“O Brasil avançou rapidamente em sua transição demográfica e epidemiológica, mas ainda retarda na transição de suas políticas de saúde, que mantém as mesmas características desde a década de 1960.” Essa é a visão de Carlos Costa, CEO da Clínica de Transição Paulo de Tarso, sobre o atual sistema de saúde brasileiro.
O gestor explica que o sistema atual se caracteriza por obter componentes isolados, se organiza de forma hierárquica e é completamente voltado ao indivíduo. “A ação é reativa e com ênfase em reações curativas. Não há coordenação entre os pontos de atenção, ou seja, é um sistema organizado para doenças agudas e emergências, sem suporte para a parcela da população que possui doenças crônicas, que já representam quase 75% da carga de doenças no Brasil.”
Além disso, do ponto de vista econômico, Costa observa que, apesar das verticalizações permitirem uma redução dos custos, elas não diminuiem a demanda de saúde e isso leva à contínua elevação do custo da cadeia de saúde como um todo.
“Se achávamos que a verticalização poderia ser uma resposta ao desperdício e representaria uma melhor assistência e integração entre as especialidades, nos enganamos. Em alguns casos, esse modelo aprofundou o abismo de não comunicação entre os profissionais, criando metas específicas que, em muitos casos, não visam a manutenção de funcionalidade e nem promovem bem-estar, independência e autonomia dos pacientes. Se somarmos a isso a mudança dos cenários demográfico e epidemiológico, ao aumento da sinistralidade no público idoso, à não observância de metas assistenciais claras e à fragmentação do paciente em um modelo de fee for service, constatamos um aumento no custo sem resultado efetivo ao usuário”.
E completa: “A consequência é o aumento de taxas de reinternações, de judicializações por descontinuidade de cuidados, de desperdício de exames e procedimentos desnecessários, falta de leitos para atendimento de quadros graves e uma crescente insatisfação da população com a cadeia de saúde.”
O ponto levantado por Costa relacionado à taxa de reinternações pode ser resumido em uma simples sentença: A pessoa pode ter tido a vida salva em um serviço geral de alta complexidade e sair extremamente grata, mas como será a sua jornada pós-alta, já que para ser sustentável os serviços de alta complexidade necessitam obter um giro de leito cada vez menor, variando entre dois a cinco dias de internação?
“Será que passados 20 dias de sua alta o paciente não vai precisar retornar para o serviço de urgência, porque não foi devidamente preparado para o retorno ao domicílio? Será que os familiares terão condições de cuidar do enfermo e adaptar a residência para recebê-lo? Não adianta pegarmos um paciente de baixa complexidade e colocar dentro do pronto-socorro ou hospital geral, porque não será eficiente e nem sustentável a longo prazo.”
É para suprir essa necessidade que surgem hospitais e clínicas de transição, como a Clínica de Transição Paulo de Tarso, que age no acolhimento de pacientes em processo de recuperação. Ou seja, naquele período após a saída do hospital geral, em que o paciente ainda está debilitado funcionalmente, e não está totalmente preparado para voltar para casa, ele necessita de intensidade de cuidados, mas para a reabilitação e readaptação, cuidados prolongados que os hospitais gerais não têm como prestar porque não foram concebidos para isso. Daí a necessidade de organizar e integrar o sistema. “Somos o elo que faltava no sistema de saúde para conseguirmos estabelecer uma melhor coordenação do cuidado e gerar real valor assistencial.”
Esse modelo de transição de cuidados é muito utilizado na Europa, em que a parcela da população idosa é maior e, segundo Vinícius Lisboa, diretor técnico da Rede Paulo de Tarso, vem para preencher essa lacuna entre hospital geral e a volta para casa, tendo uma estrutura mais adequada do ponto de vista assistencial e de negócio, gerando resolutividade e economia.
Antes da pandemia da COVID-19, mais de 60% dos serviços de pronto atendimento no país já permaneciam constantemente lotados, sem contar que muitos pacientes, após alta de hospitais gerais, são colocados direto no home care apenas com manutenção de cuidados, perdendo a oportunidade de resgatar a funcionalidade e autonomia perdidas durante a fase aguda de uma doença.
Lisboa observa que, ao desafogar o hospital geral e disponibilizar leitos para pacientes agudos, essas instituições de transição geram economia para o sistema de saúde. “É possível auxiliar na rotatividade de leitos das instituições gerais e ajudar o paciente em um ambiente especializado, seguro e humanizado, então todos se beneficiam.”
Carlos Costa, CEO da Clínica de Transição Paulo de Tarso, ressalta um ponto fundamental: clínicas ou hospitais de transição não são concorrentes dos hospitais gerais, mas complementares para um sistema de saúde mais completo, funcional e sustentável.
“A proposta não visa somente a cura da doença, mas coloca o paciente e sua família como unidade de cuidado, tratando de forma certa, no tempo correto e local adequado. Com qualidade, segurança e suporte, poderemos oferecer uma assistência de valor dentro de uma linha de cuidado horizontalizada que permita uma assistência não só integrada, mas integral, de ponta a ponta. É urgente a necessidade de evoluir para um sistema organizado em redes que integra novos serviços especializados que abrangem soluções para condições crônicas e se volta, não para indivíduos, mas para a população, com ações integradas de prevenção, cura e reabilitação”, explica Costa.
Assistência ao paciente pós-Covid-19
A Clínica de Transição Paulo de Tarso desenvolveu o Programa de Cuidados Continuados Integrados Pós-Covid-19, que visa devolver a autonomia e funcionalidade existentes antes do adoecimento. “Nos últimos meses, constatamos um aumento de 40% na busca por atendimentos de reabilitação e estamos muito otimistas por poder ajudar mais pessoas nesse período difícil”, compartilha Costa.
Para continuar esse trabalho e conseguir atender a alta demanda, a Clínica inaugurou uma nova unidade de Cuidados Continuados. “Se não obtivermos estruturas que ofereçam condições de reabilitação e equipes especializadas para entender todas as variáveis que estão por trás das doenças crônicas, teremos muita dificuldade para devolver a autonomia, funcionalidade e, principalmente, a qualidade de vida dessas pessoas.”
Diante da importância das clínicas e hospitais de transição no sistema, o CEO da Clínica de Transição Paulo de Tarso acredita que, se houvesse uma quantidade maior dessas instituições, gastos seriam evitados com hospitais de campanha construídos durante a pandemia. “Se tivéssemos um sistema de saúde mais organizado e integrado, o dinheiro despendido com hospitais de campanha poderia ter sido direcionado para a compra de insumos para o combate da pandemia.”
Rede Paulo de Tarso
A Rede Paulo de Tarso é composta pela Clínica de Transição Paulo de Tarso, localizada em Belo Horizonte. Sua estrutura tem 112 leitos, oferecendo internação e atendimento ambulatorial em três linhas de cuidados: crônicos, de reabilitação e paliativos.
A Instituição adota um modelo de remuneração baseado em valor, em que o compromisso com desfechos clínicos favoráveis é compartilhado com as fontes pagadoras através de programas e metas terapêuticas claras. Conta também com especialistas que tem como foco a gestão de riscos, redução de iatrogenias e capacitação de familiares, cuidadores e paciente.