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Diagnósticos estão mais precisos com a biologia molecular

O diagnóstico molecular, área da medicina que utiliza técnicas de biologia molecular para identificar alterações genéticas, moleculares ou bioquímicas associadas a doenças, além de buscar pelos ácidos nucléicos de agentes infecciosos que possam estar presentes, ainda representa apenas 12% dos exames realizados no Brasil.

Essa abordagem é especialmente útil para detectar enfermidades de forma mais precisa, rápida e precoce, muitas vezes antes mesmo do surgimento dos sintomas.

No entanto, para ampliarmos esse percentual no país, é fundamental investir em infraestrutura, formação de profissionais e políticas públicas que ampliem o acesso, tanto no SUS quanto na saúde suplementar.

Apesar desse cenário, a biologia molecular já vem transformando a prática diagnóstica no Brasil, oferecendo rapidez, precisão e possibilidades de personalização.

Com essas técnicas, conseguimos identificar doenças antes mesmo de seus primeiros sinais clínicos — o que muda a lógica da assistência em saúde, trazendo ganhos concretos em qualidade de vida e sustentabilidade para o sistema.

Deixamos de focar apenas no tratamento para adotar uma abordagem mais precisa e até mesmo preventiva, com a popularização dos testes moleculares.

Essa mudança já é evidente em áreas como a oncologia, genética e infectologia.

Um estudo brasileiro demonstrou que o uso de sequenciamento de nova geração (NGS) em DNA tumoral circulante, em pacientes com câncer de pulmão, gerou uma economia de R$ 2 mil por paciente ao ano, com benefícios terapêuticos importantes.

No caso do câncer de mama, um teste genômico permitiu evitar a quimioterapia em casos de baixo risco genético, mantendo 95% de sobrevida livre de metástase.

Também há evidências robustas no campo das doenças genéticas.

Nos Estados Unidos, o sequenciamento rápido do genoma completo em recém-nascidos criticamente doentes levou ao diagnóstico correto em 43% dos casos, com ajustes terapêuticos em 26%, além da redução de custos hospitalares entre US$ 800 mil e US$ 2 milhões por paciente.

Para as doenças infecciosas, a abordagem sindrômica por PCR em tempo real — estratégia diagnóstica que utiliza painéis de testes moleculares para investigar, de forma simultânea, diversos agentes causadores de uma síndrome clínica, com base nos sintomas do paciente — permite um diagnóstico mais rápido e preciso.

O resultado desses testes tem contribuído para a redução de hospitalizações e do uso indiscriminado de antibióticos e outros medicamentos.

Com base na eficácia da biologia molecular, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (CONITEC) — órgão do Ministério da Saúde — recomendou, em 2024, a substituição do método tradicional de rastreio de HPV no SUS pela testagem molecular.

A decisão foi baseada em evidências científicas que demonstram a maior sensibilidade e eficácia dessa abordagem em comparação com o exame de Papanicolau.

O novo método permite a detecção precoce de infecções por HPV de alto risco, possibilitando intervenções mais eficazes e melhoria na qualidade de vida das pacientes.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) também recomenda o uso de testes moleculares como estratégia principal para o rastreamento do câncer do colo do útero, com o objetivo de eliminar a doença como problema de saúde pública até 2030.

A utilização dessas técnicas promove, acima de tudo, qualidade de vida aos pacientes.

 

*Guilherme Ambar é biólogo e CEO da Seegene Brazil

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