“Discutindo contenção de custos em redes próprias e credenciadas de operadoras”, por Enio Salu

Referências: Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil

(*) todos os gráficos e tabelas são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil

Hoje encerramos a primeira das 3 turmas do programa de capacitação em gestão de custos para Unimeds do Estado de São Paulo que acontecem nestes últimos 3 meses do ano … e que ano está sendo este !

  • É claro que sou suspeito para afirmar que a Federação das Unimeds do Estado de São Paulo não poderia ter tomado decisão mais oportuna do que dar a oportunidade aos gestores das singulares vinculadas de se atualizarem em métodos adequados para apuração de custos, e em ferramentas práticas para gestão dos custos;
  • Apuração dos Custos e Gestão dos Custos são coisas absolutamente complementares … interdependentes … mas são coisas completamente diferentes !
  • Ter a oportunidade de discutir isso … passar a experiência prática … é muito gratificante !!

O gráfico acima foi construído a partir dos dados publicados no web site da ANS, e demonstra a evolução relativa dos custos das operadoras desde 2013 até 2020:

  • As “barras azuis” ilustram a proporção entre as despesas assistenciais das operadoras e o total das suas receitas;
  • As “barras laranjas” ilustram a proporção entre as mesmas despesas (as assistenciais) e as receitas captadas em contraprestação (o valor pago pelos beneficiários de planos de saúde).

As curvas demonstram que as operadoras vêm, de anos, trabalhando fortemente para reduzir as despesas indiretas … as não assistenciais:

  • Quanto mais a “barra azul” se aproxima da “barra laranja”, menor a proporção de custos administrativos, comerciais e outros !
  • Mas elas mostram também que 2020 foi “o Eldorado” das operadoras … veja que em 2020 a proporção das despesas assistenciais é extremamente menor que nos anos anteriores, significando que em 2020 “o que entrou de dinheiro” foi proporcionalmente muito maior do que “o dinheiro” empenhado no tratamento das doenças dos beneficiários !

A “barra laranja” é emblemática porque representa a essência da operação de um plano de saúde:

  • A diferença entre o que se cobra do beneficiário e o que se gasta para tratar a sua doença … o que chamamos realmente de “custo”;
  • O resto é quase exclusivamente “despesa”, ou seja, aquilo que se gasta para que a operadora “possa funcionar” … e o seu “lucro” !
  • A melhor empresa do mundo … a que não existe … não tem despesa … só tem custo e lucro !
  • Portanto, quanto menor a despesa, mais eficiente, eficaz e efetivo é o negócio da empresa !

Isso aconteceu em todos os tipos de operadoras (ou modalidades, como “denomina” a ANS):

  • Na maioria absoluta delas a queda proporcional em 2020 foi muito grande … como demonstra o gráfico;
  • Apenas nas seguradoras a queda não foi tão sensível … e elas são, em número, não em volume de beneficiários, infinitamente menores do que as demais;
  • Da mesma forma que as que tiveram maior queda nos custos em 2020 comemoraram muito … justamente estas que tiveram na pandemia um lucro que jamais imaginariam que pudesse ocorrer um dia … estas são as que mais devem se preocupar em 2022;
  • As cooperativas estão no meio delas … por isso afirmar “sem medo de errar” que a Unimed FESP “acertou na mosca” com esta capacitação … neste momento histórico.

Pude disponibilizar para os participantes farta quantidade de planilhas que disseminam os métodos de cálculo de rentabilidade e de custos, exemplos reais … uma planilha que simula a evolução do resultado operacional de cada uma das Unimeds do Brasil … pudemos tratar o assunto sem viés … com os pés no chão … com maior foco na prática do que na teoria … até porque os livros que dão base conceitual a tudo estão disponíveis para download gratuito em páginas na Internet há anos, colecionando algumas centenas de milhares de downloads !!

Vamos entender o cenário com números …

Podemos projetar uma infinidade de cenários diferentes para 2022 … a tabela ilustra uma projeção bem viável:

  • Despesas Administrativas, Comerciais e Outras, proporcionalmente no mesmo patamar de 2019, supondo que as estruturas internas das operadoras estejam dimensionadas da mesma forma em 2022 como estavam antes da pandemia;
  • Receitas proporcionalmente no mesmo patamar de 2020, supondo que os reajustes de preços dos planos coletivos e individuais, na média, mantenham as receitas gerais mais ou menos no mesmo nível em 2022 … até que os reajustes de preços que ocorrerão somente no segundo semestre de 2022 componham “o novo normal da saúde suplementar”;
  • E os custos (as despesas assistenciais) sejam maiores, acumulando em 2022 aquilo que não foi realizado em 2020 e 2021 … as eletivas que foram adiadas e vão acumular em 2022.

Quem é do ramo sabe que este cenário é “conservador” … “bonzinho” para as operadoras … a maioria absoluta delas “reza para que fique somente nisso” para conseguir “assimilar o golpe e partir para o contragolpe” !

Se aplicarmos esta projeção nos números, atualizamos o primeiro gráfico e chegamos nesse:

  • A proporção de despesas assistenciais em relação ao total de receitas “bate recorde”, superando 2016;
  • A proporção de despesas assistenciais em relação às receitas de contraprestação alcançará um recorde que talvez nem na próxima pandemia, sei lá quando, possa ser batido !

