Em busca da retomada, por Claudio Enrique Lubascher

O novo cenário político fez com que o setor da saúde iniciasse 2019 focado na retomada do desenvolvimento. A expectativa era e ainda é bastante alta. No entanto, com quase seis meses de governo, os principais indicadores econômicos ainda não refletem o esperado. É claro que temos consciência de que o processo de transição entre modelos de gestão demanda tempo, esforço e alinhamento de expectativas. É preciso ter paciência, sabemos disso. Nada se resolve da noite para o dia, ainda mais quando o assunto é a situação econômica de um país tão diverso como o Brasil.

Por isso, seguimos acompanhando de perto as taxas de desemprego, inflação e Produto Interno Bruto (PIB), e suas projeções para os próximos meses, com a esperança de que a agenda econômica se estabilize em breve e nos permita respirar com mais tranquilidade. Aguardamos ansiosamente pela retomada massiva da geração de empregos e que essa movimentação permita à população o retorno aos planos de saúde e à medicina preventiva, voltada para promoção de qualidade de vida e bem-estar. Enquanto isso, procuramos fazer nossa parte.

No Hospital Santa Cruz, de Curitiba (PR), investimos em linhas de cuidados específicas e em atendimento integrado para otimizar, de forma inteligente, o uso de recursos e ganhar sustentabilidade. Uma das iniciativas reforça a importância da atenção primária dentro da estrutura hospitalar.

Estamos fazendo o caminho inverso ao comum e procurando mostrar ao paciente que em vez de acessar o sistema de saúde pelo pronto-socorro de alta complexidade, ele pode agendar uma consulta ambulatorial para receber cuidado integral e especializado. Como consequência, temos conseguido alcançar desfechos clínicos muito mais eficientes.

Na atenção primária, o atendimento é feito por um médico referência que recebe suporte dos especialistas para promover atendimento resolutivo, com base em protocolos clínicos definidos. Nesse modelo, os pacientes com demandas específicas podem contar com uma rede de suporte multidisciplinar. Isso significa que quando o médico faz o diagnóstico de obesidade, por exemplo, passa a atuar em conjunto com um nutricionista; em quadros de depressão, o psicólogo complementa a terapia; quando o problema é uma dor crônica na coluna, o fisioterapeuta entra em ação.

Também estamos atuando muito forte com linhas de cuidado diferenciadas, em especial para casos críticos. Estruturamos uma equipe médica e assistencial que cuida especificamente desses pacientes de forma integrada com a equipe médica de internistas e hospitalistas. Com isso, ganhamos eficiência na construção do diagnóstico e da terapia mais adequada, o que também contribui também para a redução de intercorrências.

Desde outubro de 2018, quando essa linha de cuidado do paciente crítico foi implementada, aumentamos em 20,2% o giro de leitos e reduzimos em 40% o direcionamento de pacientes internados para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Geral. O atendimento a casos graves ou muito graves pelo Time de Resposta Rápida (TRR) também diminui 31,4%. Essa queda não quer dizer que o TRR deixou de ser demandado, mas sim que vem sendo acionado por condições menos críticas ou por intercorrências menores.

Tudo isso impacta de forma positiva o uso de recursos, o tempo de permanência no hospital, a recuperação do paciente, que passa a ser mais rápida e segura, e a experiência do usuário dentro de nossas unidades. Todas essas ações nos levaram a alcançar índice de satisfação de 91% no primeiro trimestre de 2019, taxa atualizada de forma periódica pelo Núcleo de Experiência do Paciente – baseado em ouvidoria, psicologia, Focus Group, hospitalidade e assistência.

Os resultados demonstram que, cada vez mais, a saúde tem que ser entendida de uma forma diferente, não como consumo pelo consumo. Temos que promover uma medicina baseada em Valor e ter como ator principal a pessoa. Somente dessa forma teremos um sistema de saúde sustentável no futuro, onde a aplicação dos recursos é feita de forma adequada. Tudo isso também passa pela educação do paciente, do médico, da operadora, do hospital e da indústria. E, assim como a retomada econômica do país, a evolução do modelo de saúde brasileiro depende de atenção, investimento e tempo para consolidação.

 

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