O mercado internacional de odontologia pode atingir a marca de US$ 50 bilhões até 2020, segundo a Associação da Indústria Dentária Alemã (VDDI). Na América Latina, o Brasil é o principal mercado, considerado como pouco explorado e em expansão, principalmente com a ascensão da classe média, que passou a investir mais em produtos odontológicos de qualidade e em estética. Além de apresentar resultados relevantes para a economia nacional e internacional no mercado odontológico, o Brasil também se destaca mundialmente por sua produção científica.
De acordo com dados fornecidos pela International Dental Show (IDS), entre 1996 e 2017, o Brasil produziu mais de 21.300 documentos acadêmicos, perdendo apenas para os EUA – que produziu mais de 50 mil publicações no período – e à frente de países altamente desenvolvidos, como Reino Unido, Japão e Alemanha.
Como reflexo de sua relevância e influência neste mercado, o Brasil tem apresentado crescimento constante de participação na IDS – feira do setor odontológico, que acontece a cada dois anos em Colônia, na Alemanha. Em 2017, as empresas brasileiras apresentaram participação 10% maior em relação a edição anterior.
A revista Healthcare Management esteve presente na Press Conference realizada pela IDS, em São Paulo, e conversou com Markus Heibach, diretor da Associação da Indústria Dentária Alemã (VDDI), organizadora da feira, sobre as novas dimensões e perspectivas do mercado odontológico no mundo.
1- Quais são as tendências do mercado odontológico para 2019?
A impressão 3D é considerada uma possível revolução, abrindo possibilidades para novas áreas de aplicação, novas formas de trabalho em equipe e novos modelos de negócios. As tecnologias analógicas continuam a fornecer pré-requisitos essenciais para o laboratório e o consultório. Além disso, processos digitais estão entrando nas subdisciplinas até então tipicamente analógicas da odontologia, como próteses totais ou endodontia.
2- Como o sr. avalia a importância dos procedimentos digitais na odontologia?
Os procedimentos digitais estão facilitando cada vez mais a ortodontia. Com modelos virtuais é possível, por exemplo, além de questões de diagnóstico, criar uma configuração virtual e até mesmo planejar aparelhos ortodônticos (por exemplo, aparelhos fixos). O trabalho em equipe entre o dentista e o técnico de prótese dentária é determinado por inúmeras opções na escala entre “completamente analógico” e “totalmente digital”, em que fluxos de trabalho diferentes e, dependendo dos requisitos clínicos e econômicos, parcialmente digitais, facilitam o dia a dia.
3- Qual a sua análise sobre o que essas inovações estão trazendo para este campo?
Muitos veem mudanças, transformações profundas e disrupções como ameaças, que apresentam um risco existencial elevado, podendo provocar desconforto e inquietações. Por outro lado, isso também oferece muitas possibilidades para desenvolver novidades e implementar ideias até então impensáveis em produtos e prestações de serviços. Precisamos aproveitar estes momentos para questionar o que já existe e usar as oportunidades de prestar nossa contribuição específica para o progresso.
4- Atualmente, qual a região mais forte do mercado odontológico?
O mercado mais forte é a Europa Ocidental, que está apresentando um desenvolvimento muito positivo. Dentre as empresas interrogadas pela Associação da Indústria Dentária Alemã (VDDI), em uma pesquisa, 51% relataram aumento no faturamento em 2017. Outras 40% tiveram um faturamento anual inalterado em comparação com o ano anterior.
5- E como se posiciona a América do Sul e Central?
De acordo com a nossa pesquisa, as regiões de vendas da América Central e do Sul tiveram uma tendência de desenvolvimento um pouco mais fraco do que as outras regiões de exportação. Apenas um terço dos interrogados pôde registrar um aumento no faturamento nessas regiões. Por outro lado, 58% das empresas da região registraram um faturamento estável. Outros 9% sofreram um declínio nas exportações.
6- Esta pesquisa traz dados de outras regiões do mundo?
Sim. Constatamos que no Extremo Oriente, 55% das empresas registraram crescimento e um terço alcançou um faturamento no nível do ano anterior. Já no mercado norte-americano, 46% dos participantes da pesquisa puderam expandir as suas atividades comerciais, e outros 39% relataram faturamentos no nível das vendas de 2016.
7- E como o sr. avalia o Brasil no campo da Odontologia?
O Brasil é muito similar à Alemanha. A indústria tem uma longa história no campo da odontologia. Há uma grande conexão entre as pesquisas odontológicas e as pesquisas científicas e também é possível observar um desenvolvimento na concorrência entre os laboratórios odontológicos. Vale destacar a forte presença brasileira no IDS. Recebemos cerca de 4.500 visitantes da América Latina, sendo que quase dois mil desses são do Brasil.
8- Como foi o avanço da indústria odontológica alemã nos últimos anos?
Em 2017, cerca de 200 empresas afiliadas da VDDI empregaram mais de 20.700 pessoas na Alemanha e no exterior. Assim, o número de funcionários aumentou em quase 3% em comparação com 2016. No ano de 2017, as empresas afiliadas da VDDI tiveram um faturamento total de quase 5,3 bilhões de euros. Este é um aumento de quase 5% em comparação com o resultado de 2016. Dessas vendas, cerca de 3,4 bilhões de euros foram gerados no mercado externo (+ 5%). Ainda, em 2017, a indústria odontológica alemã registrou uma cota de exportação de quase 64%.
9- Quais são as expectativas de crescimento deste mercado?
De acordo com nossa pesquisa, mais da metade dos membros da VDDI espera que as vendas domésticas aumentem em 2018. A nossa indústria odontológica apresenta uma taxa de exportação de 64%. Todas as empresas que estão presentes nos mercados mundiais altamente competitivos querem continuar assim a longo prazo e devem, agora, investir consideravelmente em instalações de produção, na logística e na comunicação com e para os clientes finais. Na Alemanha, 53% das empresas interrogadas esperam um aumento de vendas e 45% um faturamento no nível do ano anterior.
10- Como o sr. avalia a participação de empresas brasileiras na IDS?
A IDS é uma grande oportunidade para profissionais e empresas brasileiras de se encontrarem e se relacionarem com players que apresentam o que há de mais modernos no mundo da odontologia. Em 2017, nós recebemos 41 expositores e 1.909 visitantes do Brasil em Colônia. O aumento gratificante de expositores e visitantes em comparação com 2015 confirma a forte atração da IDS e uma maior presença da indústria odontológica do Brasil no mercado mundial.
Esta matéria foi publicada na 57ª edição da revista Healthcare Management.