Walter Cintra analisa setor da Saúde e gestão federal no combate a pandemia do novo coronavírus
Em 30 de janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou emergência internacional relacionada à Covid-19 como ameaçava grave à vida da população mundial. Após mais de 18 meses desde a declaração, o Brasil se encontra com números alarmantes de mortes com a doença, enquanto seus governantes são avaliados pela CPI da Covid-19 para apuração de falhavas na condução da pandemia.
Analisando a situação do Setor da Saúde no Brasil, a HCM conversou exclusivamente com o Médico sanitarista da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo e Professor de Administração Hospitalar e de Sistemas de Saúde FGV EAESP, Walter Cintra.
Gestão bolsonarista
Para o professor, o combate à pandemia no Brasil se transformou em uma disputa política e promoveu a divisão e a radicalização da sociedade civil.
O professor credita a falta de gestão de Bolsonaro à ineficiência do Ministério da Saúde no combate à pandemia do novo coronavírus, que passa pelo quarto comando desde o início do mandato do presidente.
“O atual ministro Marcelo Queiroga, assim como seus antecessores, Mandetta e Teich, tem a missão impossível de conciliar o inconciliável, que é a visão obscura e criminosa do presidente da república e a necessidade de realizar as ações de combate à pandemia.”
No entanto, Cintra não inclui nesta lista de dificuldades administrativas o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. “Este estava lá para cumprir as ordens do capitão. Espero que o general e o capitão (Bolsonaro) venham a responder pelos crimes que cometeram.”
Qual a saída?
“O que precisamos fazer é impedir que o vírus circule. Quanto mais o vírus circular mais pessoas ficarão contaminadas e doentes e maior será a probabilidade de surgirem variantes do vírus mais perigosas e mais resistentes à vacina.”
O professor ressalta que não há medicação preventiva para o Covid-19. “A única forma eficiente de combater a pandemia é reduzir o número de novos casos.”
Para o médico, a gestão da pandemia deve ser realizada com base no que a ciência diz, como o uso de máscara, higienização das mãos e distanciamento social.
Outra medida importante é a testagem das pessoas com suspeita da doença e o rastreamento dos contactantes. “Essa é uma ação de campo que os serviços de saúde têm que fazer. Testar, identificar e colocar em quarentena as pessoas com suspeita de Covid. E claro, o que deveríamos estar fazendo é a vacinação o mais rápido possível.”
Público e privado na pandemia
Como consequência da disseminação da Covid-19, o SUS está sobrecarregado, com o alto número de pacientes e dificuldades nos atendimentos.
“Creio que ficou claro que sem SUS, mesmo com todas as dificuldades e precariedades, o horror que estamos enfrentando seria muito pior.”
Para o professor, é preciso que haja uma redefinição do papel do Sistema de Saúde Suplementar, que, hoje, atua como um concorrente do SUS, gerando conflito de interesses. “Será que uma pessoa que paga um plano privado de saúde continuaria pagando se o SUS atendesse plenamente as suas necessidades assistenciais?”
Por outro lado, Cintra ressalta que o “SUS é o responsável pela realização dos procedimentos de alto custo que não são cobertos pelas operadoras de planos privados de Saúde.”
Neste imbróglio, o setor privado é beneficiado pela renúncia fiscal, o que significa o compartilhamento dos custos por todos em benefício de poucos.
“O caminho é fazer que o sistema privado realmente seja um complementar ao SUS como está previsto na Constituição Federal, e que passe a dar a mesma cobertura que o SUS oferece sem o benefício da renúncia fiscal.”