De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Segurança do Paciente é um princípio fundamental de cuidado de saúde. Estudos mostram números expressivos de pacientes que foram gravemente afetados por falta de cuidados de saúde, resultando em lesões permanentes, tempo excessivo de internação e em muitos casos, até mesmo a morte.
Em países de média e baixa renda, diversos fatores desfavoráveis contribuem para um atendimento inseguro e ineficiente ao paciente, como a falta de assistência médica, falta de estruturas adequadas e a superlotação, falta de quadro técnico qualificado, falta de higiene e de saneamento básico, falta de mercadorias, de equipamentos tecnológicos adequados e a escassez de produtos básicos. Embora os sistemas de saúde podem variar de país para país, muitas ameaças à segurança do paciente têm causas semelhantes e soluções similares.
Estima-se que ocorrem cerca de 421 milhões de internações/ano no mundo e que aproximadamente 42,7 milhões de pacientes são prejudicados por Eventos Adversos (EAs) durante essas internações, provocados por procedimentos inadequados e/ou ineficazes de cuidados de saúde.
Atualmente as notificações envolvem situações que dependem da cultura da Segurança do Paciente dos profissionais de ponta, da capacidade de identificação dos EAs além da notificação dos EAs pelos profissionais. A tecnologia na saúde influenciará além da identificação dos EAs também na qualidade e na segurança das notificações de EAs.
Um grupo suíço publicou pela BMC Health Services Research, no segundo semestre de 2018, um artigo referente a Eventos Adversos em pacientes hospitalizados de 27 países, em 6 continentes.
Esse artigo aplicou o método de revisão de prontuários médicos com base na abordagem “Harvard Medical Practice Study” usando a ferramenta do GLOBAL TRIGGER TOOL, para identificar gatilhos de informações que sugerem EAs nos prontuários em hospitais de cuidado intensivo para pacientes acima de 18 anos.
A variação de EAs foi de 3% até 22% em pacientes internados. E a média é de que 10% de pacientes hospitalizados podem ou estão sofrendo EAs, sendo que 1 em cada 14 desses EAs resulta em fatalidade (7,3%).
Em relação ao perfil dos EAs, o artigo apresentou que a principal origem deles ocorreram durante procedimentos cirúrgicos, 40%, o que significa que 4 em cada 10 dos EAs vieram de um procedimento cirúrgico. De acordo com a OMS, EAs causados por erros médicos são a terceira causa de mortes nos Estados Unidos.
Em segundo lugar estão os EAs causados por erros de medicação, 19% (sendo que outras fontes apresentam um valor de 30%), ficando em terceiro lugar as infecções, com 18%. O estudo apontou também que 51% dos Eventos Adversos foram considerados evitáveis.
De acordo com a OMS, o custo estimado associado aos erros de medicação é de US $ 42 bilhões por ano no mundo. Esses erros ocorrem devido a sistemas falhos de medicação e/ou por fatores humanos, como fadiga, condições ambientais precárias ou falta de pessoal que afetam as práticas de prescrição, transcrição, dispensação e administração de medicamentos. Os erros podem ocorrer em diferentes estágios do processo de uso de medicamentos.
O Terceiro desafio global da Segurança do Paciente pela OMS é medicação sem danos.
Estudos sobre custos médicos associados à carência em cuidados hospitalares mostram que mais tempo no hospital, infecções adquiridas durante internação, deficiência na assistência médica e custos com processos, custaram entre US $ 6 bilhões e US $ 29 bilhões por ano. Nos Estados Unidos, morrem 200.000 pacientes por ano devido a erros da assistência hospitalar.
Evidências disponíveis pela OMS mostram que 15% das despesas hospitalares na Europa são atribuídas ao tratamento de acidentes de segurança. Deste modo, estima-se que o custo agregado ao dano, tendo em vista a capacidade perdida de produtividade de pacientes e familiares afetados, chega a trilhões de dólares todos os anos. Se comparado a esse valor, o custo de prevenir esses erros é insignificante.
