Educação digital na formação de profissionais integra o pensamento acadêmico a um plano de mercado, criando um ecossistema de saúde conectada para a população 60+
Os atendimentos por meio da telemedicina ganharam força e importância desde a pandemia de Covid-19, quando a saúde digital passou a ter uma importância inquestionável possibilitando o contato entre os profissionais de saúde e pacientes por meio da realização de consultas à distância, emissão de receitas digitais, acesso a resultados de exames online, telemonitoramento, entre outros. A telemedicina e telessaúde se tornaram realidade mostrando novas formas de atendimento com qualidade e, ao mesmo tempo, facilitando o acesso aos serviços de atenção à saúde.
O professor titular de Pneumologia da Faculdade de Medicina da USP, Carlos Carvalho, diretor do Instituto do Coração (InCor), e de Saúde Digital do Hospital das Clínicas da FMUSP, muitos médicos ainda têm bastante dificuldade com as ferramentas de telemedicina e telessaúde. “A grande maioria que se formou antes de 1990, não tem uma formação na área digital. Os profissionais formados a partir dos anos 90 são pessoas com maior facilidade e entendimento do que as gerações anteriores”, afirma Carvalho. Para ele, “estamos numa fase de transição em que grande parte dos profissionais e pessoas que estão em cargos de gestão também precisam ser formadas e atualizadas”.
A necessidade de soluções de saúde digital contemplando a telemedicina, monitoramento e suporte, “exige a reformulação do papel do médico generalista, que a partir da integração da inteligência artificial como ferramenta de apoio, pode expandir as competências para ser ‘médico investigativo de cuidados integrados’, acrescenta o professor e chefe da disciplina de Telemedicina do Departamento de Patologia da FMUSP, Chao L. Wen.
“O uso de tecnologias em saúde tem avançado cada vez mais e esse é um processo irreversível para garantir a sustentabilidade do setor”, afirma o professor Chao Wen. Um exemplo disso é o Programa de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação Saúde Digital de São Paulo, parceria da Secretaria de Saúde do Estado de SP com o Hospital das Clínicas da FMUSP, que recentemente inaugurou o Centro Líder de Inovação em Saúde Digital, demonstrando a importância do investimento em inovação e a necessidade de implantar a educação digital metacognitiva na formação de profissionais de saúde.
No entanto, “a falta de mão de obra é um grande desafio, embora não o único porque é preciso que os profissionais sejam habilitados a aplicar as tecnologias digitais dentro de uma inovadora cadeia de processos de saúde para alcançar um impacto positivo e eficaz, ou seja, requer uma capacitação na análise de dados e de processos de saúde, inteligência artificial e gestão de sistemas de informações de saúde, por exemplo”, explica Wen. Para suprir essa demanda, o HCX do Hospital das Clínicas da FMUSP desenvolveu um novo MBA em Saúde Digital, dentro do Programa HC Líder, visando a capacitação de lideranças e equipes multiprofissionais de saúde abrangendo médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, entre outras especialidades médicas e que será coordenado pelo professor Chao Wen.
O MBA em Saúde Digital será o primeiro a integrar o pensamento acadêmico a um plano de aplicação de mercado voltado ao empreendedorismo, logística, eficiência e com abordagem para ecossistema de saúde conectada para realidade 2030. “A inteligência artificial não substituirá o médico e, sim ajudará os profissionais a desenvolverem um raciocínio cognitivo e de monitoramento contínuo do paciente”, afirma Wen.
Economia prateada
Para o especialista, a saúde digital deve ser utilizada como uma estratégia para implementar soluções e desenvolver planos de ações estruturantes, eficientes e humanas para a população, e, especialmente, a população idosa, com 60 anos ou mais, que representa um mercado de consumo denominado de “economia prateada”, que movimenta 2 trilhões de reais no Brasil.
De acordo com o último Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) em 2022, o número de pessoas com 65 anos ou mais alcançou mais de 22 milhões de pessoas, revelando um crescimento de 57,4% desde 2010. A perspectiva da Organização Mundial de Saúde (OMS), é de que até 2050, o Brasil tenha quase 90 milhões de idosos. Hoje, muitas pessoas com 60 anos ou mais, vivem sozinhas, o que demanda preocupações e a necessidade de monitoramento e suporte exige uma ação estruturada de atendimento clínico.
O professor Carlos Carvalho afirma que o curso de MBA em Saúde Digital é estruturalmente voltado à logística e cuidado de forma integral e representa uma nova percepção da eficiência em saúde. “É necessário incentivar a formação em saúde digital que norteie desde os cursos de graduação, passando por residências e especializações para a qualificação dos profissionais de saúde”, afirma ele. Também coordenador do MBA em Saúde Digital do HCX, Carvalho, foi responsável pela implantação da interconsulta para habilitar médicos intensivistas e equipe a fazerem o manejo clínico de pacientes da rede pública de saúde durante a pandemia de Covid-19 e assim reduzir a mortalidade.
Um dos diferenciais do MBA em Saúde Digital do HCX é ir além da telemedicina e telessaúde. Segundo o professor Wen, “é necessário uma formação multidisciplinar na saúde (biopsicossociais) e, por isso, incluímos na grade do curso disciplinas focadas no desenvolvimento da ética e bioética digital, da telepropedêuitica, de questões jurídicas, humanização, saúde distribuída além da criação de um módulo de Life Long Learning, de aprendizado contínuo e capacitação prática dos profissionais de saúde e, casas inteligentes e Telessaúde de Bem-estar e Estilo de Vida”.
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