“Como os apps de TI na saúde ajudam a reduzir o número de erros médicos”, por Renato Sabbatini
Existem muitas evidências de que o uso de sistemas de informação em saúde, como PEPs, RIS, LIS, PACS, etc. pode diminuir muito os erros que são cometidos em sistemas baseados em papel, colocando a segurança do paciente (safety x security) em risco.
Mas como os aplicativos podem contribuir nesse sentido?
Para responder a essa pergunta, deve-se identificar as fontes de erro médico e as frequências relativas de cada tipo.
Deve-se também ter em mente que eles podem variar muito de acordo com o país, tipo de instituição (por exemplo, consultório médico, hospital, etc.) e especialidade médica.
Em geral, estas são as principais fontes de erro médico:
- Erros de diagnóstico: o médico identifica uma causa errada para o problema de saúde do paciente, levando a um tratamento ou terapia errada; ou um diagnóstico correto, mas atrasado;
- Erros de medicação: podem ser de vários subtipos, como medicamento errado ou ineficaz selecionado para o problema, erro de dosagem, interações não testadas entre os diferentes medicamentos que o paciente está tomando, alergia a medicamentos, reações adversas indesejáveis, sendo o medicamento ministrado aos pacientes errados (sim, isso acontece muito!).
- Solicitar procedimentos que sejam muito arriscados ou sem as precauções prescritas, ou ainda ignorando as contraindicações.
- Erros cometidos durante procedimentos ou cirurgias (como seccionar uma artéria ou esquecer instrumentos cirúrgicos dentro do paciente).
- Infecções causadas ao paciente devido à esterilização insuficiente ou defeituosa, como em uma linha de cateter central ou urinária, instrumentos ou dispositivos contaminados.
- Dispositivos médicos defeituosos, como renderização de medições erradas, dispositivos não calibrados, dispositivos fora de serviço.
- Erros induzidos por informações sobre o paciente: informações incompletas, erros na entrada de dados, notas manuscritas ilegíveis, dados desatualizados ou obsoletos, notas misturadas entre pacientes, informações perdidas.
- Negligência e esquecimento, como aqueles que levam ao paciente sofrer quedas ou feridas.
- Proteger dados médicos eletrônicos de hackers e violações de integridade também é um erro grave que pode ser atribuído a esta categoria.
Agora, como a tecnologia pode ajudar? Os especialistas têm certeza de que a informação e as tecnologias eletrônicas podem ajudar, e estão ajudando, de várias maneiras a prevenir erros médicos, e há ampla evidência científica para isso, por exemplo:
- Medicação: cálculos de dosagem assistidos por computador, detecção de dosagens erradas, alertas automáticos para potencial interação medicamentosa, identificação positiva e inequívoca do paciente, regras automatizadas para teste de alergias declaradas, intolerância a drogas, indicação errada, contraindicações.
- Registros eletrônicos de saúde: devem ser completos, interoperáveis com outras fontes de informação, como resultados de laboratório e imagem, outros RESs contendo informações do paciente, testes de precisão automatizados, como testes para limites mínimos e máximos válidos para dados quantitativos, detecção de dados incongruentes, indicação incorreta de procedimentos.
- Diagnóstico errado ou tardio, melhores decisões terapêuticas: o que chamamos de suporte à decisão clínica (CDS) agora é um recurso obrigatório para S-RESs em vários países, incluindo no Brasil, através de um processo de certificação pela SBIS (Sociedade Brasileira de Informática em Saúde).
- Eles podem, com base nos dados do paciente, sugerir todos os diagnósticos possíveis ao médico, interpretar dados laboratoriais automaticamente, calcular regimes terapêuticos, sugerir protocolos padrão para o tratamento de doenças específicas, etc.
- Bons exemplos são a plataforma de Inteligência Artificial Watson da IBM, usada para planejar os melhores regimes quimioterápicos no câncer ou o aplicativo DeepMind do Google para prever complicações de saúde com base em imagens da retina.
- Medidas fortes e eficazes para proteger os dados pessoais e de saúde dos pacientes contra roubo, alteração, hacking também são soluções tecnológicas.
Uma das missões mais importantes das aplicações de TI na saúde é diminuir a variabilidade do conhecimento, que acontece quando a equipe médica ou de enfermagem varia muito em termos de habilidades e experiência. Isso ajudará na prevenção de muitos erros médicos.
Para isso, recursos de treinamento e educação usando e-learning, e-books, artigos on-line, recursos de busca inteligente podem ser disponibilizados nos pontos de atenção, mediante a vinculação direta dentro do PEP, usando padrões de interoperabilidade, como o HL7 Infobuttons e CDS Hooks & Cards.
A TI mudou significativamente as questões relacionadas à segurança do paciente e à detecção e prevenção precoces de erros médicos. A certificação dos S-RES pela SBIS, dos sistemas de computador e redes, e de maturidade de adoção (como o EMRAM: Electronic Medical Record Adoption Model da HIMSS), usando normas de referência nacionais ou internacionais são fortemente recomendados (e, em alguns países, obrigatórios).
Referências
- Wálleri C Reis et al.: Impact on process results of clinical decision support systems (CDSSs) applied to medication use: overview of systematic reviews. Pharm Pract (Granada). 2017 Oct-Dec; 15(4): 1036.
- Certificação de S-RES da SBIS: www.sbis.org.br/certificacao-sbis
- HL7 International: Open Infobuttons (www.openinfobuttons.org ) e CDS Hooks (www.cds-hooks.org )
O Prof. Renato M.E. Sabbatini é uma das maiores autoridades internacionais em tecnologias de informação em saúde, e um dos poucos brasileiros que são Fellows (membros fundadores) da prestigiosa International Academy of Health Sciences Informatics (IAHSI).