A liderança no setor de saúde sempre foi um desafio monumental, dada a complexidade e a sensibilidade do campo. No entanto, em tempos de crises, como a pandemia de COVID-19 ou dos eventos climáticos devastadores das enchentes no Rio Grande do Sul, os líderes precisaram transcender suas funções tradicionais a que estiveram por uma vida toda programados. A liderança inspiradora, com base na empatia, na escuta ativa e na habilidade de delegar, tornou-se um diferencial crítico para o sucesso organizacional e o engajamento de equipes visando alta performance.
A Empatia e o exemplo como bases da liderança inspiradora
Um líder inspirador na área da saúde não é apenas aquele que dita os comandos ou define estratégias, mas sim aquele que caminha ao lado de sua equipe, compartilhando a visão de futuro e criando um ambiente de colaboração e apoio mútuo. Winston Churchill, um ícone de liderança em tempos de crise e grande artífice da resistência inglesa durante a Segunda Grande Guerra, afirmou: “o sucesso é ir de fracasso em fracasso, sem perder o entusiasmo.” Esta citação exemplifica o papel de líderes que, em momentos de incerteza, mantêm viva a chama da esperança, da persistência e da resiliência. Na saúde, essa liderança é ainda mais crucial, pois é preciso cuidar de quem cuida – os profissionais de saúde que são cada vez mais demandados pelo tempo, exaustão e burnout.
Durante a pandemia de COVID-19, muitos líderes precisaram adotar um estilo de liderança que equilibrava firmeza no comando e compaixão. O líder que escuta suas equipes e entende suas dores é capaz de engajá-las mais profundamente. Ele cria um ambiente onde os desafios são compartilhados, mas as soluções são coletivas. Mahatma Gandhi, que pregava a liderança pelo exemplo, certa vez disse: “Seja a mudança que você quer ver no mundo.” Líderes que inspiram na saúde sabem que devem ser o exemplo de resiliência, humanidade e esperança, mesmo nas circunstâncias mais difíceis e adversas a que estejam expostos.
A Liderança Servidora: a força de delegar e escutar
No setor de saúde em especial, o conceito de liderança servidora é particularmente valioso. O líder servidor é aquele que, antes de liderar, busca compreender as necessidades dos seus liderados. Ele coloca as pessoas em primeiro lugar e usa seu poder para capacitar os outros, em vez de centralizá-lo. Jack Welch, um dos mais notáveis líderes corporativos do século XX, à frente da GE, destacou a importância de ouvir e delegar quando afirmou: “Antes você era o chefe. Agora, seu trabalho é claro: ser o líder. Antes você liderava com sua posição de poder. Agora, você lidera com a confiança.” Welch acreditava que o verdadeiro líder é aquele que capacita sua equipe a dar o seu melhor, inspirando confiança por meio da transparência e do apoio. A lógica empática da eterna preparação do seu segundo, do seu sucessor, do seu legado. Quantas oportunidades de crescimento na vida não são perdidas por falta desta visão?
Nas enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em maio deste ano, a liderança servidora foi fundamental. Gestores de hospitais, clínicas e instituições de saúde tiveram que delegar responsabilidades em meio ao caos, confiar em suas equipes e ouvir atentamente as necessidades imediatas dos profissionais e pacientes. Esses líderes foram fundamentais na organização rápida e eficaz dos recursos, bem como na manutenção do espírito de solidariedade e empatia durante a crise.
Liderança e a ampulheta do tempo
Tom Brady, para muitos o maior jogador de futebol americano da história, em seu discurso para alunos formandos na Universidade de Michigan, destacou a importância da qualidade do tempo e de não apressar ou pular etapas na vida, especialmente no que se refere à liderança. Ele mencionou que, muitas vezes, as pessoas se preocupam tanto em alcançar rapidamente o sucesso que perdem de vista o valor das experiências que moldam verdadeiros líderes. Isso se aplica diretamente à liderança na saúde, onde o desenvolvimento de habilidades como empatia, escuta ativa e tomada de decisão sob pressão exige tempo e amadurecimento.