Porque estamos vivendo um cenário completamente inusitado:

  • Anualmente o reajuste de preços dos planos “repõe” a sinistralidade do ano anterior … mas nunca tivemos tanta variação de um ano para outro como na pandemia … os gráficos estão aí mostrando;
  • Então o primeiro impacto da queda de sinistralidade em um preço de plano “carregado” com uma “previsão de gasto supervalorizada” foi lucro … um bom lucro … em 2020;
  • Mas o segundo impacto, que será o aumento de sinistralidade “jamais imaginado” em uma série histórica “nada comportada … arredia” … contra uma receita baseada em uma sinistralidade baixa que não vai prevalecer nos anos seguintes … será exorbitante … em 2022 !
  • Por isso a previsão dos recordes de custos do gráfico !!

Nesta projeção:

  • As autogestões que foram as que mais comemoraram “a recuperação do fôlego” em 2020 (como demonstrado no segundo gráfico), serão as mais afetadas;
  • E as seguradoras, que no mesmo gráfico se vê que foram as que menos comemoraram, serão as menos afetadas;
  • Mas todas, indistintamente, em maior ou menor escala, terão um impacto “histórico nos custos”.

Mitigar custos deve “infectar” mais a agenda dos gestores de operadoras, do que COVID-19 infectou o mundo na pandemia:

  • Não é questão de mera apuração da rentabilidade … lucratividade …
  • Para boa parte delas será questão de sobrevivência … sustentabilidade … especialmente autogestões !
  • Qualquer ação que não seja ilegal, imoral, antiética .. que reduzir custo assistencial será muito bem-vinda;
  • Qualquer ação que reduza despesa administrativa, comercial ou outras … será muito bem-vinda !

Como demonstram os gráficos, se o cenário projetado na tabela se aproximar da realidade:

  • Somente as seguradoras continuarão a, proporcionalmente, gastar menos com despesas assistenciais no pós pandemia do que durante a pandemia;
  • Mas não se engane … são gastos proporcionais à receita … os valores absolutos são gigantes;
  • Mesmo nas seguradoras, que pelo gráfico apresentam redução … é uma redução % … proporcional … e observando bem a escala … a redução é muito pequena … não compensará o seu “não aproveitamento” da pandemia como aconteceu nos demais tipos durante a pandemia !!

Este cenário projetado tem como maior viés ainda a crise econômica que estamos vivendo:

  • Os índices de inflação “oficiais” nunca foram tão elevados neste século no Brasil … e todos sabemos que os “oficiais” estão muito aquém da realidade;
  • E os índices de inflação gerais oficiais são muito … mas muito … mas muito menores do que a inflação da saúde;
  • Por isso, lá em cima, a afirmação de que é um cenário “bonzinho” para as operadoras … a chance das despesas assistenciais “tomarem outro rumo” com uma elevação proporcional maior … esta chance é muito grande !

É interessante citar que, no caso das cooperativas, muito diferente das outras:

  • Boa parcela da “despesa assistencial” é a receita do cooperado … o dono da operadora;
  • Mas a receita do cooperado também envolve custos para ele … os custos do próprio serviço do cooperado;
  • Ou seja … mesmo com um aumento de custos proporcionalmente menor projetado para 2020 … ao contrário das demais … também remete à extrema necessidade da gestão de custos, porque a receita do cooperado proporcionalmente será menor do que o incremento dos custos operacionais do seu serviço !

Bem … acredito que tenha conseguido explicar com números o quanto esta iniciativa de capacitação em custos das Unimeds do Estado de São Paulo é oportuna para operadoras de planos de saúde:

  • Hoje é tão importante calcular adequadamente e rapidamente os custos … o custo e rentabilidade das unidades de negócios, o custo médio do procedimento, o custo unitário do procedimento …
  • … como é importante contribuir para que cada gestor coloque na sua agenda reduzir os custos;
  • De nada adianta alguém ficar apontando que o custo está alto, se a estrutura não está envolvida no propósito de reduzir o custo … é hora usar os cálculo para direcionar onde economizar … e desenvolver um “ambiente de economia”;
  • Tipificar os 7 desperdícios que toda empresa tem;
  • Aplicar as 6 técnicas mais comuns para reduzir custos: Poka Yoque, Just in Time, Kaysen, Kanban, Monomossu e 5S !
  • Todas “coisas” que a gente não compra … a gente faz !

O histórico profissional da minha consultoria … das minhas aulas em instituições de ensino … dos cursos que conduzo em programas de capacitação “in company” como este … dos cursos da Jornada da Gestão em Saúde … sempre estiveram “as voltas” com gestão de custos:

  • Especialmente hospitais, sempre demandam gestão e contenção de custos como prioridade … porque sempre foi uma questão de sobrevivência e de base para precificação dos seus produtos … de dimensionamento de unidades de negócios;
  • Em um cenário em que as operadoras vão necessitar muito dos hospitais para “realinhar as filas em 2022” … mas com menos dinheiro do que habitualmente tinham até que esta sinistralidade possa ser repassada para o contratante … a preocupação com os custos das operadoras certamente “vai rebater” na porta dos hospitais em 2022;
  • Como demonstram os números … não é nem questão de esperar para ver … é “abrir o olho e ver” o que já está acontecendo !

Resta agradecer novamente a oportunidade de estar fazendo parte deste projeto da Unimed FESP, em um momento delicado da gestão da saúde no Brasil:

  • Época em que a “politização” está criminalizando as redes próprias das operadoras, porque eventualmente algumas fizeram uso indevido delas durante a pandemia !
  • Em uma época histórica como esta … poder contribuir para auxiliar na capacitação de gestores é a certeza de que o resultado será maior acesso dos beneficiários aos serviços;
  • Porque quando “o dinheiro encurta” o acesso da população à saúde privada ou pública fica mais difícil … de uma forma ou de outra !

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