Com formação sólida em biologia molecular e mestrado em ciências com ênfase em psiquiatria pela USP, Guilherme Ambar não imaginava que trocaria os laboratórios acadêmicos por uma missão ainda mais desafiadora: empreender no Brasil e transformar o acesso ao diagnóstico molecular.
Desde 2019 à frente da Seegene Brazil, filial da gigante sul-coreana, ele conduz a empresa com uma liderança centrada em resultados, inovação e propósito.
A transição do universo acadêmico para a gestão foi abrupta. “Tivemos que vender carro para comprar equipamento. Foram apostas corajosas”, lembra Guilherme Ambar.
O ponto de virada veio com a pandemia: recém-formalizada como subsidiária, a Seegene teve papel crucial no enfrentamento à Covid-19, sendo uma das primeiras a obter registro de testes para o SARS-CoV-2 no Brasil.
Com apenas seis colaboradores na época, Ambar decidiu investir pesado em operação, estrutura e atendimento — e a escolha moldou não só a trajetória da empresa, mas também a sua como líder num dos momentos mais críticos da história recente da humanidade.
Para ele, liderar é alinhar estratégia com cultura.
Em um ambiente com estrutura ainda enxuta e times distribuídos geograficamente, no quinto maior país do mundo, onde caberiam todas as nações da Europa Ocidental somadas, Guilherme Ambar aposta em engajamento, proximidade e exemplo no enfrentamento de questões regionais, de logística e característica peculiares que só existem no Brasil.
“Eu entrevistei todos os colaboradores da empresa. A gente vive a operação. É isso que inspira”, afirma Guilherme Ambar.
A autonomia dada pela matriz coreana também fortaleceu a identidade local, o que, segundo Ambar, foi essencial para manter a flexibilidade e a coesão cultural.
Nos últimos anos, o executivo direcionou esforços à produção nacional.
Em parceria com o Instituto de Tecnologia do Paraná, ligados ao Ministério da Saúde, a Seegene caminha para consolidar uma grande fábrica no Brasil, em um modelo que se espelha na lógica das montadoras: primeiro, estrutura robusta com insumos importados; depois, incentivo à cadeia produtiva local.
O objetivo é tornar o diagnóstico molecular mais acessível, especialmente no SUS, que já representa metade do mercado da empresa e atende cerca de 75% da população brasileira.
Ao equilibrar ciência e gestão, Guilherme Ambar também reaprendeu a preservar a vida pessoal.
Ex-jogador de rugby, voltou a praticar esportes e vê no tempo com a família uma renovação indispensável para sustentar a energia que o setor exige.
“Hoje conseguimos cuidar da saúde. Isso reflete na equipe e na cultura. Se estamos bem, projetamos o mesmo bem-estar aos colaboradores. Dar o exemplo também é papel da liderança”, acredita.
Entre os desafios futuros, Guilherme Ambar cita a ampliação do acesso e a produção local como estratégias-chave.
“Queremos que o Brasil esteja entre as potências do diagnóstico. E que isso seja feito com responsabilidade, inovação e propósito. Há ainda um longo caminho a percorrer, mas estamos dando os passos certos.”