Isabel Cunha, da Unifesp, fala sobre os impactos da Gestão de Enfermagem eficiente para a sustentabilidade financeira

Isabel Cunha, da Unifesp, fala sobre os impactos da Gestão de Enfermagem eficiente para a sustentabilidade financeira

 

Vista as tendências na oferta de serviço no campo da saúde, o papel do Gestor em Enfermagem tornou-se decisivo para o cuidado efetivo e com qualidade do cliente.

Para enfrentar essas crescentes responsabilidades e exigências, o profissional, como líder, precisa conhecer novas dimensões para obter resultados de qualidade na assistência ao cliente e encontrar novas metas e objetivos estratégicos institucionais.

Visando esse cenário de mudanças na Saúde, a professora Associada Livre Docente da Escola Paulista de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo, Isabel Cristina Kowal Olm Cunha, que também e a presidente do Masterclass de Gestão de Enfermagem que acontecerá na SAHE 2021, pontua à Revista Healthcare Management, quais são as experiências, tendências e desafios do setor para o futuro.

1 – Como otimizar as diversas ferramentas existentes em prol de uma Gestão de Enfermagem eficiente?

 A gestão em Enfermagem objetiva dar sustentação para um cuidado de enfermagem de qualidade e livre de riscos. Para que isso possa ocorrer é importante que o enfermeiro utilize o conhecimento das ferramentas da ciência da Administração aliadas à ciência da Enfermagem.

É importante o gestor ter claro para onde ele quer levar a área. Se você não sabe para onde quer ir, qualquer caminho serve. Assim, além da formação, o gestor deve conhecer a sua equipe e seu setor de atuação para poder utilizar as ferramentas adequadas.

Existem hoje, inúmeros aplicativos e sistemas informatizados que auxiliam a equipe de enfermagem. É importante para otimizá-las fazer a avaliação constante dos resultados atingidos. Trabalhar com planejamento, com organização, estabelecendo objetivos e metas direciona as ações, e fazendo uso adequado de ferramentas da administração o alcance dos resultados virão com certeza.

 

2 – Como a tecnologia pode contribuir para uma Gestão em Enfermagem de qualidade?

 O uso da tecnologia como modernas ferramentas de gestão, tecnologias à beira leito, sistemas de informação adequados e principalmente treinamentos com o uso de simulação realística para toda a equipe de trabalho, faz com que exista um melhor direcionamento das ações e assim, reduzindo o tempo gasto com burocracia e erros.

Este tempo é revertido para a otimização do cuidado e do relacionamento pessoal humanizado com o paciente e família, resultando em aumento da qualidade e da segurança do paciente.

 

3 – Pensando na sustentabilidade financeira do hospital, de que forma um setor de Enfermagem bem estruturado pode contribuir para resultados mais positivos?

É a equipe de Enfermagem quem está à beira do leito nas 24 horas do dia, sendo responsável pela gestão e uso dos equipamentos e materiais de uso no dia a dia do cuidado. Para que possa fazer um uso racional e adequado é necessário trabalhar com protocolos assistenciais e ter a equipe sempre treinada nas melhores práticas. Isso minimiza erros e o uso inadequado de materiais contribuindo para eficiência na assistência com consequente redução de custos e resultados mais positivos para a instituição.

Por outro lado, é importante que os enfermeiros gestores acompanhem o desempenho financeiro de suas áreas sugerindo alterações de protocolos, mudanças nos procedimentos, testes com novos produtos, a fim de promover otimização dos resultados institucionais.

 

4 – Na sua opinião, no que diz respeito à Enfermagem,quais medidas podem ser tomadas para garantir maior segurança ao paciente?

 É necessário ter protocolos de práticas seguras utilizados em toda a instituição, ter uma cultura de segurança na organização como um todo a partir da alta administração, uma educação permanente para toda a equipe, revisão periódica das boas práticas com as melhores evidências e acompanhar o desempenho com indicadores bem mensurados.

Existem medidas simples que muitas vezes são esquecidas como por exemplo: a lavagem de mãos ou a checagem antes da ministração dos medicamentos.

5 – Atualmente, muito se fala sobre o paciente como centro dos atendimentos hospitalares. De que forma a Gestão em Enfermagem atua sobre essa questão?

 O paciente sempre foi o centro do cuidado de enfermagem. Tudo o que é feito pela equipe tem como objetivo que ele se restabeleça no menor tempo. Todavia, agora se fala no conceito da experiência do paciente, no qual o indivíduo deve sentir-se acolhido e ser o centro dos cuidados de toda a equipe multiprofissional e de todos os setores da instituição.

A Enfermagem centraliza a maior parte dos procedimentos, principalmente aqueles do cuidado direto, logo é responsável por parte importante desta experiência positiva do paciente.

Para a Enfermagem poder atuar de forma correta, dentro dos protocolos, com humanização e atendendo as necessidades do paciente é importante que tenha um excelente ambiente de trabalho, que é garantido por valorização e acolhimento do profissional, bem como seu constante treinamento. Assim, oferecerá também o seu melhor à instituição através de um trabalho com qualidade onde o maior beneficiado é o cliente. Cabe à Gestão em Enfermagem buscar garantir estas condições ao seu corpo de colaboradores.

 

6 – Quais pilares da gestão corporativa garantem sucessona Gestão em Enfermagem?

