“O 5G será estratégico para inovação e democratização do acesso à saúde”, por Giovanni Guido Cerri

Projeto do InovaHC levará cirurgia robótica ao centro cirúrgico; avanços precisam chegar a toda a população

A velocidade 5G nas telecomunicações está perto de se tornar realidade no Brasil. No mundo, cerca de 1,6 mil cidades, em 65 países, já estão na quinta geração da internet móvel.

Nós, brasileiros, não fazemos parte da lista, mas faremos em um futuro próximo. Nem poderia ser diferente: economia global e avanços nas telecomunicações formam hoje uma entidade única.

Não há setor de produção ou prestação de serviços que, ainda sem uma versão ou parte de sua atividade em formato digital, não esteja preparando uma. E a área da saúde tem mostrado que o 5G será estratégico.

Por exemplo, vai ser possível realizar exames de imagem com qualidade cada vez maior, uma vez que a transmissão das imagens será feita muito mais rapidamente.

Enviar resultados de exames assim vai ajudar a acelerar a tomada de decisão por parte de médicos e equipes. O paciente terá uma experiência melhor, assim, uma vez que seu tratamento poderá se tornar mais ágil.

Mas essa é apenas uma aplicação, de inúmeras possíveis, na saúde. Outro exemplo será a capacitação de profissionais: com mais velocidade, cursos, seminários, simpósios e eventos de divulgação de conhecimento. Serão muito mais ricos, com possibilidades mais amplas de divulgação de novas pesquisas.

Mas a aplicação que talvez mais se pareça com algo vindo direto das páginas da ficção científica é a cirurgia robótica – e nesta área, o Núcleo de Inovação Tecnológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (InovaHCFMUSP) – já dá seus primeiros passos.

Uma parceria com as empresas Claro, Embratel, com participação da Ericsson e de startups como a NuT, de Natal (RN), vai fazer com que essa modalidade de cirurgia seja realizada no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp).

O Hospital das Clínicas (HCFMUSP) será, assim, o primeiro hospital público do Brasil a fazer uso da velocidade 5G de internet móvel.

O projeto consistirá em integrar informações de monitoramento do paciente cirúrgico em uma base a que a equipe médica terá acesso de forma remota.

Poderão acompanhar, por exemplo, pelos telefones celulares. Como segurança de dados é um item sempre no topo da lista quando se fala em saúde digital, o projeto, como não poderia ser diferente, levou isso em conta: as informações do paciente serão anonimizadas – ou seja: não será possível identificar a que paciente se referem.

Essa inovação, claro, não existirá isolada: será parte de um ecossistema, que vai integrar 5G à IoT – a chamada “internet das coisas”.

Mais procedimentos, mais tratamentos e mais assistência médica poderão ser feitos e prestados de forma remota.

O Brasil ainda tem, claro, que viabilizar a operação do 5G. Já foram realizados leilões, e os investimentos em infraestrutura devem ganhar fôlego.

Será uma oportunidade de desenvolver tecnologia no país e de aumentar as receitas. Um estudo divulgado no último dia 19 pelo Ministério da Economia mostra que a demanda por soluções 5G nas muitas áreas da economia em que a velocidade maior da internet móvel terá uso pode gerar R$ 101 bilhões pela próxima década para empresas e startups brasileiras, ou que operem aqui.

É preciso pensar, também, em tornar o acesso a essa nova velocidade mais igualitária no país.

Em tempos de inflação de novo em alta, atingindo preços de alimentos, energia elétrica, gás de cozinha e outros itens essenciais, serviços de internet móvel podem representar um peso extra, com o qual nem todas poderão arcar.

Muitas escolas do país carecem até mesmo de computadores. Desfazer essa desigualdade tem que ser prioritária, para que a internet mais rápida não seja excludente.

Os serviços de saúde sempre tiveram uma ligação próxima com avanços tecnológicos, e a realidade digital vai ampliar e aprofundar cada vez mais essa ligação.

O InovaHC já tem preparado um passo importante nessa integração, que tem potencial para fazer com que o acesso à saúde seja cada vez mais igualitário para os brasileiros.

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