Ser um líder antes da hora pode significar uma falta de preparação emocional e estratégica para lidar com crises e desafios complexos. Brady nos lembra que cada etapa é essencial para construir a base sólida de um líder, que não se trata apenas de alcançar uma posição de autoridade, mas de desenvolver o caráter e a resiliência necessários para guiar os outros de forma inspiradora. Esse processo de amadurecimento e aprendizado contínuo é o que diferencia líderes que comandam daqueles que inspiram e reflete a necessidade de valorizar cada passo ao longo do caminho.
A relação entre caráter e estratégia na liderança
O General H. Norman Schwarzkopf, conhecido por sua liderança militar inspiradora, comandante em chefe das tropas americanas na “Operação Tempestade no Deserto” durante a Guerra do Golfo, afirmou: “liderança é uma poderosa combinação de estratégia e caráter. Mas se você tiver de ficar sem um, fique sem a estratégia.” Essa frase, vinda de um gênio militar nessa disciplina, revela uma profunda verdade sobre a liderança em tempos de crise. No setor de saúde, onde vidas estão em jogo, o caráter do líder – sua integridade, empatia e resiliência – deve obrigatoriamente pesar mais do que qualquer plano estratégico elaborado. A estratégia é fundamental, mas a confiança e o caráter do líder são o que mantém as equipes unidas e motivadas a seguir em frente.
Durante a pandemia e nas enchentes, os líderes de saúde enfrentaram situações em que os planos previamente estabelecidos se mostraram inadequados. Nestes momentos, o que se destacou foi o caráter dos líderes: sua habilidade de fazer o que era certo, mesmo quando era difícil; de manter a moral elevada, mesmo em meio à exaustão; e de mostrar que estavam lado a lado com suas equipes.
Conclusão
A liderança inspiradora no setor de saúde é mais do que uma competência estratégica; é um ato de empatia e serviço. O líder que escuta, que delega e que lidera pelo exemplo é aquele que engaja sua equipe, promovendo um ambiente de colaboração e resiliência. Como nos ensina Schwarzkopf, em tempos de crise, o caráter de um líder pode ser mais valioso do que a melhor das estratégias. Portanto, se tivermos que escolher, que seja a integridade, a empatia e o exemplo que prevaleçam, pois são eles que, no final das contas, moldam verdadeiros líderes, constroem equipes inspiradas, comprometidas e de alto desempenho. Sejamos sempre farol de inspiração para aqueles que estão ao nosso lado.
Evandro Moraes, Superintendente Administrativo do Hospital Moinhos de Vento
Profissional com 36 anos de carreira, tendo foco na alta gestão estratégica de grandes corporações. Conhecimento agregado nos últimos 10 anos do segmento hospitalar e de saúde, sendo responsável direto por áreas de apoio e geradoras de resultados ao negócio do Hospital Moinhos de Vento em Porto Alegre: Suprimentos (Compras e Logística de Materiais), Infraestrutura (Engenharias Clínica, Predial, Eletromecânica e Obras), Tecnologia da Informação (hardware, software, dados e inovação), Saúde Digital (Telemedicina), Gestão Ambiental, Segurança Patrimonial e Estacionamentos. Administrador de formação, possui educação executiva pela Harvard Business School em “Valor no Cuidado à Saúde”, Pós-MBA pela Fundação Getúlio Vargas em “Inteligência em Negócios”, MBA executivo internacional pela University of California em “Gerenciamento de Negócios” e MBA pela Fundação Getúlio Vargas em “Supply Chain Management”. É professor convidado do programa de MBA em Gestão na Saúde da PUC/RS na disciplina de “Sustentabilidade em Saúde”, professor convidado da pós graduação em saúde da Faculdade Unimed, professor convidado do MBA em Saúde da Faculdade Moinhos de Vento e um dos 100+ influentes da saúde no Brasil em 2022 e 2023 pelo Grupo Mídia.