Ao longo das próximas semanas, farei uma sequência de textos abordando um único tema, sob diferentes perspectivas econômicas: as macrotendências entre o Brasil e a Suíça e de que forma esses dois países estão conectados.
Há muito em comum entre esses dois países de diferentes culturas, potenciais e economias. Os desafios a serem enfrentados pelo Brasil e pela Suíça, de alguma maneira, estão alinhados e podem ser analisados de forma conjunta: intensificação da demanda por alimentos e energia, expansão do turismo e entretenimento, urbanização das megacidades, desenvolvimento de infraestrutura com alta tecnologia e inteligência, mudanças nos padrões produtivos, proteções comerciais, envelhecimento populacional e aumento das tensões geopolíticas.
Arrisco dizer que estes serão os principais drives de mudanças dos próximos 9 anos e os grandes entraves que fecharão uma década iniciada de forma inesperada, com o advento da pandemia do Covid-19.
Iniciaremos nossa jornada ao entendimento do futuro que nos aguarda, com um tema de necessidade básica, amplamente discutido, mas cada vez mais contendedor da solução mundial: alimentação e geração e consumo de energia.
Vemos no cenário mundial a demanda por alimentos aumentar a cada década. Sem dúvida, o acesso à água potável e preservação das fontes ainda ocupará por muito tempo o topo dessa lista. Vemos uma grande movimentação para desenvolvimento de tecnologias para dessalinização, investimentos em saneamento e tratamento, técnicas para reutilização e renovação de água e propostas inovadoras para melhorar a distribuição e redução do desperdício. Já as indústrias de alimentos, na busca de se manterem competitivas e aumentar produtividade, desenvolverão cada vez mais alimentos funcionais, com maior prazo de validade e embalagem inteligentes e ecológicas. No campo do agronegócio, a agricultura de precisão deve receber investimento de bilhões de reais, fazendo uso da nanotecnologia, automação e robótica. A digitalização do campo será o marco da próxima década e ampliará o uso dos recursos disponíveis.
Naturalmente, o aumento do consumo energético forçará a busca por energia renovável em todo o mundo, como a energia hidroelétrica, fotovoltaica, biomassa e resíduos. Os investimentos públicos em infraestrutura energéticas alcançará o pico histórico e trará competitividade econômica aos países que fizerem bom uso da digitalização dos sistemas para perfazer a distribuição inteligente do recurso e incentivar com que os consumidores se tornem produtores da sua própria energia. Mais do que nunca, os países desenvolverão baterias e capacitadores para estocar a energia e substituir o uso do lítio.
Dentro desse cenário mundial, o Brasil e a Suíça, por motivos muito diferentes, terão mais desafios do que problemas.
O Brasil, dentro do âmbito da América Latina, se destacará dos demais países, pelo seu alto crescimento populacional e econômico. País que mais investiu no setor de agronegócios e vem se tornando um grande produtor e exportador de alimentos, o Brasil terá a oportunidade de baixar seu custo, aumentar a capacidade produtiva e melhorar a qualidade de sua produção, utilizando por exemplo, tecnologias para aproveitamento da reutilização da água e otimização do uso de terras produtivas.
No setor energético, o Brasil dispõe amplamente das maiores fontes renováveis de energia do mundo: energia solar, capacidade de criar biomassa e energia éolica.
Tudo que abordamos, impacta na saúde das populações dos dois países.
A qualidade dos alimentos será acompanhada de perto por todos, especialmente aqui na Suíça, onde os agrotóxicos não são permitidos, mesmo significando aumento de preços dos produtos, enquanto isso no Brasil, segundo maior importador de agrotóxicos do mundo 12mil toneladas, perdendo apenas para os EUA, em média cada brasileiro ingere 54kg de agrotóxicos por ano.
A Suíça foi o primeiro país mundo que em 2005, que proibiu o uso de organismos geneticamente modificados. Creio que no futuro o Brasil terá que mudar de posição com relação a agrotóxicos se quiser continuar vendendo seus produtos aqui nos países membros da UE que juntamente com a Inglaterra, que paradoxalmente fabricam a maior quantidade de agrotóxicos no mundo, porem não permite a utilização do mesmo em seus territórios mas ainda é tolerante quando importa de outros países.
A busca de saúde deve se fazer mais presente através da telemedicina que tem avançado muito nos últimos anos, inclusive no Brasil. Com o objetivo de reduzir os custos da saúde a utilização da energia e sua otimização para que se garanta fluxo contínuo afim de se preservar e salvar vidas deve receber muito investimentos nos dois países.
Com experiência em multinacionais como Alcoa, Shell e Telefonica, atuou nas principais empresas de medicina de Grupo do Brasil. Com especializações pela FGV em Gestão de Negócios e Marketing de Serviços e MBA em Administração e Gestão de Negócios, atua como CMO da Biomecanica e Grupo Bioscience desde 2012.