À frente dessa missão, Cintia Attis lidera uma engenharia hospitalar que une visão integrada, planejamento detalhado e foco no paciente
Gerir engenharia, manutenção e obras em um hospital não é como em nenhum outro setor. As instituições de saúde operam 24 horas por dia, 7 dias por semana, com demandas críticas e regulatórias rigorosas. A cada novo projeto ou reforma, é preciso garantir que nada comprometa o atendimento, que os fluxos clínicos sejam respeitados e que a segurança de pacientes e profissionais esteja sempre em primeiro plano. Tudo isso em meio à incorporação acelerada de tecnologias, à busca por sustentabilidade e à pressão constante por eficiência operacional.
Nesse cenário, a infraestrutura hospitalar deixou de ser apenas uma área de apoio para ocupar um papel estratégico nas decisões de longo prazo, influenciando diretamente a qualidade do cuidado, a experiência do paciente e a sustentabilidade das instituições.
À frente dessa missão em uma das maiores e mais tradicionais instituições do país está Cintia Attis, gerente-executiva de Engenharia, Manutenção e Facilities da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo. Com olhar técnico, sensibilidade para o cuidado e uma paixão declarada por inovação, ela conduz projetos de alta complexidade que vão desde a modernização do parque tecnológico até a construção da Faculdade BP — sempre com foco no impacto positivo para toda a cadeia assistencial.
Com formação sólida e dedicação ao aprendizado contínuo, Cintia aposta no lifelong learning como caminho para se manter atualizada em um setor em constante evolução. Participa ativamente de cursos, fóruns e conferências, cultiva redes de colaboração e mantém uma rotina de pesquisa voltada a inovações que envolvem o cuidado e o uso dos ambientes hospitalares. Fora da rotina intensa da gestão, ela também busca o equilíbrio entre vida profissional e pessoal por meio de atividades físicas, hobbies e tempo com a família — práticas que, segundo ela, ajudam a recarregar as energias e manter a mente saudável para liderar com clareza e propósito.
A seguir, os principais trechos da conversa que a Healthcare teve com ela.
Healthcare Management | Quais são as principais lições de gestão que você considera essenciais para liderar um setor tão desafiador quanto a engenharia de projetos e obras em uma instituição de saúde de grande porte?
Cintia: Liderar a engenharia de projetos e obras em um hub como a BP – que tem 165 anos de história e é uma das maiores instituições de saúde da América Latina – exige alinhamento total ao planejamento estratégico, com foco na experiência do cliente, na prevenção de impactos e na execução de iniciativas de expansão e modernização com responsabilidade e precisão.
Nosso dia a dia é bastante voltado ao planejamento detalhado de todas as etapas de cada projeto, convergência entre as diferentes iniciativas e monitoramento da alocação eficiente dos recursos. Para isso, identificamos constantemente as criticidades e temos um plano diretor de projetos e obras que direciona as prioridades, além de planos de contingência para lidar com imprevistos.
É importante considerar que o setor de saúde tem uma natureza complexa e os serviços funcionam 24 por 7. Pela responsabilidade envolvida, existem regulamentações rigorosas na área que devem ser seguidas antes, durante e após cada obra para garantir a segurança e a qualidade das instalações. Para atender essas necessidades, mantemos um time técnico de elevada competência capacitado para os acompanhamentos e fiscalizações e também envolvemos os profissionais de saúde nos projetos, com o objetivo de garantir que as mudanças e os fluxos sejam adequados aos serviços prestados na BP.
Outro aspecto que gosto de ressaltar é a importância de manter uma comunicação clara e constante com todas as partes envolvidas sobre os objetivos de determinado projeto e o caminho que trilharemos juntos para chegarmos a eles.
HCM: Como a BP integra inovações em seus projetos de infraestrutura para atender às crescentes demandas de qualidade e eficiência no cuidado ao paciente?
Cintia: O olhar estratégico é chave neste desafio. Somos um hub de inovações em saúde envolvendo ampliação do parque tecnológico, projetos de pesquisa, educação e estruturas altamente especializadas. Existem muitas iniciativas inovadoras, aperfeiçoamento de processos e novas soluções chegando em um ritmo acelerado, que reflete o nosso compromisso com a inovação e a excelência no cuidado ao paciente.
Adquirimos recentemente, por exemplo, novos robôs cirúrgicos que permitem cirurgias minimamente invasivas, com melhor qualidade e resultados, além de menor custo. Temos projetos com inteligência artificial, biologia digital, realidade aumentada, 5G e diversas tecnologias emergentes.
A estratégia de crescimento sustentável da BP tem como fio condutor a jornada do paciente, aliada à nossa busca contínua por transformação digital e excelência médica. A nossa área atua com esse foco, garantindo uma visão estratégica integrada e a eficiência técnica em todas as nossas entregas.
