvimento e inovação. “Com a evolução da inteligência artificial, por exemplo, o sistema de saúde ganha em otimização de recursos, contribuindo para a busca pela sustentabilidade do setor; o paciente ganha com a garantia de resultados mais assertivos dos seus exames de diagnóstico; e o Brasil ganha em eficiência e reconhecimento por oferecer, de forma universal e indiscriminada, saúde de qualidade a todos os seus cidadãos”, afirma Priscilla.

Ele chama a atenção também para Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que entra em vigor em agosto de 2020. Na medicina diagnóstica, as empresas brasileiras precisam ter investido tempo e recursos a fim de modificar o modo como lidam com os dados pessoais, não só de pacientes, mas também de colaboradores. “Com tantas dúvidas e interpretações possíveis geradas pelo texto da legislação, os desafios são enormes, inclusive na adaptação de novos sistemas. A mudança é necessária, pois todos nós estaremos sujeitos a penalidades pesadas, que acarretarão ainda mais prejuízos a um sistema já instável”, alerta.

Além disso, a Abramed informa que para 2020 seguirá na luta contra o desperdício em todos os pontos cruciais da cadeia, dando relevância aos debates sobre os impactos da superutilização e subutilização de exames diagnósticos – questões que interferem diretamente na sustentabilidade do sistema. “Para isso, é indispensável que todos os envolvidos na cadeia de saúde estejam alinhados com esse desafio. Temos de rever também a necessidade de investimentos em educação continuada para a criação de gestores eficazes, capazes de transformar o atual sistema de saúde, tanto na esfera particular quanto na pública, visto que elas são complementares e indissociáveis”, conclui Priscilla Franklim Martins.

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