Cuidar do indivíduo com todas as suas particularidades, não somente da doença. Esse é o conceito da medicina de precisão, também conhecida como medicina personalizada – um modelo que visa reconhecer o tratamento correto, no momento correto, para o paciente correto. Uma estratégia que, além de otimizar os cuidados com a saúde e minimizar os efeitos colaterais, ganha cada vez mais aplicações na área da oncologia.
Conforme explica o médico oncologista e hematologista do Santa Rosa Onco, André Crepaldi, no sentido de buscar o aprimoramento dos tratamentos do câncer, a medicina de precisão procura adequar o histórico médico do paciente, seu estado clínico e as características moleculares da doença.
“Ela indica que por meio de estudo do indivíduo – através de análises laboratoriais e moleculares detalhadas – podemos ser mais precisos e personalizar um tratamento. Tanto em Mato Grosso como pelo país, essas tecnologias estão disponíveis por meio de laboratórios de apoio. Ou seja, o tratamento a ser instituído está disponível em todo território nacional. O futuro já está presente e vamos avançando a cada ano nesta direção”, ressalta.
Tais avanços foram apresentados recentemente na reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), que recebeu mais de 30 mil especialistas das mais diversas áreas da oncologia – entre eles, André Crepaldi –, em Chicago, nos Estados Unidos.
Durante o evento, que teve como tema “Entregando Descobertas: Ampliando o Alcance da Medicina de Precisão” (“Delivering Discoveries: Expanding the Reach of Precision Medicine”, em inglês), um estudo batizado de TAILORx apontou que a maior parte das mulheres com o tipo mais comum de câncer de mama em estágio inicial e com risco médio de reincidência da doença podem evitar a quimioterapia após a cirurgia.
Publicado na “New England Journal of Medicine”, a pesquisa relatou que cerca de 70% das pacientes com diagnóstico de câncer de mama de receptores hormonais positivos e HER2 negativo estariam aptas para serem tratadas apenas com terapia hormonal – que é mais amena e com menos efeitos colaterais, além de ser mais barata. Isto é, para casos em que os tumores estão em etapa precoce – antes de se espalhar para os gânglios linfáticos.
“No estudo, as características moleculares do câncer de mama de risco intermediário em um teste molecular chamado Oncotype DX mostrou que não é necessário a utilização de quimioterapia. Ou seja, anteriormente se utilizava mais tratamentos que tem seus efeitos colaterais por conta de não se saber exatamente o comportamento do tumor. Mas, hoje, estamos evoluindo para análises mais sofisticadas e tratamentos mais eficazes e personalizados”, reitera Crepaldi.
Vale ressaltar que a pesquisa foi realizada com 10.273 mulheres, com faixa etária entre 18 e 75 anos, selecionadas aleatoriamente para se submeterem a quimioterapia e terapia hormonal ou apenas terapia hormonal. O estudo teve como foco mulheres com pontuação intermediária, entre 11 e 25, no teste Oncotype DX – faixa que costuma gerar mais dúvidas acerca da possibilidade de benefício da quimioterapia. Entre os fatores avaliados na pesquisa também contaram o risco de reincidência e o período de sobrevida.