Cinco mulheres, unidas pela mesma luta contra o câncer de mama, viveram juntas um momento inédito: foram submetidas, no mesmo dia, ao procedimento pioneiro de crioablação.
A intervenção fez parte do Estudo SIX, a maior pesquisa internacional em andamento sobre essa técnica minimamente invasiva.
Realizada no Hcor, em São Paulo, a iniciativa representa mais do que um avanço médico, é um marco de esperança para milhares de pacientes diagnosticadas anualmente com a doença no Brasil.
A crioablação consiste no congelamento do tumor a -170°C por meio de uma agulha fina guiada por imagem, sem necessidade de cirurgia, internação ou anestesia geral.
O procedimento é realizado em cerca de 30 minutos e permite que a paciente volte para casa no mesmo dia. Essa nova abordagem pode mudar radicalmente o futuro do tratamento do câncer de mama em estágios iniciais.
“Trata-se de um estudo robusto, com potencial de transformar a prática clínica. Um tratamento eficaz, seguro e com muito menos complicações e impactos para a vida da paciente. Poder liderar essa pesquisa é motivo de orgulho para o Hcor”, afirma Dr. Alexandre Biasi, superintendente de Ensino e Pesquisa do hospital.
A pesquisa clínica é coordenada pela mastologista Dra. Vanessa Sanvido, diretora e pesquisadora principal do Estudo SIX.
Segundo ela, o objetivo é comprovar que a crioablação tem eficácia semelhante à cirurgia tradicional para tumores de até 2 cm, sem envolvimento axilar, e que pode se tornar uma alternativa segura, rápida e com menor impacto físico e emocional.
“Nosso propósito é ampliar o acesso, evitar internações e oferecer uma recuperação mais rápida, sem cicatrizes cirúrgicas. Isso é especialmente relevante para pacientes que enfrentam longas filas por tratamento”, explica a Dra. Vanessa.
A KTR Medical, distribuidora da IceCure no Brasil, é uma das apoiadoras do estudo e fornece a tecnologia de crioablação utilizada.
A participação da empresa reforça a importância da cooperação entre ciência, setor privado e instituições de saúde para promover inovação com impacto social.
Segundo Freddy Sassoun, CEO do Grupo KTR, a crioablação é uma tecnologia que destrói o tumor por meio do congelamento, em um procedimento minimamente invasivo, guiado por ultrassom é realizado com anestesia local, o que representa um impacto significativamente menor para a paciente em comparação com a cirurgia tradicional.
A tecnologia teve início em Israel, conforme destaca o executivo, país onde a KTR mantém uma equipe médica dedicada a buscar soluções disruptivas para trazer ao Brasil.
Para Freddy, o propósito é claro: oferecer tecnologias acessíveis que ajudem a cuidar e salvar vidas.
Com mais de 750 mulheres previstas para participarem da pesquisa, a expectativa é que os resultados sustentem a inclusão da crioablação no rol de procedimentos cobertos por planos de saúde e, futuramente, também no SUS.
Dr. Afonso Nazário, chefe da Mastologia da Unifesp e líder da Mastologia do Hcor, esclarece que a primeira fase do estudo foi concluída no ano passado com resultados altamente promissores: a crioablação demonstrou 100% de eficácia nos casos de tumores com até 2 centímetros.
“É uma pesquisa inédita na América Latina e com potencial real de transformar o tratamento do câncer de mama. Agora, em março, demos início à fase mais robusta do estudo, com um número maior de pacientes e metodologia comparativa. Um grupo será tratado com crioablação, enquanto o outro seguirá com a cirurgia tradicional. A partir disso, vamos acompanhar a taxa de recorrência e a sobrevida das pacientes ao longo de dois a cinco anos. Ao todo, o estudo deve envolver cerca de 750 mulheres, em 15 hospitais do Brasil”, explica.
Mais do que dados e técnicas, a realização simultânea dos cinco procedimentos simboliza o poder da ciência quando conectada ao cuidado humanizado.
E é um lembrete de que cada avanço começa com a coragem de quem aceita participar de algo maior.