Covid-19: Se é golpe ou não, não importa agora

No tempo do meu avô, as pestes e vírus internacionais demoravam de 1 a 4 meses para chegar até nós, pois vinham de navio! Hoje, com a globalização, até os vírus se adaptaram, viajam de avião e chegam em poucas horas.

Quem diria que rapidamente esse tão falado “vírus chinês” pudesse estar tão perto de nós? Tenho me deparado com pessoas que dizem que o novo coronavírus (CODIV-19) é um golpe da China no Ocidente, que estamos sendo manobra de massa, que é uma jogada econômica e que a histeria é maior que a periculosidade do vírus. Mas absolutamente isso é o que menos importa agora!

Eu trabalho em hospital, e pude ver de perto, veja bem, não ouvi dizer e nem tampouco li; EU VÍ e tenho acompanhado um caso de degradação clínica onde o paciente está sendo assistido na UTI por causa do coronavírus.

Não vou entrar em detalhes para preservar o paciente e a instituição que trabalho, só comento que fomos o hospital a ter o segundo caso de todo o Paraguai, e o primeiro a anunciar publicamente a presença de um caso conosco!

“É uma simples gripe como qualquer outra, com maior risco para as pessoas acima de 60 anos; são as pessoas que estão exagerando nas precauções.” Isso é a segunda coisa que mais tenho escutado e lido nos grupos de WhatsApp, e a primeira coisa que mais ouço é que isso é um golpe chinês na economia do resto do mundo!

Eu gostaria de chamar a atenção de que se é golpe ou não, não importa agora! O que mais importa é baixarmos as curvas estatísticas de contágio, e a melhor forma é a reclusão domiciliar; não há ainda outro meio. Não tem que ficar com medo ou em pânico, mas não podemos achar que é algo simples e normal! NÃO PODEMOS!

Porém, concordo que os efeitos de um completo lockdown trará vários transtornos emocionais as pessoas e pior, a economia que permite o controle e equilíbrio da saúde populacional. BOM SENSO e muito cuidado é importante, para todos, não somente governos mas em nós mesmos.

Lastimosamente surgem muitas fake news, muitos pseudo especialistas, vídeos falsos, áudios alarmantes e dados estatísticos infundados. Mas como saber identificar uma fake news?

Então, ouvi algumas dicas: Se começar com: compartilhem, urgente (de forma alarmante), normalmente é um sinal de FN. Outra dica: não acreditem num vídeo ou print de qualquer meio de comunicação importante se não tiver o link pra você clicar o ir conferir no site e na fonte da informação. E, por fim, dê prioridades nos jornais e canais de TVs mais conhecidos. Certamente eles têm mais recursos financeiros e mais jornalistas pra averiguarem as fontes de informações melhor que nós.

Aqui no Paraguai, algumas medidas “drásticas” e “exageradas” foram tomadas assim que anunciamos a presença de um caso positivo em nossa instituição. Isso foi há pouco mais de duas semanas. Medidas essas que estão causando tanto pânico e medo na população que as ruas estão desertas. Fronteiras fechadas, inclusive com fechamento da Ponte da Amizade.  Há um decreto de toque de recolher – após às 20h (até às 4h da manhã) qualquer pessoa que for encontrada na rua pelas autoridades sem justificativa fará companhia para o Ronaldinho Gaúcho rsrs.

Várias lojas estão com seguranças na porta regulando a entrada de um por um. Tem supermercado aqui com enfermeira aferindo a temperatura e, se tiver elevada, a pessoa nem entra para fazer as compras. As aulas foram obrigatoriamente suspensas por 15 dias, assim como também todo culto de qualquer denominação religiosa, qualquer evento ou reunião foi cancelado e há uma forte recomendação para as empresas permitirem os funcionários trabalharem de casa. É assustador, não é mesmo?

Mas, por incrível que pareça, após cerca de um mês (25 de fevereiro chegou o primeiro caso, um paciente oriundo da Itália), temos registrado apenas 41 casos confirmados no Paraguai (26 de março), com três mortes.

Parei de criticar as ações “absurdas” e “apavoradas” do governo e das empresas, pois 41 casos em um mês de presença do vírus é um patamar relativamente baixo. Quando digo ações medrosas eu me refiro a toda população paraguaia em si.

Hoje, mesmo quando fui a um pequeno supermercado, entrei no corredor entre as gôndolas e me deparei de frente com uma pessoa. Ambos demos meia volta e retornamos para não cruzarmos muito perto e me senti o próprio Pac-Man do joguinho Arcade rsrs. Alguns dias atrás saiu no noticiário que um grupo de brasileiros foi preso por não cumprir a determinação do toque de recolher.

Agora, pare e analise aí no Brasil: quanto tempo faz que soubemos do primeiro caso no Hospital Albert Einstein? Quantos casos e mortes já foram temos registrados? Até esta data, já são 77 mortes por conta da doença no país. “Ah, mas eram idosos ou pertenciam ao grupo de risco.” Não importa, absolutamente não importa. Eles poderiam estar entre seus familiares e netos ainda, mas não estão mais!

Não quero aqui fazer uma comparação entre o Brasil e o Paraguai, até porque eu tenho a plena certeza de que o Brasil, por ser economicamente maior, tem mais facilidade e capacidade de fornecer atenção clínica. Além disso, tem uma população muito maior. Nem tampouco quero levantar a bandeira para a responsabilidade do governo.

Quero mesmo é chamar a atenção ao individual: parece que estamos subestimando a capacidade letal e de propagação do vírus. Até poucos dias atrás, tínhamos praias cheias, pessoas manifestando nas ruas etc. O que você está fazendo para ajudar a parar isso? Sinto-me mais seguro aqui no Paraguai! E aproveito para parabenizar o governo daqui por reconhecer suas limitações e agir prontamente dentro das suas possibilidades.

Se o coronavírus realmente for um golpe econômico da China no resto do mundo, NÃO IMPORTA AGORA!

Que Deus nos abençoe e nos proteja!

*artigo publicado na edição 68 da revista Healthcare Management. 

Veja mais posts relacionados

Próximo Post

Healthcare Management – Edição 92

Healthcare - Edição 92

Healthcare - Edição 92

COLUNISTAS