Para evitar a continuidade e a evolução deste cenário, a atenção dos hospitais na Segurança do Paciente deve ser encarada como um investimento e não como um gasto. Nos Estados Unidos, o foco em melhorias de segurança levou a uma economia de US $ 28 bilhões somente em hospitais do Medicare, entre 2010 e 2015.
Dados detalhados e qualificados sobre EAs são na maioria das vezes limitados e/ou insuficientes para a sua correta identificação e podem estar ligados a diversos fatores como a falta de capacidade técnica para a identificação, erros de notificação, falta de equipamentos adequados e a própria cultura disseminada pelo Hospital em relação à Segurança do Paciente.
Deste modo as características dos hospitais como os tipos de pacientes, perfis de complexidades e até mesmo questões do ponto de vista estrutural do hospital devem ser levados em conta.
A medicação é uma das principais causas evitáveis de lesões e danos ao paciente. Os investimentos na prevenção de erros relacionados a medicamentos podem resultar em ganhos significativos na redução de Eventos Adversos, poupando milhares de pessoas, além de baixar expressivamente os custos com erros relacionados aos medicamentos.
Gestores devem medir e analisar os valores e relacioná-los com os resultados encontrados em seus indicadores e relatórios. Sempre na busca de tecnologias e soluções para atingir suas metas e assegurar aos seus processos maior qualidade, que gera mais eficiência e, sobretudo, a Segurança do Paciente.
É possível dizer que ter qualidade deixou de ser um diferencial e se tornou requisito obrigatório.
O gráfico abaixo apresenta que os investimentos em melhorias da qualidade também devem ser gerenciados para que se tenha retorno: equilíbrio na redução de falhas e no custo com a qualidade.
A curva verde (Custo de não ter qualidade) esses custos são referentes a falhas, desperdícios e retrabalhos. É muito importante reduzir custos, mas as avaliações nos processos e as prevenções das falhas não podem reduzir sua eficácia para não diminuir o nível de qualidade do hospital.
A curva azul (Custo de desenvolver qualidade) à medida que se investe em melhorias da qualidade se busca o aumento do nível da qualidade e a diminuição as falhas, porém deve-se sempre analisar os custos com qualidade, pois eles tendem a aumentar após atingir o nível de equilíbrio.
Na curva vermelha (soma das duas curvas) aparece o ponto de equilíbrio.
Quando se investe pouco em qualidade os custos são altos com falhas e retrabalhos, mas à medida que se investe em qualidade, diminui os custos com erros e aumentam os custos com inspeções. Quando se atinge o ponto de equilíbrio, se continuarem os investimentos na qualidade os gastos serão expressivos para resultados pequenos na redução das falhas aí é necessária atenção para mitigar o investimento em qualidade que gera pouco resultado.
O ponto ótimo é quando os investimentos da qualidade diminuem as falhas, mas os gastos com inspeções não são desnecessários.
Conhecer a realidade da não qualidade do Hospital apresenta onde ele perde pela falta de qualidade. Mas com uma Política da qualidade que têm os seus objetivos bem definidos e implementados faz da qualidade um propósito do dia-dia e estabelece controles onde é necessário o que traz confiabilidade e segurança em seus processos.
Assim sendo ações adequadas de qualidade são necessárias, pois o aumento da qualidade reduz a não qualidade.
Com isso a atenção para a qualidade previne falhas evitáveis como os erros de medicação, além de evitar altos custos com falhas internas, retrabalhos, desperdícios, insatisfação dos clientes e poupar milhares de vidas.
Daniela Faria – Farmacêutica CRF/SP 51.617
Gerente de Segurança do Paciente – Opuspac Ltda
Link Artigo texto completo no Blog: https://opuspac.com/br/artigos/custo-da-nao-seguranca-do-paciente/