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Brasil pode liderar a bioeconomia global, alerta Patricia Ellen

Especialista em clima e ex-secretária de Desenvolvimento Econômico de SP destacou a convergência de oportunidades e a urgência de ação para o setor de saúde e dispositivos médicos no Brasil

A especialista em clima e economia de baixo carbono, Patricia Ellen, ex-secretária de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, fez um chamado contundente ao setor de saúde durante a Hospitalar 2025.

Em sua palestra, que integrou a programação exclusiva da ABIMED na maior feira de saúde da América Latina, ela destacou que o Brasil vive uma “janela histórica” para se posicionar como protagonista global na bioeconomia e na inovação em saúde.

Bioinovação e saúde: uma interseção estratégica para o Brasil

Patricia ressaltou que o Brasil tem uma oportunidade única de avançar na interseção entre biotecnologia, saúde e sustentabilidade.

Segundo ela, experiências internacionais mostram como políticas bem planejadas podem transformar setores inteiros em poucos anos.

“A China se tornou o maior produtor mundial de biofármacos de forma muito rápida. Conseguiu escalar exportações de produtos relacionados à biossaúde e gerou mais de 300 mil empregos só com essa iniciativa”, exemplificou.

Ela enfatizou que o Sudeste Asiático como um todo tem visto crescimento acelerado na área de biossaúde, e o Brasil não pode ficar para trás.

Além de criar empregos e gerar exportações, o avanço nesse setor pode ter impacto direto na redução de custos do sistema de saúde, especialmente ao incorporar tecnologias para prevenção e promoção de saúde.

Inclusão social, nutrição e segurança sanitária

Patricia destacou que o fortalecimento da bioeconomia impacta positivamente várias frentes: saneamento, segurança alimentar, saúde pública e inclusão social.

“Conseguimos reduzir significativamente os custos do sistema de saúde ao atuar não só com bioinovação e biotecnologia, mas também com melhorias na alimentação e na prevenção de doenças”, afirmou.

Ela apontou que o Brasil, com sua biodiversidade única e tradição científica, tem vantagens competitivas evidentes para liderar a bioinovação, mas reforçou: “Para fazer isso acontecer, precisamos construir pontes diretas entre a ciência, o setor privado e a formulação de políticas públicas.”

O contexto internacional: G20, BRICS e COP30

Um dos pontos mais relevantes da fala de Patricia Ellen foi o destaque à posição estratégica do Brasil na governança internacional.

Segundo ela, nunca houve uma convergência tão favorável: o país preside o G20, os BRICS e, em 2025, será anfitrião da COP30, maior conferência global sobre mudanças climáticas, que acontecerá em Belém.

“Temos ótimas relações diplomáticas com todos os atores relevantes: Estados Unidos, China, Índia e demais países asiáticos e do Oriente Médio. Além disso, lideramos os principais fóruns globais”, ressaltou.

Patricia, no entanto, fez um alerta: “Apesar disso, a participação do setor de saúde nesse debate é praticamente nula. Historicamente, não há presença ativa, nem no setor público, nem no privado.”

Ela relembrou que a presidência brasileira da COP30 incluiu, pela primeira vez, um eixo de saúde entre os pilares fundamentais da agenda climática, como consta nas cartas preparatórias assinadas pelas lideranças do governo brasileiro.

A urgência de uma participação ativa do setor de saúde

Patricia detalhou como o setor de saúde pode — e deve — participar das negociações e das ações da agenda climática global.

Ela explicou que as conferências da ONU sobre mudanças climáticas (COP) têm duas frentes principais: a de negociação, predominantemente governamental, e a de ação, aberta à participação do setor privado, sociedade civil e governos locais.

“Na COP, a agenda de ação é onde o setor privado realmente faz a diferença. Quando participei da COP em Glasgow, ajudei a fazer a ponte entre as secretarias de desenvolvimento econômico e os estados e municípios. Vi de perto como o setor produtivo pode liderar essa transformação”, relatou.

