Longevidade e os desafios do SUS para a assistência à saúde dos idosos

A expectativa de vida passará de 80,5 anos em mulheres e 73,5 em homens, de 2021, para 84,2 e 77,9 anos, respectivamente, em 2060

Após pressão internacional de organizações científicas e da sociedade civil, a Organização Mundial de Saúde decidiu não classificar velhice como doença, inclusão que poderia impedir a investigação das reais causas de enfermidades, identificando e quantificando as mais prevalentes e permitindo seu melhor conhecimento.

Em 2020, a Assembleia Geral da ONU declarou 2021-2030 como a Década para um Envelhecimento Saudável, assim torna-se importante ressaltar alguns pontos.

A expectativa de vida ao nascer passará de 80,5 anos em mulheres e 73,5 em homens, em 2021, para 84,2 e 77,9 anos, respectivamente, em 2060, e a população de idosos com 65 anos ou mais aumentará de 10,2% para 25,5%.

Estes dados apontam uma conquista social, melhoria das condições de vida e acesso aos serviços de saúde, porém, o envelhecimento deverá produzir demandas que requerem políticas sociais e novas formas de cuidado, com foco na reabilitação física e cognitiva.

A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), em 2019, mostra que 28,7% da população de 65 anos ou mais referiu possuir algum tipo de deficiência e 10,6% dos com 60 anos ou mais tiveram algum tipo de internação hospitalar. Mais além, 78% da população entre 60 e 74 anos e 84% com 75 anos ou mais relataram algum diagnóstico de Doença Crônica Não Transmissível (DCNT).

As DCNTs devem ser encaradas como um problema de saúde pública que podem resultar em incapacidades para as atividades cotidianas e diminuição da qualidade de vida.

Diante deste cenário torna-se urgente avaliar a realidade de saúde desses indivíduos frente às DCNTs e fatores de riscos relacionados a elas e as possíveis perdas funcionais para que o sistema de saúde acompanhe as mudanças que a nova perspectiva possa instruir políticas de saúde e medidas preventivas e de intervenções voltadas para a manutenção da capacidade funcional dessa população.

Nas internações no SUS, 28% ocorreram na população de 60 anos e mais, representando 39% dos valores gastos. Ao projetarmos para 2060, passarão para 62% das internações e 85% dos valores gastos.

No ambulatório, só 0,001% do total de atendimentos ambulatoriais é em saúde do idoso. Isto não significa que o idoso não é atendido, mas sim que este atendimento se dá de forma geral e não em programas próprios para esta população.

Utilizando uma média de 15,86 atendimentos per capta, teríamos de 0,001% para 14,9% do total e se projetamos para 2060 os atendimentos seriam de 32,2% do total. Percebemos também que somente 0,6% dos atendimentos destina-se a reabilitação, que representa 1,6% dos valores gastos.

Para finalizar este cenário do atendimento à pessoa idosa no SUS, percebe-se que encontramos somente 46 centros de referência de atenção à saúde do idoso, o que representa 0,2% de todos os estabelecimentos de saúde no Brasil e estão presentes em 12 dos 26 estados, com uma concentração de 46% deles no Estado de São Paulo e que as unidades de reabilitação são somente 110, ou seja, 0,5% do total.

Esses dados demonstram o descompasso existente entre o atendimento ambulatorial e de internação, a falta de equipamentos de saúde destinados a reabilitação e um atendimento não especializado aos idosos.

Nesse sentido, devemos assumir uma abordagem transformadora na maneira como os sistemas de saúde e os serviços serão planejados para garantir cuidados de alta qualidade, integrados, acessíveis e focados nas necessidades e direitos das pessoas idosas, como atendimento integrado para idosos e pessoas com condições crônicas de saúde.

É urgente pensar no papel da Universidade Pública na formação de recursos humanos especializados, ensino, pesquisa e assistência para um atendimento mais adequado à população idosa e a criação de centros especializados que consigam distribuir conhecimento e cuidado com esta população.

** Artigo escrito pelo Grupo de Trabalho do Centro de Longevidade da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp), formado por: Paola Zucchi, Maykon Anderson Pires de Novais, Maria Aparecida Ferreira de Mello, Frederico Cohrs, Alessandra Paula Ferreira Moreira Neumann, Maria Cecília Martinelli, e Luiz Ramos

 

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