Existe algum projeto de infraestrutura que você está particularmente entusiasmada para implementar em 2025/2026?
Como parte da expansão da BP para a área da educação, um dos projetos de infraestrutura mais empolgantes é a construção da Faculdade BP, na Bela Vista, em São Paulo, a poucos metros do BP Mirante e do Hospital BP. Inicialmente, serão seis andares, sendo que três deles deverão estar disponíveis para utilização neste ano. Cada andar terá uma vocação própria, desde o atendimento humanizado, pensado para acolher os alunos e resolver questões burocráticas de forma ágil, até salas flexíveis, ambientes com divisórias móveis que se adaptam para aulas, palestras e eventos, conforme a programação. Teremos também biblioteca, coworking educacional e um espaço exclusivo para troca de ideias e aprendizado colaborativo. É um projeto que reflete a visão de futuro da BP ao integrar educação e tecnologia de ponta para formar profissionais altamente qualificados.
Outro projeto animador é a abertura de centros de excelência, fundamentais para a inovação e o desenvolvimento contínuo da BP. Neste ano, foi lançado o Centro de Ortopedia e Mobilidade com ambulatórios especializados em áreas como quadril, joelho, mão, pé, coluna, medicina do esporte e ortopedia geral, além de modernos equipamentos de diagnóstico por imagem e técnicas cirúrgicas minimamente invasivas. Outras especialidades em que a BP é referência também devem ganhar centros na nossa estrutura em curto e médio prazo.
Como você enxerga a evolução das construções hospitalares diante da demanda por espaços mais conectados, tecnológicos e sustentáveis? Qual o papel da BP nesse processo?
A BP tem papel ativo nessa transformação. Trabalhamos com práticas sustentáveis, como redução de emissões de CO2 e uso eficiente de recursos naturais, aliadas a soluções de automação e gestão de energia. Outro diferencial é a aplicação do design biofílico em nossos projetos, com luz natural, plantas e materiais sustentáveis, promovendo bem-estar, humanização e redução do tempo de internação.
Quais os maiores desafios que você antecipa para a engenharia hospitalar nos próximos dois anos e como a BP se prepara para enfrentá-los?
Dois desafios centrais são a qualificação da mão de obra e o controle de custos. Ambos impactam diretamente a execução de obras e atualizações tecnológicas. Para enfrentá-los, adotamos práticas de engenharia de valor, otimizando recursos, e promovemos treinamentos constantes, inclusive com terceiros, para garantir a qualidade das entregas.
Como a BP equilibra inovação em infraestrutura, qualidade nos serviços e viabilidade econômica nas obras e projetos?
Nosso equilíbrio vem do planejamento estratégico. Análises de viabilidade econômica estão presentes desde a concepção até a entrega de cada projeto. Monitoramos constantemente os resultados operacionais e o ciclo de vida dos ativos, evitando obsolescência e priorizando investimentos que agreguem valor assistencial.
Como a BP adapta suas estratégias de engenharia e construção às novas demandas da saúde e às necessidades de pacientes e profissionais?
O alinhamento ao planejamento estratégico da instituição é a nossa diretriz, pois sabemos que cada decisão pode impactar estruturas que têm suas finalidades específicas e, ao mesmo tempo, fazem parte dos cuidados de excelência que praticamos em nosso hub. Essa direção nos leva a buscar incessantemente práticas de gestão eficientes para garantir que os projetos sejam concluídos dentro dos padrões de qualidade estabelecidos, do prazo e do orçamento. Como comentei anteriormente, isso requer um planejamento aprofundado dos projetos e obras, a criação de planos de contingência para lidar com imprevistos e a implementação de sistemas de monitoramento.
Quais as principais metas da BP para 2025/2026 em inovação e infraestrutura, e como elas se conectam à missão de oferecer um atendimento de excelência?
Temos metas ambiciosas, como a modernização e expansão das operações e aquisição de novos equipamentos médicos em especialidades estratégicas — Oncologia, Hematologia, Neurologia, Cardiologia e Ortopedia. Também investimos fortemente na Faculdade BP, na transformação digital e em práticas sustentáveis, com foco na redução de emissões e eficiência no uso de recursos naturais.
Por fim, como você, pessoalmente, se mantém atualizada e motivada nesse setor tão dinâmico?
Procuro colocar em prática o conceito de aprendizado ao longo de toda a carreira (lifelong learning) participando de cursos, fóruns e conferências.
Reservo tempo também para o networking com profissionais da área, buscando mentoria e colaboração com colegas para os projetos mais desafiadores.
Mantenho uma rotina de pesquisa e leitura de artigos e inovações pertinentes que envolvem o cuidado e o uso dos ambientes. Além disso, busco um equilíbrio entre vida profissional e pessoal com a prática de atividades físicas regulares, hobbies e tempo para a família e amigos, que ajudam a recarregar as energias e a manter a mente saudável.