Por mais que um piloto de uma nave interespacial seja treinado com as mais imprescindíveis técnicas e competências, ele precisará ser auxiliado pela Inteligência Artificial (IA) para tomar as decisões corretas sobre o percurso. É assim que Paulo Henrique Fraccaro, superintendente da ABIMO (Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios) exemplifica a importância da inovação em prol do desenvolvimento tecnológico.
Saindo da galáxia e aterrissando no planeta Terra, a discussão sobre IA pode se tornar num roteiro de um filme de ficção científica futurística, em que os homens são substituídos por máquinas. “Como faremos para salvar o ser humano das máquinas? Acho que não precisaremos nos salvar. Acredito que vamos fundir os seres humanos com as máquinas”, analisou o filósofo Luiz Felipe Pondé, durante a palestra de encerramento da sétima edição do CIMES (Congresso de Inovação em Materiais Equipamentos para Saúde).
Para Pondé, a implantação das máquinas na vida do ser humano é uma realidade. Ao trazer esse tema para a Saúde, o filósofo supõe que existirá um dia em que o paciente poderá escolher pelo atendimento de um médico artificial. “Um dia, quando acordarmos, nós estaremos totalmente integrados a ideia de que ao vivenciar uma consulta médica, além da interface com o doutor, teremos parte do procedimento feito por inteligência artificial”.
Ciente da importância dessa discussão no setor, a sétima edição do CIMES trouxe o tema “Inteligência Artificial na indústria da saúde: risco ou oportunidade?”. O evento, promovido pela ABIMO, uniu, durante dois dias do mês de agosto, especialistas da área de saúde para debater sobre a importância da inovação em dispositivos médicos e odontológicos na era da inteligência artificial.
“A inteligência artificial veio para ficar e está se desenvolvendo cada vez mais, abrangendo desde questões simples – como uma decisão da análise de uma triagem de paciente – até assuntos mais complicados, como diagnósticos complexos de doenças. Trata-se de um assunto que não tem volta em todo o nosso setor. O futuro é esse e se ficarmos fora dessa discussão, o Brasil irá continuar fazendo tecnologias do século passado”, analisa Ruy Baumer, presidente do Sinaemo.
Segundo Franco Pallamolla, presidente da ABIMO, trata-se de um tema de vanguarda. O executivo explica que, além de trazer pautas já tradicionais da agenda da inovação, o CIMES tem como objetivos discutir temas modernos. “A inteligência artificial pode agregar ganhos de eficiência e produtividade. Então, nós trouxemos esse assunto para que a indústria o coloque em seu radar nos próximos anos”.
“O CIMES já se constituiu num importante fórum de debates de todos os atores, que juntos fazem a inovação na saúde”, ressalta Pallamolla, presidente da ABIMO. Seguindo premissa de Pallamolla, Ricardo Valentim, coordenador do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (Lais), evidencia a importância de o evento unir academia, indústria e executivos para discutirem as pautas de inovação. “O CIMES aglutinou o que tem de melhor no Brasil para uma discussão estratégica, contribuindo com o nosso país e com a questão do complexo industrial da Saúde brasileiro”, acrescenta Valentim.
“É importante registrar que o mercado de produtos para a saúde é um dos mais inovadores do mundo. Se a indústria brasileira não investir em inovação, certamente ficará para trás. Então, o CIMES é importante para o setor por trazer a oportunidade da discussão e apresentação de cases”, acrescenta Leandro Rodrigues Pereira, gerente geral de tecnologias de produtos para a Saúde da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
A caminho da inovação
“A importância desse evento no setor da Saúde é de ser um motivador. Cada vez mais percebe-se que, para ser um inovador, não existe apenas um único caminho, mas sim uma somatória de direções e a cada ano estamos tentando identificar qual é o caminho para ajudar a inovação. Já trouxemos as discussões sobre tecnologia 4.0, internet das coisas e agora a inteligência artificial”, revela Fraccaro, superintendente da ABIMO.
Nesse sentido, Donizetti Louro, Professor Pesquisador GAESI/FMUSP e CEO da Lauris Tecnologia, assegura que a IA não é uma utopia no setor. “Hoje, a inteligência artificial na área médica é preponderante. Ela está em sistemas embarcados, em aparelhos de aquisição de dados por diagnósticos eletrofisiológicos, na condição de se realizar uma imagem tomográfica de maneira assertiva e na identificação de novas patologias”, explica.
Para Thiago Rodrigues Santos, diretor do Complexo Industrial em Inovação e Saúde do Ministério da Saúde, o avanço da inteligência artificial é de extrema importância para o desenvolvimento da Saúde. “Hoje, temos muitos dados em saúde e precisamos organizá-los para ter mais informações e poder desenhar políticas públicas adequadas para o sistema”.
“O CIMES já se constituiu num importante fórum de debates de todos os atores, que juntos fazem a inovação na saúde.”
Franco Pallamolla, presidente da ABIMO
Velocidade de inovação
O mercado de saúde vive um momento único de transição, em que a ineficiência dá lugar à tecnologia. Nesse sentido, a velocidade da inovação torna essa transformação em um processo árduo.
Segundo Leandro Rodrigues Pereira, gerente geral de tecnologias de produtos para a Saúde da Anvisa, a velocidade da inovação na saúde traz também a demanda pela inovação do setor público. “Há uma necessidade de união de esforços dos diversos entes reguladores e normativos para poder trabalhar o tema em conjunto. E, de alguma forma, isso já é uma realidade hoje em dia”.
No setor público, para impulsionar a inovação, Thiago Rodrigues Santos, diretor do Complexo Industrial em Inovação e Saúde do Ministério da Saúde, revela que o MS tem trabalhado para criar novas ferramentas. “No ano passado, publicamos o Decreto 9245, que estabelece a política nacional de tecnologia e inovação em Saúde. Agora, estamos trabalhando em alguns normativos e portarias interministeriais para desenhar algumas ferramentas para o desenvolvimento de projetos”.
Aliança de incentivo à inovação
Para incentivar a indústria de equipamentos médicos e hospitalares a investir em inovação, a ABIMO, na figura de seu presidente, Franco Pallamolla, e a EMBRAPII (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), na de seu diretor-presidente, Jorge Almeida Guimarães, firmaram uma importante aliança durante a cerimônia de abertura do 7º CIMES.
“Trata-se de um marco histórico. A EMPRAPII tem um fluxo permanente de recursos e um manancial de know-how que supre as empresas que lá demandam. A aliança que a ABIMO e a EMBRAPII firmaram pressupõe que a Associação irá realizar uma mentoria, identificando gargalos tecnológicos e fazendo uma interface com as unidades EMBRAPII”, explica Pallamolla.
O superintendente da ABIMO, Paulo Henrique Fraccaro, ratificou as informações fornecidas por Gordon, acrescentando que “cerca de 60% das nossas associadas são empresas com faturamento de até R$ 10 milhões por ano. A parceria com a EMBRAPII é fundamental, justamente, porque vai permitir um aumento no volume de verba disponível para projetos de inovação”.
Segundo o diretor de planejamento e gestão da EMBRAPII, José Luis Gordon, a aliança pretende estimular projetos de PD&I (Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação) entre empresas e Unidades EMBRAPII, tornando a instituição referência para atividades de pesquisa e inovação do setor. “A maioria das empresas do Brasil não tem centro de PD&I. O acordo vai aproximar e estreitar as relações do setor com as Unidades EMBRAPII, que contam com infraestrutura de ponta e equipes de pesquisa capacitadas para atender as demandas do mercado”, salientou Gordon.