Um ano de recuperação. É assim que Carlos Goulart, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para a Saúde (Abimed), resume 2018. “O ano ainda não terminou, não temos os números finais, mas estamos acompanhando o setor periodicamente e dá para sentir a retomada do mercado. Estamos com uma expectativa positiva de que o final do ano chegará com crescimento relativamente bom”.
Do ponto de vista econômico, é sabido que 2018 foi um ano de grandes desafios. Mesmo sendo alvo de uma forte crise política, que impactou diversas áreas do país, o Brasil tem registrado crescimento no final deste ano. Segundo dados do Monitor do PIB-FGV, divulgados recentemente pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), a economia brasileira acelerou e registrou crescimento de 1% no terceiro trimestre, na comparação com o segundo trimestre. Somente em setembro, o Produto Interno Bruto (PIB) teve alta de 0,4%, na comparação com agosto.
Apesar da retração econômica observada em vários segmentos, o mercado de saúde brasileiro apresentou desenvolvimento em alguns segmentos da cadeia, como na saúde suplementar.
Especificamente sobre a indústria de produtos para a saúde, Goulart explica e analisa a pluralidade dos investimentos e crescimentos neste mercado. “Aqueles produtos ou equipamentos que não são de consumo, que não estão dependentes diretamente da demanda, acompanharam o humor do mercado. Se o mercado não está mostrando crescimento, uma unidade de saúde deixará, por exemplo, de fazer investimento em uma nova e mais moderna ressonância magnética. São dois componentes deste mercado: um em que a recessão não afeta a demanda e o outro que é afetado”, reflete Goulart.
Para o presidente da Abimed, como o mercado está apresentando melhora nos números, as empresas voltarão a investir e o setor será impulsionado financeiramente. Além do respiro econômico, o executivo ressalta outros fatores importantes que irão estimular a saúde em 2019. “O potencial de crescimento do nosso país é muito bom. É importante ressaltar o crescimento da demanda em função do envelhecimento da população, em uma procura por mais saúde e não necessariamente apenas a cura de doenças. Ainda temos que levar em conta a expectativa positiva do mercado com a alteração de governo. Nós sabemos que o setor de saúde é beneficiado por esses pontos”.
Além do crescimento do setor privado, Goulart apresenta uma visão otimista para o setor público da saúde, que também é dependente do desenvolvimento da economia nacional. “As expectativas também são positivas para as políticas de saúde. O setor espera que as políticas sejam de Estado, previsíveis e que tenham estabilidade, e não políticas de governo”, argumenta.
Para avançar nesse sentido, Goulart também pontua a importância da desburocratização do sistema e da implantação de políticas tributárias mais transparentes e menos complexas. “É também muito importante que estejamos mirando na questão da sustentabilidade e no compliance de todo o setor, pois é impossível ter crescimento sem pensar nesses dois pilares”, defende.
Visando incentivar a edificação dessas questões na indústria de produtos para saúde, Goulart revela que “em 2019, a Abimed estimulará as suas empresas a incrementarem programas de sustentabilidade e políticas de integridade para promover maior inserção da nossa indústria da cadeia global”.
A grande aposta
A Saúde 4.0 continua sendo a grande aposta do mercado para os próximos anos. “Essa revolução é muito grande e ela já começou”, assegura Carlos Goulart, presidente da Abimed. O termo parte da IV Revolução Industrial e traz uma concepção ampla que une o universo da tecnologia e o da saúde.
Dois conceitos são contemplados nessa nova perspectiva: computação em nuvem e internet das coisas (IoT). Entre outros fatores, a Saúde 4.0 prevê a digitalização de dados, interconectividade entre máquinas e comandos, bancos de dados mais eficientes e, principalmente, maior autonomia dos pacientes em relação à própria saúde.
Apesar de ser a grande aposta do setor e de estar atraindo olhares de todo o mercado, a Saúde 4.0 ainda precisa ultrapassar entraves, como a burocracia das regulamentações. “Os órgãos regulamentadores precisam estar atentos para acompanhar essa disruptura que estamos vivendo para permitir que os avanços tecnológicos sejam, de fato, realizados e que cheguem ao mercado para auxiliar na sustentabilidade do setor”, critica Goulart.
Além das políticas para facilitar e impulsionar a disrupção no mercado, o executivo ressalta que, para que a saúde tenha uma tecnologia que envolva mais a participação do paciente no processo do cuidado, é preciso também transformar a cultura do setor para evitar, por exemplo, exames duplicados. A tecnologia otimiza o fluxo de trabalho e eleva a qualidade do diagnóstico. “Assim, diminuiremos custos e aumentaremos a eficiência. Esse é o grande desafio e toda a cadeia precisa estar alinhada para trabalhar e contribuir para a sustentabilidade do sistema como um todo”, conclui Goulart.
Esta matéria foi publicada na 57ª edição da revista Healthcare Management.