O professor Arturo Forner-Cordero, coordenador do CTECVIDA, centro especializado em tecnologias assistidas e de reabilitação da Universidade de São Paulo (USP), apresentou na Hospitalar 2025, as principais inovações brasileiras na área de exoesqueletos modulares, que podem revolucionar a assistência médica e a mobilidade de pessoas com deficiência ou em processo de reabilitação.
A palestra integrou a programação exclusiva da ABIMED (Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde), na maior feira de saúde da América Latina.
Modularidade: a chave para personalização e eficiência
O projeto se baseia no conceito de exoesqueletos modulares, ou seja, sistemas compostos por partes intercambiáveis e adaptáveis conforme as necessidades específicas de cada usuário.
“O objetivo é oferecer dispositivos que não sejam padronizados para todos, mas sim personalizados para cada indivíduo, ampliando as possibilidades de assistência e reabilitação”, explicou Arturo.
Esses módulos podem ser facilmente substituídos ou ajustados, permitindo que o mesmo exoesqueleto atenda a diferentes perfis de pacientes — desde casos de paralisia parcial até necessidades de auxílio postural.
A modularidade também facilita processos de manutenção e atualização tecnológica.
O CTECVIDA realiza o desenvolvimento de exoesqueletos em parceria com hospitais, clínicas de reabilitação e a indústria.
Forner-Cordero destacou o papel fundamental da colaboração entre universidade e sociedade, garantindo que as soluções cheguem rapidamente ao mercado e aos pacientes.
“Nosso compromisso vai além do desenvolvimento técnico; buscamos oferecer soluções que realmente façam diferença na vida das pessoas, promovendo a inclusão e a qualidade de vida”, afirmou.
Interfaces sensoriais intuitivas e ergonomia aprimorada
Entre as inovações, Forner-Cordero apresentou a criação de interfaces sensoriais que combinam informações contextuais e visuais, tornando o controle dos exoesqueletos mais intuitivo para os usuários.
A proposta é que as pessoas consigam compreender e operar os sistemas de maneira rápida e natural.
Além disso, os componentes estruturais passaram por melhorias ergonômicas, como:
- Linhas de suporte reforçadas.
- Ajustes de costura para maior conforto.
- Elementos que reduzem o peso e aumentam a eficiência.
Os exoesqueletos já estão sendo introduzidos em países como Inglaterra e França, demonstrando a competitividade do projeto brasileiro no cenário internacional.
Outro avanço importante foi o desenvolvimento dos chamados “esqueletos moleculares” — padrões estruturais recorrentes que podem ser aplicados a diversos produtos.
Segundo Forner-Cordero, esse modelo possibilita a fabricação de dispositivos adaptáveis para diferentes mercados e finalidades, mantendo os custos baixos.
“Um dos esqueletos que utilizamos foi desenvolvido por uma empresa italiana e hoje é comercializado tanto para a indústria quanto para aplicações médicas”, exemplificou.
Design inovador: liberdade e segurança para o usuário
Uma das soluções apresentadas é um exoesqueleto que permite ao usuário simplesmente decidir que quer ficar de pé e, automaticamente, o sistema o ajuda a levantar-se e se locomover dentro de casa.
“Essa solução representa um avanço significativo: pessoas que antes estavam confinadas ao leito agora podem, por exemplo, participar de uma maratona”, celebrou o professor.
Para aumentar a eficiência, todos os motores foram realocados para uma mochila, liberando espaço e reduzindo o peso do exoesqueleto.
Além disso, foram incorporados sistemas de segurança da informação, que garantem a transferência segura de dados e fornecem informações em tempo real para o usuário.
Forner-Cordero enfatizou que o projeto realizou uma revisão abrangente das normas e requisitos regulatórios para exoesqueletos.
“Tradicionalmente, consideravam-se apenas aspectos técnicos e funcionais, mas agora incluímos também requisitos de segurança e regulamentação desde a fase de projeto”, afirmou.
O professor destacou a importância da formação adequada de profissionais clínicos e cuidadores, fundamentais para o uso seguro e eficaz dos dispositivos.
Sistema de testes e validação para o mercado
Para atender às exigências regulatórias e acelerar a validação de novos produtos, o CTECVIDA desenvolveu um sistema de testes que será disponibilizado para outras empresas, permitindo que validem seus dispositivos com base nos padrões estabelecidos.
O foco está na garantia de aspectos críticos, como:
- Segurança e confiabilidade.
- Análise de risco.
- Facilidade na gestão de incidentes.
Um exemplo ilustrativo foi citado: uma fratura sofrida por um usuário durante o uso de um exoesqueleto, reforçando a necessidade de mecanismos robustos de engenharia, reporte e análise de incidentes, ainda pouco difundidos no setor.
“Por isso, incluímos requisitos adicionais de segurança tanto no projeto quanto na implementação dos dispositivos”, ressaltou.
Estruturas de “malha longa” e desafios das interfaces homem-máquina
Forner-Cordero também apresentou a aplicação de estruturas de ‘malha longa’, um elemento estrutural que melhora a qualidade clínica dos sistemas físicos e já está integrado aos dispositivos atuais.
Contudo, o professor reconheceu que ainda há desafios importantes, especialmente no aprimoramento das interfaces homem-máquina, que precisam ser cada vez mais intuitivas e eficazes para facilitar o uso pelos pacientes e profissionais.
“A regulamentação é essencial, pois garante que tanto usuários quanto empresas tenham um norte claro para o desenvolvimento e a aplicação segura dos exoesqueletos”, afirmou.
Compromisso com a inovação e o bem-estar social
Encerrando sua participação, Forner-Cordero agradeceu à equipe de trabalho, responsável pelo avanço dessas soluções tecnológicas, e reforçou o compromisso do CTECVIDA com a inovação, a segurança e o bem-estar social.
A apresentação “Tecnologias Assistidas e de Reabilitação no Brasil” integrou a programação exclusiva da ABIMED durante a Hospitalar 2025, a maior feira de saúde da América Latina. A mediação foi realizada por Silvio Garcia Jr., Head de Relações Institucionais e Governamentais da ABIMED.