Passamos a maior parte de nosso tempo dentro de edifícios. Nossa qualidade de vida está, em grande medida, relacionada à qualidade dos espaços construídos para abrigar as nossas atividades e necessidades, sejam elas de habitação, estudo, trabalho, produção ou cuidados com a saúde. Há alguns anos, o conceito da “Síndrome do Edifício Doente” ou do edifício patogênico, mais apropriadamente, vem sendo estudado por pesquisadores e empresas de diversos setores para entender os efeitos que a qualidade e os cuidados (ou a falta deles) com as instalações dos edifícios provocam nas pessoas. Esse assunto se torna ainda mais relevante quando estamos falando de instalações hospitalares.
Mais recentemente, estamos vendo uma crescente preocupação com os desempenhos ambientais de empreendimentos para a saúde, atentos não apenas à otimização dos consumos de energia e água, o que para instalações que têm operação contínua é fundamental, mas também à qualidade do ar, da luz, da acústica e do nível de conforto dos usuários em relação à climatização, aos acessos e ao contato com a natureza. Ou seja, preocupações com a qualidade dos espaços dedicados ao cuidado com a saúde. Hospitais sustentáveis são aqueles que dão respostas a essas questões.
Para se caracterizar um hospital sustentável, é preciso que se avalie a sua estrutura, seus espaços, instalações e processos, em projeto, para os casos novos, ou mesmo para instalações existentes, e se verifique o nível de desempenho que atingiria ao se adotar uma certificação ambiental de edifícios sustentáveis. Nesse caso, a certificação a ser considerada, mais utilizada no mundo, é o LEED for Healthcare.
A certificação LEED® foi criada pelo USGBC (United States Green Building Council) em 1999 para identificar e destacar empreendimentos sustentáveis por meio de criteriosos processos de certificação. Internacional, ela apresenta sete dimensões a serem avaliadas nas edificações: Localização e Acessos; Espaços Sustentáveis; Uso da Água; Energia; Materiais e Recursos; Qualidade dos Ambientes Internos; e Inovação em Projetos.
Em cada uma delas, há requisitos de desempenho a serem atingidos. Muitas têm pré-requisitos (práticas obrigatórias) e em todas há créditos, estratégias que, quando atendidas, garantem pontos. A certificação é alcançada com 40 pontos mínimos de um total de 110 possíveis (nível “Certificado”) e há, ainda, outros três níveis de certificação possíveis: “Prata”, para mais de 50 pontos; “Ouro”, mais de 60 pontos; e “Platina”, mais de 80 pontos.
O LEED for Healthcare, assim chamada a certificação LEED® para hospitais sus tentáveis, define um conjunto de normas e padrões de desempenho com o objetivo de mensurar e certificar como sustentáveis o projeto, a construção e a operação de edificações de saúde de alto desempenho, saudáveis, duráveis, economicamente viáveis e ambientalmente conscientes. Dentre as vantagens promovidas pelos “GreenHospitals” estão:
A) Redução de custos operacionais, devido à redução de consumos de água e energia;
B) Melhora nas respostas dos pacientes aos tratamentos, por conta da melhor qualidade dos ambientes, contato com a luz do dia, ar fresco e uso de materiais atóxicos;
C) Diminuição do período de internação;
D) Melhor controle de infecções;
E) Aumento da atração e retenção de funcionários;
F) Benefícios para a comunidade do entorno pela redução de impactos.
A adoção de estratégias de sustentabilidade e certificação ambiental de hospitais pode ser também um ótimo negócio. Pesquisas realizadas com dezenas de casos concluídos de hospitais sustentáveis nos EUA, confirmam que o custo adicional para se realizar um “Green Hospital” é relativamente baixo e oferece um retorno considerável. Segundo o USGBC, um custo adicional de até 2% produz economias no ciclo de vida do empreendimento até dez vezes maiores que o investimento.
Por exemplo: um investimento de 100 mil reais em um projeto de 5 milhões de reais pode gerar uma economia de até 1 milhão de reais durante sua vida útil, estimada em 20 anos. Os benefícios financeiros incluem: menos gastos com energia, menos gastos com disposição de resíduos, menos custos com água, menos custos operacionais e de manutenção, além do aumento da produtividade de funcionários e melhoria da imagem pública, o que, por sua vez, tende a valorizar o empreendimento. Um estudo sobre hospitais sustentáveis feito pela consultoria em investimentos Davis Langdom analisou os projetos de 17 empreendimentos para a saúde, nove buscando certificação LEED® e oito sem ela. Financeiramente, os nove projetos LEED® se saíram iguais ou mais baratos do que os sem LEED®, comprovando a teoria de que não existe diferença significativa nos custos médios para empreendimentos do tipo quando comparados aos convencionais.
Hospitais sustentáveis: processo de projetos integrados
Além de projetos novos, hospitais existentes também podem se tornar hospitais sustentáveis. Para se avaliar a viabilidade da obtenção de uma certificação como o LEED for Healthcare, para um projeto novo ou hospital existente, é preciso, a princípio, uma avaliação de projetos ou diagnósticos das instalações existentes, que originará um relatório do Estudo de Viabilidade Técnica, que identificará oportunidades e potenciais.
A partir daí, deve-se envolver uma equipe multidisciplinar de profissionais que passarão a atuar na incorporação das diversas estratégias de sustentabilidade identificadas como viáveis, por meio de um Processo de Projeto Integrado. Suas técnicas têm se provado efetivas na realização de hospitais sustentáveis dentro do cronograma e do orçamento previsto. Para tal, é necessária uma gestão coordenada e colaborativa de uma equipe multidisciplinar envolvida com o projeto, com conhecimento técnico apropriado para desenvolver os diversos projetos com correto dimensionamento e integração dos equipamentos e estratégias que serão empregados.
Com projetos bem elaborados, passe-se à execução de obras ou implantação de um Plano de Ações para instalações existentes. Essas ações devem também ser coordenadas e acompanhadas para garantir a boa implantação das medidas propostas. Tais procedimentos originarão um conjunto de documentos que devem, então, ser encaminhados ao órgão certificador para verificação e confirmação da certificação.
Desta forma, com um projeto integrado e implantação bem gerenciado, perdas são minimizadas, equipamentos são adequadamente especificados, dimensionados e instalados, e soluções para a sustentabilidade são propostas e bem implementadas, tudo isso proporcionando menores custos e melhores resultados operacionais, com mais controle e qualidade dos espaços.
A partir de então, resta à gestão da operação conduzir o dia a dia do empreendimento de maneira sustentável. Para tanto, deve-se considerar um conjunto de procedimentos decorrentes de uma Análise Racional para Operação Sustentável, com a qual, além da própria construção, algumas instituições têm operado de maneira mais racional, eliminando produtos químicos perigosos em áreas de manutenção, limpeza, procedimentos médicos e de recuperação dos pacientes e promovendo atualizações tecnológicas e procedimentais constantes.
Assim se faz a sustentabilidade, com conhecimento técnico, integração multidisciplinar, orientação e processos claros e gestão responsável de todo o processo, inclusive, e principalmente, da operação. Ganham os pacientes e funcionários, ganham os proprietários, ganham as cidades, e por que não, ganha o planeta!
Leia o dossiê completo na 27ª edição digital da revista HealthARQ.
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