Ela informou que a estrutura da presidência da COP30 inclui um “High Level Champion” da Índia, responsável por liderar a mobilização da indústria global. Patricia colabora com essa agenda, atuando na gestão de atores-chave no setor privado.

“Existe uma plataforma chamada Business Coalition, e vocês estão convidados a integrar esses espaços”, convidou, dirigindo-se aos representantes do setor de dispositivos médicos presentes.

COP30 no Brasil: uma oportunidade inédita para o setor de saúde

A especialista detalhou como o setor pode se envolver com a COP30, que não se restringirá a Belém.

“Teremos eventos em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Belém, com fóruns técnicos acontecendo antes, durante e depois da conferência principal.”

Segundo Patricia, é fundamental que o setor de saúde participe ativamente desses fóruns, compartilhando experiências e liderando iniciativas que conectem saúde e sustentabilidade.

“Nosso sonho é ter vocês mais lá, não só na zona de negócios, mas também na área onde se tomam decisões importantes.”

Ela reforçou que existem oportunidades reais de negócios, ganhos de eficiência, redução de custos e melhoria na qualidade de vida da população a partir de uma atuação mais estratégica do setor de saúde na agenda climática.

Economia circular e resíduos hospitalares: um campo de impacto imediato

Patricia Ellen também destacou um campo concreto onde o setor de saúde pode ter impacto ambiental imediato: a gestão de resíduos hospitalares dentro da lógica da economia circular.

Ela apontou que o setor gera um volume expressivo de resíduos, especialmente plásticos, que são difíceis de recuperar e reciclar.

“Há uma certa flexibilidade nas regras de reciclagem, mas muitas vezes essa flexibilidade é utilizada de forma excessiva, criando um peso adicional de lixo”, alertou.

Apesar da necessidade de manter altos padrões de segurança, higienização e esterilização, Patricia defendeu que há espaço para avançar na gestão de materiais e na logística reversa.

“É uma das maiores oportunidades reais de impacto”, garantiu.

Ela mencionou um projeto iniciado com o Departamento de Desenvolvimento Nacional (DND), como exemplo de como o setor pode começar a implementar soluções práticas para reduzir sua pegada ambiental.

Bioinovação no Brasil: conhecimento e negócios em expansão

Ao final de sua fala, Patricia anunciou o lançamento iminente de um relatório sobre o desenvolvimento do conhecimento e da inovação em bioeconomia no Brasil.

Ela destacou que o país conta com aproximadamente 140 empresas relevantes no setor, e que a articulação entre essas organizações pode acelerar a transformação necessária.

“Temos uma massa crítica de empresas, centros de pesquisa e talentos. Agora precisamos alinhar tudo isso com as oportunidades globais e as políticas públicas”, afirmou.

Ela também citou uma pesquisa recente que demonstra a evolução das startups e das soluções de inovação na área de bioinovação, indicando que o país está no caminho certo, mas ainda precisa acelerar.

Um chamado às futuras gerações: a janela de oportunidade está se fechando

Encerrando sua fala, Patricia fez um apelo emocional, relatando sua recente viagem com as filhas à Amazônia.

Ela compartilhou a experiência de visitar uma comunidade indígena e destacou como esse contato reforçou sua convicção sobre a importância de preservar o meio ambiente para as futuras gerações.

“É a primeira vez que temos uma escolha que, se não for feita agora, as futuras gerações não terão a chance de fazer. A janela científica está se fechando”, alertou.

Ela destacou que, para além das oportunidades de negócios e de impacto positivo na sociedade, há um imperativo moral: “Salva vidas, gera impacto e cria a chance para que nossas filhas, sobrinhos e as próximas gerações possam escolher fazer ainda mais.”

A Hospitalar 2025 como palco para transformação

A palestra de Patricia Ellen integra a programação exclusiva promovida pela ABIMED na Hospitalar 2025, maior feira de saúde da América Latina.

O evento se consolida como um espaço essencial para debater os desafios e as oportunidades do setor de dispositivos médicos, conectando inovação, sustentabilidade e políticas públicas.

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