“Juntar CNES, DATASUS, ANS e IBGE para viabilizar o verdadeiro BI da Saúde”, por Enio Jorge Salu

Se a empresa não é desenvolvedora de sistemas de informação, Informática é meio … não é fim !

Gestor que não entende isso padece … sempre padeceu e sempre irá padecer !

Tive a honra de conduzir mais um projeto de capacitação para gestores que explica como obter informações sobre recursos físicos (profissionais, estabelecimentos, leitos, equipamentos …) e financeiros (preços, valores de contas, médias de permanência …) nas áreas pública e privada:

  • Desta vez foi uma turma demandada pela Unimed FESP, em que participaram dezenas de gestores de diversas Unimeds do Estado de São Paulo;
  • Este tema me deixa particularmente contente porque o que mais necessitamos no Brasil, seja na gestão do SUS, como na gestão das operadoras de planos de saúde, como na gestão das empresas fornecedoras de insumos para a área da saúde, seja nos serviços de saúde públicos e privados, grandes e pequenos … é que os gestores abandonem o “acho baseado em opiniões de alguém” pelo “tenho certeza baseado em números” !

E temos no Brasil “números a dar com pau”:

  • Bases de dados públicas tanto da área pública da saúde (DATASUS …) como da área privada da saúde (ANS …), como da área pública geral (IBGE …) …
  • Temos publicações das entidades de classe das empresas privadas (UNIDAS, ABRAMGE, CMB, FEHOSP’s …) …
  • Temos publicações de órgãos que representam entidades públicas (CONASS, CONASEMS …) …
  • Informações que podemos mesclar utilizando padrões de comunicação “de fato” como códigos de municípios, procedimentos médicos, ocupação (CBO) …
  • O Brasil avançou muito nisso … avançou tanto que a maioria dos gestores antigos não acompanhou a evolução … e a maioria dos novos não sabe como utilizar adequadamente: têm os dados à mão, mas não aproveitam a oportunidade que eles oferecem !

Porque Gestão é, fundamentalmente, entender o contexto:

  • O que meu cenário específico demanda de informação para o meu planejamento;
  • Onde estão as informações que necessito neste meu cenário;
  • E, principalmente, das informações que tenho, quais os cuidados que devo tomar para definir … para decidir … quais os vieses que as informações têm.

A TI (tecnologia da Informação) banalizou o termo BI (Business Intelligence) como sendo um produto que a gente compra e resolve nosso problema de obtenção das informações “apertando um botãozinho” … “em um clique”:

  • Uma pena que tem gente que ainda acredita nisso … gasta uma fortuna comprando a licença de um BI, e depois de algum tempo percebe que “não está mais tão engessado, mas a fratura continua firme e forte”;
  • Toda vez que necessita de uma informação nova a limitação aparece em forma de ordem de serviço, orçamento … alguma daquelas coisas que “doem no bolso”;
  • E invariavelmente tem que gastar “um monte” para explicar o que quer, e quando recebe não é exatamente o que necessitava porque a interpretação do analista, justificada por um documento devidamente formalizado, foi outra !!

BI não é “um modulo complementar” do sistema que a gente compra, não é um aplicativo que a gente assina … não é “um programinha”:

  • É o desenvolvimento de um cenário de negócios;
  • A definição de uma cadeia de valores e os parâmetros que são utilizados para avaliar a viabilidade e/ou resultado que pode ser obtido se determinadas condições mudarem;
  • A definição das informações que compõem este cenário é de domínio do gestor … ele sabe o que envolve o que está em pauta … ninguém sabe mais do que ele, o que ele necessita;
  • Ele deve saber onde estas informações estão, e as principais que necessita invariavelmente não estão no seu sistema de informação … no seu ERP … no seu HIS … estão lá fora: no mercado;
  • Uma vez bem definido este cenário, a ferramenta que vai explorar os dados e produzir os relatórios, as simulações … “é o de menos” … pode ser uma ferramenta de TI especialmente desenvolvida para “minerar dados”  em bases de dados diferentes (o que a indústria da TI chama de BI), ou uma aplicação escrita pela TI da sua empresa … ou mesmo o velho e conhecido Excel;
  • Na maioria absoluta das vezes “qual a ferramenta” é o menor dos problemas !

E assim trabalhamos esta capacitação … assim trabalhamos o curso:

  • Primeiro discutimos parâmetros básicos de análise de dados na saúde … pública e privada;
  • Então discutimos onde estão as informações que necessitamos nas bases de dados públicas;
  • Passamos a discutir como obter e, principalmente, quais os vieses de cada uma delas;
  • E ilustramos como fazer tabulações de modo que cada conjunto de informações possa ser relacionado … mesclado … “linkado” com os outros através das codificações e padrões que todas elas seguem !

Claro … passamos pela estrutura SIGTAP, para que os mais iniciantes pudessem entender a organização grupo, subgrupo, forma de organização, procedimento … fundamental para tabular informações de repasse do SUS para a rede pública de saúde, da epidemiologia das doenças, dos ressarcimentos das operadoras para o SUS … fortalecendo o conceito de que como o SUS é gigante perto da saúde suplementar regulada, seus dados são mais fidedignos para apurarmos a epidemiologia regional da saúde do que o que apuramos nos relatórios da saúde suplementar, que contém vieses de “contabilidade criativa” !