 A Gestão em Enfermagem tem que estar alinhada à Gestão Corporativa, pois responde pela maior parte dos trabalhadores que atuam nas instituições de saúde. Assim, uma Gestão Participativa onde a equipe multiprofissional tenha segurança para a proposição de melhorias, para seu aperfeiçoamento constante tem dado experiências positivas.

Além disso, o modelo de assistência de Enfermagem deve estar alinhado ao Modelo de Gestão da instituição. É imprescindível que os valores, a missão e a visão institucional sejam compartilhadas com a Enfermagem e que estas possam refletir nos cuidados prestados.

 

7 – Como o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) auxilia e pode ainda auxiliar no desenvolvimento do setor de Enfermagem?

 O COFEN é o órgão fiscalizatório e regulatório da Enfermagem e, entre as suas competências, está assegurar o cuidado de qualidade prestado por profissionais qualificados. Assim tem programas voltados para a melhoria do atendimento através de parcerias.

Importante destacar a parceria com a CAPES (Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior) do Ministério da Educação,onde o COFEN sustenta um Programa de Mestrado Profissional para formar 500 enfermeiros com foco na gestão e na assistência de enfermagem.

Este é hoje o maior programa de mestrado junto a órgãos reguladores profissionais no Brasil. Na parceria, universidades públicas e privadas de todo o país oferecem as vagas e o COFEN viabiliza os recursos.

 

8 – Como as acreditações e selos de qualidade contribuem para uma gestão em enfermagem mais eficaz?

 Os programas de acreditação bem como os selos de qualidade por si só não fazem tudo ficar melhor. O que passa a ocorrer é uma cultura de melhoria onde todos os colaboradores são desafiados e instigados a atingirem metas de performance para serem acreditados. Isso é um envolvimento coletivo, pois não é possível receber uma acreditação, seja ela qual for, se não houver um engajamento de todos os setores e equipes da instituição.

Para atingir o resultado esperado é que as melhorias acontecem com a reformulação dos objetivos e das metas, com a revisão dos processos de trabalho, com o treinamento das equipes, com o trabalho em equipe, com as novas experiências e assim por diante.

Neste contexto a Gestão em Enfermagem é parceria indispensável pois está envolvida na maior parte dos processos institucionais para atendimento no cuidado do cliente. Portanto se houver engajamento da Enfermagem para a acreditação, os seus processos serão de excelência e o cuidado entregue de alta qualidade.

 

9 – Quais são as expectativas em relação às inovações e desafios no setor de Enfermagem para 2020?

 A Organização Mundial da Saúde declarou 2020 como o Ano Internacional das Enfermeiras e Parteiras e lançou em todo o mundo a Campanha Nursing Now em parceria com o Conselho Internacional de Enfermagem.

No Brasil ela é divulgada pelo COFEN e objetiva melhorar a saúde das populações elevando o perfil e status da enfermagem em todo o mundo, capacitando enfermeiros para que ocupem seu lugar no centro dos desafios de saúde do século XXI. A iniciativa conta com parceiros de todo o mundo para advogar por mais enfermeiras e enfermeiros em posições de liderança.

Neste contexto, acredito que os novos desafios (crescimento e ampliação da prática de enfermagem frente à novas tecnologias e automação dos ambientes; novas formas de remuneração e reconhecimento; melhores práticas baseadas em evidências; formação de lideranças) e as principais tendências(experiência do paciente; saúde como bem estar; cuidados extra-hospitalares; humanização e ambientes colaborativos) para a saúde no ano de 2020 certamente trarão impacto grande sobre a Enfermagem, que hoje representa cerca de 2,2 milhões de profissionais.

 

10 – Explique quais são essas mudanças que estão por vir.

O movimento constante das fusões e parcerias com a entrada do capital estrangeiro fará com que a Enfermagem reveja e consolide melhores práticas a menor custo e com maior qualidade, ancoradas cada vez mais em evidências científicas e em inovadoras ferramentas de gestão.

A automação de ambientes com a redução da interação humana, a conectividade, e a preocupação cada vez maior com a segurança de dados trarão mudanças nos processos de trabalho, valorizando o cuidado humanizado à beira do leito, com toda a gama de dispositivos para agilizar os processos, preservando o sigilo.

Os recursos tecnológicos como a telemedicina, o telehomecare, as redes sociais, dentre outros, podem ser utilizadas para o ensino e a prática de cuidados, otimizando os custos pela agilidade da comunicação.

A Medicina Baseada em Valor vem discutindo novas e mais adequadas formas de remunerar os prestadores.Construções mais inteligentes serão pensadas com base no perfil epidemiológico e demográfico dos pacientes.

Inclusive a longevidade e as condições crônicas de saúde trazem a necessidade de preparar paciente e família para o autocuidado e a reabilitação. Além disso, os cuidados fora do ambiente hospitalar, como os dos hospitais de transição e o domiciliar, crescerão.

A Atenção Primária será a grande ênfase do cuidado em saúde, expandindo o conceito de bem-estar. E as instituições também têm sua parcela de responsabilidade, pois devem assegurar que os locais de trabalho sejam acolhedores, ofereçam os adequados materiais e equipamentos para a prática segura e dêem suporte para as equipes de trabalho se aprimorarem.

Penso que para a Enfermagem, este novo ano está cheio de desafios, que podem ser superados com a busca cada vez maior do conhecimento.

 

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