“Antes, Durante e Quase Depois da Pandemia para Operadoras de Planos de Saúde”, por Enio Salu

Referências: Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil

(*) todos os gráficos e ilustrações são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil e do material didático dos cursos da Jornada da Gestão em Saúde e da Escepti

O desastre de 2021 para operadoras de planos de saúde está confirmado … agora esperar a confirmação da recuperação a partir do segundo semestre de 2022.

Já estamos chegando próximo do seminário de premiação das melhores operadoras de 2021 ( www.gesb.net.br – Geografia Econômica da Saúde no Brasil). Mesmo com o final da pandemia, mantendo em formato EAD porque a pandemia ensinou que neste formato o evento consegue chegar para um número muito maior de gestores de todo o Brasil, e está sendo uma grande honra ter confirmada a participação de gestores de mais de 80 cidades diferentes !

O gráfico da esquerda demonstra a evolução do número de operadoras que tiveram lucro operacional em 2019, 2020 e 2021:

  • O lucro operacional é calculado somando as receitas de contraprestação e outras, e subtraindo as despesas assistenciais, administrativas, comerciais e outras … informações do site da ANS, por operadora;
  • O gráfico da direita “o espelho” – a evolução do número de operadoras que tiveram prejuízo operacional;
  • Eles confirmam que, ao contrário de 2020 que foi o paraíso para as “fontes pagadoras”, 2021 foi “a vida na Terra” para algumas, e “o inferno” para outras !

Já no final de 2020 um post projetava este panorama de que 2021 seria difícil para as operadoras, e que a visão era a de que 2022 não seria o fim da pandemia, nem seria suficiente para fazer as coisas voltarem ao que era em 2019 … até agora … tudo conforme “a profecia” !!

É interessante notar que não foi 100 % “Terra ou inferno” para todas as operadoras:

  • Por modalidade o comportamento foi bem diferente;
  • Operadoras de algumas modalidades sofreram muito mais as consequências da pandemia do que de outras !

Notar também que os gráficos não têm a mesma escala … quando transformamos os números em percentuais de evolução, fica bem mais fácil entender o cenário !

Este magnífico gráfico demonstra a evolução das operadoras que tiveram lucro por modalidade:

  • Calculado pela relação entre as operadoras que tiveram lucro em relação ao total de operadoras da própria modalidade;
  • Fica bem evidente que entre as autogestões a proporção de operadoras com dificuldade em 2021 em relação à 2020, é bem maior que nas demais modalidades;
  • Nas seguradoras a relação também é grande, mas como são pouquíssimas delas, qualquer dificuldade de uma ou duas já é suficiente para desequilibrar completamente o cenário !

É interessante notar que as modalidades que não têm “tanta saudade de 2020” são as exclusivamente de odontologia … todas as que comercializam planos de assistência médica pensam o contrário delas !

Este gráfico não nos deixa esquecer que em números absolutos temos muito maior frequência de cooperativas médicas e medicinas de grupo:

  • Mas o fantástico deste gráfico é verificar que enquanto 1 para cada 2 cooperativas tiveram problemas em 2021, nas medicinas de grupo a relação foi quase de 1 para 1;
  • No geral, as cooperativas médicas souberam lidar muito melhor com a pandemia do que as medicinas de grupo !
  • Nas filantropias e relação também foi quase 1 para 1 … e nas autogestões impressionantes 1 para 2 – quase o inverso das cooperativas.

Vamos entender que, na média, autogestões têm menos estruturas especializadas do que as outras para “gestão do negócio” … na média têm carteiras de beneficiários mais velhos … e na média restringem muito menos o acesso dos beneficiários que as outras:

  • É o preço que pagam por estarem em um mercado capitalista sem ter como foco exclusivamente o lucro;
  • Mesmo as filantrópicas que não têm como objetivo social o lucro, não têm o mesmo foco de dar acesso à saúde aos seus  beneficiários como ocorre nas autogestões.

Para não dizer que não falamos “das flores”:

  • O gráfico demonstra de forma indiscutível que a polarização político-ideológica que vivemos não prejudicou somente o enfrentamento do COVID-19 no SUS;
  • Demostra que a regulação da ANS é comprovadamente inadequada;
  • Tirando odontologia que é uma operação muito mais simples, e pode “driblar a insana regulação”, as demais sofrem cada vez mais para lidar com instruções normativas que encarecem a gestão dos planos, e não dão qualquer contrapartida aos beneficiários – diferente das outras agências reguladoras onde o produto entregue à população vai evoluindo e embarcando cada vez mais qualidade (telefonia, energia …), o plano de saúde vai cada vez mais restringindo o acesso dos beneficiários aos serviços de saúde.

O gráfico, que calcula por modalidade o percentual de operadoras que obtiveram lucro em relação ao total geral de operadoras, “escancara” que somente as operadoras que comercializam planos exclusivamente odontológicos tiveram evolução entre 2019 (antes da pandemia) e 2021 (olho do furação da pandemia).

Não é possível entender como uma agencia reguladora permitiu este cenário de “terra arrasada” para tantas operadoras, de todas as modalidades …

… me desculpe … ato falho … dá para entender sim como a ANS deixa tantas operadoras chegarem a este ponto de agonia:

  • Voce entra no site e vê destaque para anúncio de vaga de estágio para comunicação social propaganda e marketing … isso é muito importante para os beneficiários de planos de saúde e para as operadoras de planos de saúde, não é verdade ?
  • Vê destaque para um relatório de gestão que se “vangloria” de ter reduzido o tempo de resposta das manifestações … não de ter reduzido os problemas dos beneficiários de planos de saúde para não terem que se manifestar … é irônico: estamos melhorando nosso sistema para dar agilidade a um número cada vez exponencialmente maior de reclamações !
  • Vê destaque para a insistência da ANS em atuar em área que não é do seu escopo: qualidade hospitalar;
  • Vamos lembrar que na CPI da COVID, quando um senador questionou porque a ANS não fiscalizou hospitais “daquela operadora” que supostamente fraldou diagnósticos, o representante da ANS disse que não era da alçada da ANS … para se proteger na COVID hospital não é da sua área de abrangência, mas para fazer política e inserir custo no sistema em certificações de qualidade a narrativa é diferente … sem contar que ela ignora ONA, JC … e quer que hospitais “engulam” a certificação dela que não traz resultado operacional nenhum para hospitais !!!

Enquanto isso … voltando à realidade … vamos torcer para que os gestores das operadoras estejam bem-preparados para este 2022 que não será fácil … melhor que 2021 sim … mas ainda muito difícil, especialmente por ser um ano de intensa “política ideológica” !

Operadoras e serviços de saúde, particularmente hospitais, em relação à regulação da ANS estão no mesmo barco:

  • Alguns se juntam, abrem os braços e “vão sentir o vento bater na cara lá na proa” … pensando que existe bote salva-vidas para todos se o navio naufragar;
  • E algumas percebem que estão no barco com um tigre, um orangotango, uma zebra e uma hiena … se é que me entendem … e não querem que 2023 volte a ser o que era 2019 … trabalham para que em 2023 estejam em um cenário de sustentabilidade melhor, “apesar da ANS” !

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