O setor de saúde vem se transformando rapidamente graças à saúde digital.
Trata-se de um conceito amplo, que consiste na aplicação das tecnologias de informação e comunicação a todas as atividades relacionadas à saúde. Engloba ferramentas como telemedicina, monitoramento remoto por dispositivos móveis, prontuário eletrônico, Big Data e inteligência artificial, entre muitas outras, para aumentar a eficiência e a qualidade do sistema de saúde. Permite diagnósticos mais rápidos e precisos, maior acesso à medicina preventiva, redução de custos para hospitais e empresas do setor.
O segmento vem crescendo de maneira exponencial nos últimos anos. Em 2021, houve aumento de 79% no investimento de empresas de saúde digital em todo o mundo, segundo o relatório anual State of Digital Health. E no Brasil não é diferente. Segundo um levantamento realizado pela plataforma Sling Hub, havia 542 empresas no segmento em 2020, número que pulou para 1.158 no ano seguinte. O valor movimentado por elas em 2021 foi de aproximadamente R$ 1,8 bilhão.
Esse processo vai ganhar ainda mais força em 2023, com destaque para estas cinco principais tendências.
A tecnologia 5G, que chegou ao Brasil há pouco, é a base para a implementação de inúmeras soluções inovadoras na saúde graças à alta velocidade na troca de dados e à maior estabilidade da rede. O Núcleo de Inovação Tecnológica do Hospital das Clínicas FMUSP (InovaHC) é um dos pioneiros no Brasil no teste do 5G na medicina. Em março do ano passado, fez a primeira prova de transmissão de imagens de ultrassom em tempo real. Outras aplicações do 5G que devem ser testadas são para exames como endoscopia e raio-X. Viabilizar a realização de exames a distância é muito importante para ampliar o atendimento a comunidades distantes e vulneráveis.
A inteligência artificial (IA) já é uma realidade no mundo da saúde, e seu uso só vai crescer. Na área de diagnóstico, ferramentas de IA podem identificar patologias com exatidão e rapidez superiores à média humana. Quando a pandemia começou a impactar o Brasil, o time no InovaHC, em parceria com empresas privadas, desenvolveu uma plataforma para ajudar os médicos a diagnosticar e tratar a Covid-19. A plataforma analisou mais de 10.000 imagens de pulmões de pacientes nos primeiros quatro meses de operação – entre maio a agosto de 2020 – identificando 70% como positivo para a Covid-19. Ela é alimentada por um vasto banco de dados de radiografias de tórax e tomografias computadorizadas de mais de 50 hospitais no Brasil. O processo rápido e simples identifica padrões comuns criados pela doença nas imagens médicas, mostra o grau de lesão pulmonar e ajudou médicos da linha de frente a priorizar quem precisava do tratamento mais urgente e decidir sobre as melhores opções de tratamento.
A robótica na área da saúde não é algo recente, mas está ganhando enorme impulso, elevando a qualidade e a segurança da assistência ao paciente. Os robôs-cirurgiões existem há um bom tempo e a grande novidade é a expansão da cirurgia robótica, procedimento realizado por robôs controlados remotamente por médicos. Em relação à logística, os robôs de serviços executarão tarefas da rotina hospitalar atualmente realizadas por humanos, aumentando a eficiência.
Os dispositivos médicos wearable (vestíveis), como relógios que medem o ritmo cardíaco ou os níveis de oxigênio no sangue, serão cada vez mais utilizados pelos pacientes. Mas novos dispositivos de monitoramento serão capazes de ir mais longe, medindo biossinais relevantes a distância, em tempo real, por meio de sensores têxteis instalados em sistemas eletrônicos vestíveis ou em tecidos inteligentes, podendo perceber e responder a diferentes tipos de estímulos, o que mudará para sempre a forma de cuidar da saúde.
Ao aproximar o mundo físico do virtual, a realidade aumentada do metaverso trará importantes contribuições à saúde digital. Permitirá que médicos de diferentes especialidades atuem juntos em uma telecirurgia, por exemplo. Também possibilitará que médicos observem modelos 3D dos órgãos de um paciente ou acompanhem o crescimento de um tumor. Sem falar de consultas médicas utilizando sons, imagens, sensações táteis e olfativas. A associação do metaverso com a telemedicina colocará o cuidado médico em um patamar jamais visto.
Algumas dessas tendências podem parecer distantes, mas os avanços acontecem mais rápido do que imaginamos.
Médico, presidente do Conselho do Instituto de Radiologia (InRad) e presidente do Conselho de Inovação (InovaHC), ambos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, e presidente do Instituto Coalizão Saúde (ICOS).