Coalizão COVID-19 Brasil apresenta resultado de estudo com medicamentos contra o novo coronavírus
Pesquisa feita por grupo de hospitais, rede e instituto de pesquisas brasileiros verificou que o uso de hidroxicloquina, sozinha ou associada com azitromicina, não mostrou efeito favorável na evolução clínica de pacientes adultos hospitalizados com formas leves ou moderadas de Covid-19
Uma aliança para condução de pesquisas formada por:
A primeira pesquisa, nomeada Coalizão I, avaliou se a hidroxicloroquina associada ou não à azitromicina, poderia trazer benefícios a pacientes adultos hospitalizados com formas leves a moderadas de COVID-19. Os resultados do estudo serão publicados no periódico científico New England Journal of Medicine, nesta quinta-feira (23).
O estudo contou com apoio da farmacêutica EMS, que forneceu os medicamentos, e foi aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O Coalizão I teve início no dia 29 de março, com inclusão do último paciente em 17 de maio, e seguimento clínico finalizado em 2 de junho. Foram incluídos 667 pacientes com quadros leves ou moderados (que não precisavam de oxigênio ou precisavam de, no máximo, 4 litros por minuto de oxigênio suplementar), em 55 hospitais brasileiros.
Por meio de randomização (sorteio) os pacientes receberam combinação de hidroxicloroquina, azitromicina mais suporte clínico padrão (217 pacientes); hidroxicloroquina mais suporte clínico padrão (221 pacientes); ou apenas suporte clínico padrão (grupo controle, 227 pacientes). A hidroxicloroquina foi usada durante 7 dias na dose de 400 mg a cada 12 horas e a azitromicina 500mg a cada 24h por 7 dias. O suporte clínico padrão foi de acordo com a equipe médica que assistia os pacientes, mas não poderia incluir hidroxicloroquina ou azitromicina.
O QUE ACONTECEU COM OS PACIENTES INCLUÍDOS NO ESTUDO?
O status clínico aos 15 dias foi similar nos grupos tratados com hidroxicloroquina e azitromicina, hidroxicloroquina isolada ou grupo controle. Por exemplo, após 15 dias, estavam em casa sem limitações respiratórias:
– 69% dos pacientes do grupo hidroxicloroquina + azitromicina + suporte clínico padrão;
– 64% dos pacientes do grupo hidroxicloroquina + suporte clínico padrão;
– 68% dos pacientes do grupo suporte clínico padrão.
EFEITOS ADVERSOS
No que diz respeito aos efeitos adversos, a pesquisa evidenciou dois pontos que merecem destaque:
1. Alterações em exames de eletrocardiograma (aumento do intervalo QT, que representa maior risco para arritmias) foi mais frequente nos grupos que utilizaram hidroxicloroquina, com ou sem azitromicina, comparada ao grupo que recebeu apenas suporte padrão.
2. Alteração de exames que podem representar lesão hepática (aumento de enzimas TGO/TGP detectado no sangue) foi mais frequente nos grupos que utilizaram hidroxicloroquina, com ou sem azitromicina, comparada ao grupo que recebeu apenas suporte padrão.
ÓBITOS
OBSERVAÇÕES
• Vale destacar que estes resultados não são aplicáveis a outras populações, a exemplo de pacientes ambulatoriais com formas mais leves e iniciais de COVID-19. Para estes pacientes, é necessário aguardar estudos randomizados robustos em andamento.
Os outros estudos da Coalizão COVID-19 Brasil em andamento
• Coalizão II – Avaliou casos de Covid-19 mais graves que necessitaram de maior suporte respiratório. Todos os pacientes receberam hidroxicloroquina, e de forma aleatória (sorteio), os pacientes foram alocados em dois grupos: um que recebia adicionalmente azitromicina, e outro que não recebia azitromicina (grupo controle). Todos os pacientes receberam tratamento padrão que incluía hidroxicloroquina. Em breve os resultados serão divulgados.
• Coalizão III – Avalia a efetividade da dexametasona para casos de Covid19 com síndrome respiratória aguda grave. A dexametasona é uma medicação com ação anti-inflamatória. Inclusão de pacientes encerrada com 299 casos em 40 centros. Resultados devem ser publicados brevemente.
• Coalizão IV – Está avaliando se a anticoagulação plena com rivaroxabana traz benefícios para pacientes com COVID-19 com risco aumentado para eventos tromboembólicos. Foram incluídos 10 de um total previsto de 600 pacientes em 40 centros.
• Coalizão V – Está avaliando se a hidroxicloroquina previne o agravamento da Covid19 em pacientes que não precisam de internação hospitalar. Foram incluídos 454 de um total previsto de 1300 pacientes em 68 centros.
• Coalizão VI – Avaliou se o tocilizumab, um inibidor da interleucina 6, é capaz de melhorar a evolução clínica de pacientes hospitalizados com COVID-19 e fatores de risco para formas graves inflamatórias da doença. Inclusão de pacientes encerrada com 129 casos em 12 centros. Atualmente os pacientes estão sob acompanhamento clínico e os resultados deverão ser publicados em breve.
• Coalizão VII – Está avaliando o impacto a longo prazo, após alta hospitalar, incluindo qualidade de vida, de pacientes que tiveram Covid19 e foram participantes dos demais estudos da Coalizao. Em andamento. Foram incluídos 529 pacientes.
• Coalizão VIII – Avaliará se anticoagulação com rivaroxabana previne agravamento da doença com necessidade de hospitalização em pacientes não-hospitalizados com formas leves da COVID-19. Previsão de início de inclusão em Agosto/2020 (1.000 pacientes).