Para mim, poder discutir com profissionais da área, que conhecem o mercado, como este caso da turma dos gestores da Unimed, que têm experiência em gestão … é uma mistura de satisfação com esperança:

  • Saber que a interação se faz com pessoas que entendem … tem potencial para discutir em um nível onde não é necessário explicar coisas simples como coberturas, modelos de remuneração … dar foco na mineração, análise e simulações que podem ser feitas com os dados;
  • Saber que o que está sendo discutido ali será utilizado imediatamente … na rotina diária deles … para, no caso, dimensionar o credenciamento na rede, comparar a carga da área assistencial da sua Unimed com as outras Unimeds … com as outras operadoras “Não Unimeds” … avaliar potenciais e riscos do mercado em cada região do Brasil …
  • Avaliar tanto o preço do plano como os preços que a operadora para quando compra de terceiros, ou quando vende para terceiros se a sua rede própria também atua como serviço de saúde … algo mais que importante no sistema Unimed em que temos que considerar uma figura que não existe em outras fontes pagadoras: o médico cooperado;
  • Esperança de que quanto mais gestores souberem lidar com isso, as decisões serão mais assertivas … a saúde entregará melhores produtos para quem dela necessita … afinal … é para isso que nós gestores existimos, não é verdade ?

Somente construindo um cenário com parâmetros fortes podemos entender adequadamente o cenário:

  • Qual o público que “compra saúde” privada;
  • Porque não podemos utilizar um mesmo cenário para todas as cidades … para todas as operadoras;
  • Avaliarmos a “epidemiologia” de cada carteira adequadamente, para podermos definir ações com segurança.

Entender definitivamente que saúde suplementar só existe porque o SUS é falho:

  • E principalmente que o SUS não falha igualmente em todas as cidades;
  • Que o SUS não falha igualmente em todas as especialidades;
  • Mapear onde ele é mais falho … porque ali está a maior oportunidade de negócios para a saúde privada.

Estar preparado para lidar com a “geografia econômica da saúde” que define milhares de cenários diferentes no Brasil:

  • É comum lidar com pessoas que não se atrevem a achar que o mercado da saúde em Brasília é diferente do mercado da saúde em Ananindeua … o que é correto;
  • Mas também é comum lidar com pessoas que acreditam que como Cariacica é vizinha de Vitória o mercado é o mesmo, ou muito parecido … o que é um grande erro;
  • Para entender o que é correto ou não, é necessário tabular e avaliar adequadamente os números … não acreditar, ou achar … comprovar com indicadores que dão suporte a decisão mais adequada !

Somente com esta visão … utilizando metodologia adequada … considerando os vieses das informações que colhe, tabula e analisa, o gestor pode:

  • Entender a precificação regional e definir o seu produto em função dos parâmetros regionais;
  • Porque não é possível ter a mesma proporção de leitos, médicos … de qualquer coisa … em todas as localidades;
  • Porque não é possível vender planos de saúde pelo mesmo preço em qualquer cidade brasileira;
  • Porque não é possível para os serviços de saúde praticar o mesmo preço para um mesmo procedimento em qualquer lugar …
  • Porque não é possível acreditar que um modelo de remuneração baseado em valor possa aderir em qualquer cenário !

O mais importante … não é possível o gestor afirmar que não possui informação suficiente para precificar, para dimensionar o serviço, para credenciar …

Em um grupo como este do curso, no Estado mais rico da federação, com gestores das Cooperativas Médicas que formam uma “saúde suplementar particular” com as particularidades que o Sistema Unimed tem em função da relação que o cooperado estabelece entre a fonte pagadora, o serviço de saúde e o médico:

  • É fundamental mapear o que existe, a quem se vincula, “quanto dinheiro” movimenta …
  • Para poder dimensionar adequadamente o plano, os serviços da rede própria, os serviços da rede credenciada …
  • E temos muita informação disponível para isso … basta saber onde estão e como utilizar que o gestor vai fazer bom uso !

Os participantes receberam dezenas de planilhas … mais de 40 !!! … que tabulam dados sobre epidemiologia e infraestrutura da saúde no Estado de São Paulo:

  • Planilhas do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil e de um caso real de prospecção para negócios em uma região metropolitana de outra UF para contrastar com a realidade de São Paulo;
  • Conforme fomos discutindo eles foram entendendo porque só fornecemos estas planilhas nos Seminários Temáticos do Estudo e em cursos como este: a pior coisa que pode ocorrer é um gestor fazer uso dos dados sem conhecer a origem, os vieses …
  • E porque fico tão contente em fornecer as planilhas quando tenho a chance de discutir com os gestores, sabendo que eles tiveram ciência de onde um dado … uma informação … pode ou não aderir a necessidade específica;
  • Reforçando a métrica de que disponibilizar uma ferramenta BI para um gestor sem discutir origem dos dados, vieses, contexto … é um tiro no pé – ele vai tomar uma decisão errada e justificar de forma errada … em muitas situações seria melhor não ter tomado decisão alguma !!

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