Gonzalo Vecina, deputado Pedro Westphalen, Fernando Torelly (HCor), Antonio Britto (Anhap), entre outros líderes debateram as “Adaptações do setor para uma nova realidade”
O webinário de estreia do Healthcare TALKS aconteceu ontem, 7 de abril, em comemoração ao Dia Mundial da Saúde. Com a temática “Adaptações do setor para uma nova realidade”, o evento 100% digital contou com participação de diversas lideranças do setor que dialogaram sobre integração da saúde pública e privada, políticas públicas e saúde digital.
O papel dos Hospitais de Transição
A palestra de abertura foi realizada por Vinicius Lisboa, diretor clínico da Rede Paulo de Tarso. Em sua explanação, Lisboa abordou a importância que Hospitais de Transição (HT) exercem no sistema de saúde.
Lisboa explicou que os (HT) são modelos importantes para cuidar de pacientes com características crônicas. “Além de resgatar com mais qualidade e rapidez a saúde do paciente, o Hospital de Transição exerce um importante papel em desafogar o sistema como um todo. Isso porque quando os HTs desbloqueiam um leito de enfermaria, além de garantir uma melhor qualidade assistencial ao paciente, acabam por disponibilizar leitos em toda a rede. O que é muito importante diante do atual cenário.”
No HT monta-se uma estrutura que não serve como pronto atendimento, setor esse que “historicamente não dá lucratividade, embora atue como porta para outros atendimentos”, pontua Lisboa.
“A conta é muito mais alta em um Hospital Geral, uma vez que o leito compartilha despesas com outras contas hospitalares, pois temos que considerar toda a sua estrutura, como diversas clínicas e UTIs.”
Segundo Lisboa, no HT há uma maximização do corpo técnico, como terapeutas, técnicos de enfermagem, enfermeiros, fisioterapeutas e psicólogos. “Desempenhamos o papel como ponte entre o Hospital Geral e o ambiente domiciliar. O HT tem uma estrutura mais adequada do ponto de vista financeiro e do negócio, gerando, assim, funcionalidade e economicidade.”
Políticas públicas urgentes
O Healthcare TALKS também trouxe a round table sobre “Políticas públicas urgentes para a Saúde da nova era pós-covid”.
Participaram desse debate: Gonzalo Vecina Neto, fundador e ex-presidente da Anvisa, ex-secretário municipal de SP e professor do mestrado profissional da Faculdade de Saúde Pública da USP; Adelvânio Francisco Morato, presidente da FBH – Federação Brasileira de Hospitais; deputado Federal Pedro Westphalen. A moderação foi feita por Ana Maria Malik, professora titular da Fundação Getúlio Vargas e coordenadora do GVsaúde da FGV.
Ana Maria começou o debate abordando sobre a lei aprovada esta semana pela Câmara dos Deputados, que permite às empresas comprarem vacinas contra a Covid-19 para seus empregados, desde que doem a mesma quantidade ao SUS.
O deputado Pedro Westphalen foi o primeiro a se pronunciar sobre o tema. Ele ressaltou o Programa Nacional de Imunização (PNI), que é exemplo em todo o mundo e o SUS que atende a todas as regiões do país.
“Temos que ser efetivos nesse atual momento e aprovar a desburocratização na compra das vacinas. Já são 5 países do mundo que autorizam a compra de vacinas pelo setor privado: México, Paquistão, Tailândia, Finlândia e Malásia”, ressaltou
Westphalen também lembrou da escassez de vacinas no mundo todo. “Quando foi autorizado a municípios e estados comprarem vacinas, ninguém conseguiu, porque não tem vacina no mundo. Eu vejo uma importante oportunidade com a compra de vacinas pelo privado, desde que isso seja submetido ao PNI. Hoje, se tivéssemos vacinas, teríamos a capacidade de vacinar mais de 2 milhões de pessoas em uma integração entre União, Estado e Município.”
Vecina ressaltou em sua fala o Artigo 196 da Constituição de 1988 sobre como o direito e dever da saúde devem ser cumpridos pelo Estados através de políticas públicas universal e igualitária.
“No momento em que há escassez de vacinas e um grupo econômico consegue esse acesso altera-se a ordem de prioridade. Dessa forma, está acontecendo uma afronta à Constituição e um comportamento antiético.”
Adelvânio Morato, da FBH, salientou a preocupação de colocar questões econômicas na frente para a corrida da vacina. “É importante dizer que não existe vacina para comprar, temos que entender isso. Temos um sistema de vacinação competente e precisamos de uma melhor integração entre o público e privado, para que todo o sistema caminhe junto.”
A mesa também trouxe debateu temas como lockdown, qualidade da assistência e da educação para profissionais de saúde, além da urgente necessidade de políticas para o financiamento do SUS.
Saúde digital pós-covid
O Healthcare TALKS trouxe também uma palestra do professor Giovani Guido Cerri. O especialista é presidente do Conselho Diretor do Instituto de Radiologia e presidente da Comissão de Inovação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, além de ser vice-presidente do Instituto Coalizão Saúde (ICOS).
Em sua palestra sobre “Saúde digital pós-covid”, Cerri falou sobre a atuação do InovaHC, que é em um catalisador de inovação em saúde, conectando recursos e empreendedores a fim de gerar soluções que tornem a jornada do atendimento mais intuitiva, eficiente e iterável.
Segundo o professor, o Brasil tem avançado em Saúde Digital, mas há oportunidades em tecnologia, treinamento e Inovação.
“Ainda há muitas possibilidades de melhorias em nosso país. Temos que melhorar a infraestrutura básica de TI, especialmente em algumas regiões brasileiras, para alavancar uma adoção mais ampla das soluções digitais já disponíveis”.
Cerri também ressaltou que os profissionais de saúde reconhecem o potencial da saúde digital, mas não “se sentem qualificados ou empoderados para tirar proveito das soluções”.
O professor concluiu sua palestra dizendo com sua perspectiva positiva para o setor. “A saúde digital é uma oportunidade de oferecer um acesso à saúde menos desigual do ponto de vista territorial, melhorando o sistema como um todo. Sou um entusiasta quanto ao que a inovação pode contribuir para melhoria do sistema público e privado no Brasil. Vejo a saúde digital como uma realidade que se consolidou durante a pandemia e que será um legado positivo para o futuro pós pandemia.”
Saúde pública & Saúde privada
O Healthcare TALKS encerrou o webinário “Adaptações do setor para uma nova realidade” com uma mesa redonda sobre “Saúde pública & Saúde privada: um diálogo a ser fortalecido”.
Participaram dessa mesa Antônio Britto, diretor-executivo da Anahp – Associação Nacional de Hospitais Privados; Mauro Junqueira, Secretário Executivo do CONASEMS – Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde; Renato Loures, presidente da Santa Casa de Juiz de Fora; e Mauricio Sérgio Sousa e Silva, superintendente da Santa Casa de Montes Claros. A moderação da mesa foi feita por Fernando Torelly, CEO do HCor.
Sobre a integração entre o público e o privado, Mauro Junqueira lembrou que o SUS, desde a sua criação, já era subfinanciado. “Temos R$ 3,80 por habitante/dia para dar tudo a todos o que está em nossa Constituição. O CONASEMS vem lutando há muito tempo pela defesa do financiamento justo, adequado e que responda às necessidades continentais do país. Agora, estamos assistindo a classe política e outras entidades dando valor ao SUS que, por muitas vezes, ficou de lado.”
Além da necessidade de um financiamento adequado para o sistema de saúde, Junqueira ressaltou a importância de uma sinergia para pesquisa, inovação e formação de recursos humanos. “Até porque os profissionais que atuam no sistema público são os mesmos que estão no privado.”
O recém empossado diretor-executivo da Anahp, Antonio Britto, disse que a pandemia “é uma tomográfica com alta resolutividade que apontou os problemas antigos da Saúde”.
“Temos que honrar os 350, 500 mil mortos. Me recuso a acreditar que o sacrifício, em grande parte evitável de milhares de brasileiros, foi em vão. Temos que homenagear os heróis mortos e os vivos da pandemia, aperfeiçoando o sistema como base da Constituição. Isso significa o mútuo reconhecimento da importância do privado e do público, maior resolutividade e melhor integração entre União, Estado e Município”, afirma.
Britto ainda falou sobre a liderança do governo na Saúde. “Começou a faltar lugar na parede do Ministério de foto de Ministro. Num país onde o Ministro da Saúde muda a cada minuto, não conseguimos ter um plano para 1 ano, imagine para 10.”
O presidente da Santa Casa de Juiz de Fora, Renato Loures, também pontuou a necessidade de uma remuneração condizente. “O SUS paga o que quer, não se discute nada com as filantrópicas, os valores estão completamente defasados. Temos que ter uma remuneração baseada em valor, como pelo DRG, que poderia ser implantado em todo o sistema. Enquanto isso não for feito, não vamos evoluir.”
Loures lembrou também que o atual déficit leva ao fechamento de muitas santas casas, o que, em muitos municípios, são as únicas instituições que respondem pelo atendimento à população. “As filantrópicas respondem por 50% do atendimento de média complexidade pelo SUS, e 70% da alta complexidade também pelo público.”
Mauricio Sérgio Sousa e Silva, superintendente da Santa Casa de Montes Claros, concordou acerca da fragilidade do sistema antes da pandemia. “Nosso problema financeiro vem de anos. Quem consultou os hospitais sobre o aumento dos preços nessa pandemia. Tiveram insumos e medicamentos com um aumento de mais de 400%. Qual hospital foi procurado para saber como está fazendo com uma luva que antes era comprado por R$ 7 e agora custa R$ 90? Simplesmente a tabela é essa, o formato esse e pagamento é esse.”
Confira o conteúdo do Healthcare TALKS sobre “Adaptações do setor para uma nova realidade” na íntegra: